Joe Biden parte para a tentativa de reeleição numa posição complicada: com uma taxa de aprovação de 40%, é o presidente em funções a buscar um segundo mandato com menor popularidade desde a II Guerra Mundial, estando ligeiramente abaixo do valor de aprovação que tinham Trump (43%) e Obama (47%) em períodos homólogos.

Desde setembro do ano passado que Biden surge consistentemente atrás de Trump nas sondagens para novembro, ainda que, nas últimas três semanas, o presidente tenha recuperado alguns pontos e apareça tecnicamente empatado no duelo com o seu antecessor.

A pouco mais de 200 dias da eleição mais importante de todas neste 2024 de todos os atos eleitorais um pouco por todo o mundo, o duelo Biden/Trump está basicamente empatado.

A última sondagem Forbes/Harris aponta mesmo para 50-50. Na Quinnipiac Biden está três pontos à frente (48/45); na FOX Trump surge com cinco pontos de vantagem (50/45); na Morning Consult Trump tem mais um (44/43), tal como na Emerson (46/45); no NPR/Marist Biden surge dois pontos à frente (50/48); no Data for Progress Biden está com mais um (47/46); na Reuters/Ipsos o democrata surge com mais quatro (41/37) e na TIPP Biden também lidera, com mais três pontos (43/40).

O discurso do Estado da União, realizado há um mês, teve grande aceitação e parte do dinheiro da campanha Biden, desde aí, está a ser aplicado em anúncios com ideias fortes passadas nesse momento, especialmente nos estados decisivos.

Super PAC ligadas aos sindicatos e a comités de ação de defesa de minorias prometeram 230 milhões para anúncios de Biden nos meses decisivos de setembro e outubro, só para os sete estados que deverão ditar o resultado final: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia, Arizona, Carolina do Norte e Nevada.

Parte do dinheiro habitualmente gasto nos anúncios televisivos está a ser transferido para o YouTube e para o TikTok, no sentido de agarrar o voto jovem, perante sinais repetidos de que Biden estará com problemas nesse segmento. Os estrategas da campanha Biden acreditam que bastará fixar a grande maioria dos 81 milhões que votaram Biden em 2020 para voltar a ganhar.

A estratégia Biden está em plena fase de correção, depois de alguns meses aparentemente perdidos. A ideia forte será a de explicar aos eleitores que o risco de Trump voltar à Casa Branca põe mesmo em causa a democracia. Nas intercalares de 2022, isso funcionou. Desta vez, com Trump e não apenas os seus candidatos a aparecer nos boletins, o argumento pode ganhar ainda mais força.

A campanha Biden arrecadou muito mais dinheiro que a campanha Trump até agora. No acumulado disponível, o lado Biden tem mais 30 milhões que o de Trump. Nos grandes contribuidores (acima de 200 dólares), a diferença não é muito grande: 73,1 para 61,6 milhões. Mas nas pequenas contribuições a diferença é enorme: 60/34. As pequenas contribuições são 45% do total Biden. Será difícil que isto não vá ter alguma consequência no terreno, embora não diga tudo.

Enquanto isso, Trump tenta livrar-se da multa de 464 milhões de dólares por fraude civil de que foi condenado - e mesmo que a consiga reduzir, isto mostra-nos como o dinheiro, por capricho do destino, pode ser um grande problema para o multimilionário Donald, no seu caminho até novembro.

Durante os anos Reagan, a inflação nos EUA estava nos 18%. Hoje, com Biden, está nos 3,15% (e possivelmente a descer). Com Reagan a taxa de desemprego, pelos Anos 80 do século passado, estava nos 9%. Hoje é pouco mais de um terço disso.

A Economia americana criou 303 mil novos postos de trabalho em março (muito acima dos 200 mil esperados pelo Dow Jones). A taxa de desemprego baixou para os 3,8% e os salários subiram 0,3% no mês e 4,1% em termos anuais. O setor da Saúde contribuiu com 72 mil novos empregos, a seguir Governo/Administração federal (71 mil), lazer e turismo (49 mil) e construção (39 mil).

No entanto, grande parte dos americanos associa a Reagan mais sucesso económico do que Biden, enquanto presidentes de duas fases tão diferentes da América. É a armadilha da perceção económica.

Janet Yellen, secretária do Tesouro da Administração Biden, é clara: “A economia americana está a disparar a todo o vapor. Os consumidores estão a sentir isso nas carteiras”.

