Arrancou a campanha eleitoral para as legislativas de 10 de Março e com ela as certezas dos partidos sobre os erros de terceiros e de que fariam melhor do que os adversários. Língua afiada, alfinetadas nos concorrentes, postura de campanha adequada a cativar atenções, alguma maledicência para militante ou simpatizante levar para o grupo de amigos e ajudar a colocar o visado em causa e com isso canalizar o voto para quem agride, às vezes com razão, muitas vezes não. Às vezes, em vez de elucidados – o objectivo da campanha eleitoral deveria ser, sobretudo, informar e elucidar –, os eleitores ficam mais confusos tal é a verborreia utilizada pelos diferentes protagonistas.

De Domingo passado até ao próximo dia 8 de Março, as pessoas formularão o seu juízo e tomarão posição, mais ou menos firme, daquela que reverterão para o boletim de voto. Algumas delas já decidiram, por solidariedade com o partido de que são militantes ou por convicção depois de terem acompanhado as posições dos vários partidos relativamente a matérias que as preocupam particularmente. Estou em crer que muitas se questionaram e questionarão até à mesa de voto, não por nenhuma minudência, mas por grandes temas, mais ou menos da forma como farei a seguir.

Há escolas com falta de professores e, obviamente, alunos sem professor a pelo menos uma disciplina, já lá vão seis meses desde o início do ano lectivo, sendo que não é a primeira vez que tal acontece durante um período significativo. De quem é a responsabilidade do que tem acontecido? Que fez o governo para evitar que a situação continue a verificar-se, ano após ano? Tem havido greves sucessivas de professores, reclamando a contagem de tempo de serviço que lhes foi suprimido e que tem atrasado a sua progressão na carreira, implicando a perda de muitos tempos lectivos a muitos milhares de alunos. De quem é a culpa?

O Sistema Nacional de Saúde (SNS) tem estado sob escrutínio generalizado por causa da crise nas urgências, com notícias de encerramentos em alguns hospitais, de falta de profissionais, em especial de algumas especialidades, de filas de espera de ambulâncias, de doentes em macas nos corredores de hospitais, de enfermarias com excesso de camas, prejudicando o cuidado aos doentes e o trabalho dos profissionais; por enormes atrasos na marcação de consultas de especialidade; por causa da falta de médicos de família a tantos cidadãos; por causa das greves que os profissionais de saúde têm levado a cabo e que só não estão a exercer esse direito no momento por estarem a aguardar um novo governo. De quem é a culpa?

Os oficiais de justiça estão em greve há mais de um ano, sem que sejam escutadas as suas mais que justas reivindicações, o que tem implicado um sem número de adiamentos de audiência. Os profissionais da polícia e da guarda nacional republicana foram preteridos relativamente a outras forças de segurança e têm-se manifestado com visibilidade. O facto das forças de segurança estarem privadas de algum tipo de manifestação deveria ser razão suficiente para que os responsáveis fossem cuidadosos e positivamente pro-activos e não o contrário. Quem deveria ter acautelado que não aconteceria essa tremenda discriminação e evitado esse descontentamento?

A crise de habitação não existe porque lá fora também é um assunto candente neste ou naquele país. O problema não se importa, gera-se dentro de portas e exige acompanhamento e medidas atempadas por quem de direito. E vários outros temas, que não têm espaço nesta crónica, correm contra quem deveria ter a obrigação de resolver e não resolveu.

Para aqui não devem ser chamados nem Cavaco Silva nem Passos Coelho. A responsabilidade é de António Costa e do Partido Socialista que governa o país há oito anos.

QOSHE - De quem é a culpa? - Luís Martins
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De quem é a culpa?

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27.02.2024

Arrancou a campanha eleitoral para as legislativas de 10 de Março e com ela as certezas dos partidos sobre os erros de terceiros e de que fariam melhor do que os adversários. Língua afiada, alfinetadas nos concorrentes, postura de campanha adequada a cativar atenções, alguma maledicência para militante ou simpatizante levar para o grupo de amigos e ajudar a colocar o visado em causa e com isso canalizar o voto para quem agride, às vezes com razão, muitas vezes não. Às vezes, em vez de elucidados – o objectivo da campanha eleitoral deveria ser, sobretudo, informar e elucidar –, os eleitores ficam mais confusos tal é a verborreia utilizada pelos diferentes protagonistas.

De Domingo passado até ao próximo dia 8 de Março, as pessoas formularão o seu juízo e tomarão posição, mais ou menos firme, daquela que reverterão para o boletim de voto. Algumas delas já decidiram, por solidariedade com o partido de que são militantes ou por........

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