Por natureza, o funcionamento dos regimes democráticos implica a existência de alternativas políticas: partidos, projetos, figuras capazes de convencer os eleitores de que existe um caminho melhor para o país.
Esta capacidade, em conjunto com a responsabilidade de escrutinar a atividade governativa, são funções primárias que se exigem da oposição. Espera-se tanto uma postura combativa, como capacidade propositiva.
O problema? Em Portugal, esse espaço tem estado praticamente deserto.
A liderança de Pedro Passos Coelho tinha puxado o PSD muito para a direita, quebrando definitivamente com a orientação social-democrata herdada de Sá Carneiro. Apesar de lhe ter sucedido Rui Rio, mais moderado, a radicalização ideológica do PSD estava feita.
É daí que advêm as maiores dificuldades internas de Rui Rio. Liderando um partido agora dominado por um aparelho ideologicamente alinhado com o passismo, não lhe deram tréguas até o derrubarem.
Rui Rio revelou-se um resistente, mas a sua liderança foi demasiado longa para conter os ímpetos de um partido e de um eleitorado entretanto radicalizados. E cometeu um erro, que se revelou fatal (vindo de quem menos se esperava a cedência nos princípios), ao patrocinar o acordo do PSD com a extrema-direita nos Açores, apenas por sede de poder.
Entre 2017 e 2019, tinham surgido três partidos de direita: IL, Aliança e Chega. O ultraliberalismo e algum conservadorismo frustrado no PSD de Rio encontrou assim outras paragens. Os populistas reuniram-se à volta de um demagogo eficaz no Chega, e revelaram mestria no domínio da indignação, pescando à linha com proficiência nas redes sociais.
A reconfiguração da direita estava concluída quando Montenegro conquista o PSD.
Apesar de ideologicamente mais à direita, a fragmentação do seu campo político coloca-o numa situação difícil. Se se posiciona à direita para tentar recuperar os eleitores perdidos para o Chega e a IL, perde o centro; se se coloca no centro-direita (como Rio tentou, mas o partido não deixou), perde definitivamente os eleitores mais à direita.
Isolado dos quadros de direita saudosistas do passismo, Montenegro nunca constrói um pensamento estruturado para Portugal, ou revela a capacidade de apresentar propostas transformadoras.
Não apresentando uma visão para o país, Montenegro resumiu o motivo porque deve governar a um: “Já tiveram o vosso tempo, está a chegar a nossa vez.”
Esta ausência de projeto deixa o PSD (e a democracia) numa situação muito delicada, pois o debate político fica centrado nas propostas do PS e na alternativa... do Chega.
É trágico que assim seja. Não apenas porque as propostas do Chega não são para levar a sério - como alguém escreveu, umas não são realizáveis, outras são moralmente inaceitáveis -, mas sobretudo porque ao abandonar o campo do debate político por falta de propostas até demasiado tarde, o PSD deixou todo esse espaço para a gritaria histriónica da extrema-direita em congresso, devidamente levada a casa dos portugueses por uma comunicação social diligente e uma gestão de redes sociais muito profissional.
Ou o PSD altera rapidamente a estratégia ou arrisca-se a ser suplantado pelo Chega em eleições, o que seria um quadro político altamente perturbador.
Livremo-nos de ter um dia um cenário político como o francês, com a extrema-direita a ser percecionada como a alternativa política a quem está no Governo.
O Conselho de Finanças Públicas alerta para o “risco de sustentabilidade das finanças” da Região Autónoma dos Açores, depois de em 2022 ter registado um défice orçamental de 7,7% do PIB da Região. Em 2019, último ano de Governo PS, o défice tinha sido 1,7%.
Eurodeputado
Da perigosa reconfiguração da direita
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18.01.2024
Por natureza, o funcionamento dos regimes democráticos implica a existência de alternativas políticas: partidos, projetos, figuras capazes de convencer os eleitores de que existe um caminho melhor para o país.
Esta capacidade, em conjunto com a responsabilidade de escrutinar a atividade governativa, são funções primárias que se exigem da oposição. Espera-se tanto uma postura combativa, como capacidade propositiva.
O problema? Em Portugal, esse espaço tem estado praticamente deserto.
A liderança de Pedro Passos Coelho tinha puxado o PSD muito para a direita, quebrando definitivamente com a orientação social-democrata herdada de Sá Carneiro. Apesar de lhe ter sucedido Rui Rio, mais moderado, a radicalização ideológica do PSD estava feita.
É daí que advêm as maiores dificuldades internas de Rui Rio. Liderando um partido agora dominado por um aparelho ideologicamente alinhado com o passismo, não lhe deram........
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