Na última sondagem New York Times/Siena, apenas 26% dos inquiridos descrevem as atuais condições económicas como excelentes ou boas, em comparação com 74% que dizem que são apenas razoáveis ou más. Isto representa uma melhoria modesta em relação a meados do ano passado, mas é muito baixo para o que, na verdade, está a acontecer.

Ou será que a “realidade” é só o que sentimos?

Entre os eleitores da classe trabalhadora (não-universitários), os sentimentos são particularmente negativos: apenas 20% têm uma visão positiva das condições económicas.

Os eleitores são mais positivos em relação à sua situação financeira pessoal, divididos entre excelente/bom e apenas razoável/mau. Mas é muito mais provável que digam que as políticas de Biden os prejudicaram pessoalmente (43%) do que os ajudaram (18%) e que as políticas de Trump os ajudaram pessoalmente (40%) em vez de os prejudicarem (25%).

Menos de um quarto (23%) acredita que a economia está melhor do que há um ano e menos de um quinto (19%) crê que está melhor do que há quatro anos.

E as perceções dos eleitores são muito negativas numa vasta gama de áreas económicas: preços dos alimentos e bens de consumo (88% apenas razoáveis ou pobres); o mercado imobiliário (79%); preços do gás (83%); e salários e rendimentos (70%).

Em todas estas questões económicas, as opiniões dos eleitores da classe trabalhadora são claramente mais negativas do que a dos eleitores em geral.

Na última sondagem da CBS News, apenas 23% dizem que a sua situação financeira pessoal melhorou nos últimos anos, em comparação com 55% que dizem que piorou (29% dizem que não houve mudança). Durante a presidência de Trump, 65% dos inquiridos caracterizam-na como boa e não-má, enquanto a economia de Biden é vista como má por 59%.

Na última sondagem do Wall Street Journal, 57% dos eleitores acreditam que a economia piorou em vez de melhorar nos últimos dois anos. 68% acreditam que a inflação seguiu na direção errada durante o ano passado (isto apesar de os factos mostrarem que o caminho de redução foi até mais rápido do que se esperava…), 50% que a sua situação financeira pessoal tomou a direção errada e 65% que a capacidade do cidadão comum para progredir seguiu na direção errada.

Chega a ser difícil de compreender, mas torna-se impossível de ignorar: Biden tem uma presidência muito bem-sucedida no desempenho económico, mas, pelo menos para já, corre o risco de ser penalizado eleitoralmente por fatores de perceção económica.

Está visto: a estratégia de reeleição de Biden precisa mesmo de continuar em rota de correção.

QOSHE - Estratégia Biden em fase de correção - Germano Almeida
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Estratégia Biden em fase de correção

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14.04.2024

Joe Biden parte para a tentativa de reeleição numa posição complicada: com uma taxa de aprovação de 40%, é o presidente em funções a buscar um segundo mandato com menor popularidade desde a II Guerra Mundial, estando ligeiramente abaixo do valor de aprovação que tinham Trump (43%) e Obama (47%) em períodos homólogos.

Desde setembro do ano passado que Biden surge consistentemente atrás de Trump nas sondagens para novembro, ainda que, nas últimas três semanas, o presidente tenha recuperado alguns pontos e apareça tecnicamente empatado no duelo com o seu antecessor.

A pouco mais de 200 dias da eleição mais importante de todas neste 2024 de todos os atos eleitorais um pouco por todo o mundo, o duelo Biden/Trump está basicamente empatado.

A última sondagem Forbes/Harris aponta mesmo para 50-50. Na Quinnipiac Biden está três pontos à frente (48/45); na FOX Trump surge com cinco pontos de vantagem (50/45); na Morning Consult Trump tem mais um (44/43), tal como na Emerson (46/45); no NPR/Marist Biden surge dois pontos à frente (50/48); no Data for Progress Biden está com mais um (47/46); na Reuters/Ipsos o democrata surge com mais quatro (41/37) e na TIPP Biden também lidera, com mais três pontos (43/40).

O discurso do Estado da União, realizado há um mês, teve grande aceitação e parte do dinheiro da campanha Biden, desde aí, está a ser aplicado em anúncios com ideias fortes passadas nesse momento, especialmente nos estados decisivos.

Super PAC ligadas aos sindicatos e a comités de ação de defesa de minorias prometeram 230 milhões para anúncios de Biden nos meses decisivos de setembro e outubro, só para os sete estados que deverão ditar o resultado final: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin,........

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