A expressão verbal no imperativo é de André Ventura numa reacção à crítica social-democrata de que o Chega e o Partido Socialista terão formado uma coligação negativa na questão do fim das ex-scut. Ventura considera que não tem qualquer compromisso com o Partido Social Democrata e que vota no Parlamento de acordo com o seu programa eleitoral e não de acordo com os interesses do partido do Governo que não o quis para parceiro, acusando que mais próximos estão os dois maiores partidos. Daí a tirada do primeiro responsável do partido mais à direita do espectro político português de que deverão ser esses partidos a entender-se e não o seu com o maior deles.

Num Parlamento em que nenhuma bancada tem uma maioria confortável, o entendimento é imprescindível e deve ser procurado, desde logo, por quem governa. Nenhum Governo é viável sem a garantia de que os apoios existem, ainda que possam não ser sempre os mesmos; e a estabilidade depende de negociações consistentes. Se tem havido ou não negociações entre os partidos do Governo e algum ou alguns partidos da oposição, não se tem percebido. Mas, sabe-se que entendimento tem faltado, doutra forma a oposição não teria ultrapassado o Governo em algumas decisões parlamentares. Pelo contrário, sente-se uma certa arrogância, um medir de forças sem sentido, quando o objectivo deveria ser procurar pontes. Estão todos a preparar-se para eleições: a Aliança Democrática à espera de ter ganhos com a sua estratégia de vitimização e culpabilização de terceiros; o Chega convencido de que poderá crescer ainda mais num próximo acto eleitoral; e o Partido Socialista com vontade de ultrapassar em votos o Partido Social Democrata e eventualmente vir a governar. Contudo, os sinais são ainda ténues, só perceptíveis nas entrelinhas das quezílias das últimas votações parlamentares.

O Governo não conseguiu mostrar ainda de que é capaz de dar esperança aos portugueses e não cuidou minimamente da questão fundamental que é a estabilidade. O “não é não” de Montenegro constituiu-se num não a qualquer acordo quando tem precisado de apoio. Negação com negação se tem governado. Só alguém muito inocente podia pensar que sem um acordo geral com o Chega seriam possíveis acordos parcelares com o mesmo. O líder parlamentar do Partido Social Democrata, Hugo Soares, bem poderá tentar outros entendimentos com o segundo maior partido da oposição, mas a probabilidade de ter sucesso será certamente muito baixa. O Governo é minoritário e a incerteza será para continuar. Não vai conseguir aprovar a não ser aquilo que seja comum a uma maioria de deputados. Quer se vire para um lado, quer se vire para outro, nenhum partido quererá dar a mão ao Governo, já se percebeu. Desta forma, o Executivo acabará por cair, mais cedo do que tarde. Não aguentará engolir em seco por muito tempo, enquanto a oposição o confronta com soluções, ainda que sem coordenação. As eleições europeias ditarão a que distância estaremos da queda. Até lá, o país ficará em suspenso, longe das medidas de fundo de que tanto precisa e com todos a reclamar do incumprimento de Montenegro.

Em democracia, o povo devia ser quem mais ordena e não os líderes partidários. Na verdade, o povo não decidiu que a Aliança Democrática governasse sozinha, ainda que lhe atribuísse mais votos e mandatos. Se tivesse decidido, os resultados deveriam ter sido mais expressivos, o que não foi o caso. Montenegro continua a defender que tem todas as condições para cumprir o programa pensado para a legislatura de quatro anos e meio. Mas, deve ser só ele a acreditar nisso. Será que os seus ministros e secretários de Estado lhe seguem o optimismo? Não creio.

A única forma do povo não ser chamado intempestivamente às urnas é o Governo seguir a recomendação de Ventura. Se não for com este, que se entenda com Nuno Santos. A democracia exige-o.

QOSHE - Entendam-se! - Luís Martins
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Entendam-se!

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07.05.2024

A expressão verbal no imperativo é de André Ventura numa reacção à crítica social-democrata de que o Chega e o Partido Socialista terão formado uma coligação negativa na questão do fim das ex-scut. Ventura considera que não tem qualquer compromisso com o Partido Social Democrata e que vota no Parlamento de acordo com o seu programa eleitoral e não de acordo com os interesses do partido do Governo que não o quis para parceiro, acusando que mais próximos estão os dois maiores partidos. Daí a tirada do primeiro responsável do partido mais à direita do espectro político português de que deverão ser esses partidos a entender-se e não o seu com o maior deles.

Num Parlamento em que nenhuma bancada tem uma maioria confortável, o entendimento é imprescindível e deve ser procurado, desde logo, por quem governa. Nenhum Governo é viável sem a garantia de que os apoios existem, ainda que possam não ser sempre os mesmos; e a estabilidade depende de negociações........

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