A guerra russa na Ucrânia é o maior conflito militar no continente europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Dia da Europa assinala o momento fundador (9 de maio de 1950) do projeto sui generis, que é a UE, que, em resposta ao conflito e à barbárie, trouxe a paz para os seus membros, tornando a guerra impensável mediante um modelo assente na partilha de soberania e na procura de soluções coletivas para os problemas comuns, através de instituições supranacionais, do direito, da democracia e do comércio.

Este projeto de paz foi-se alargando sucessivamente até integrar os países que antes tinham estado do outro lado da Cortina de Ferro. Há poucos dias, no dia 1 de maio, comemoraram-se os vinte anos do maior alargamento da UE com a entrada de dez países (oito da Europa Central e Oriental, Chipre e Malta). A Bulgária e a Roménia adeririam em 2007 e a Croácia em 2013.

Em 2004, celebrou-se a reconciliação da Europa, uma UE mais forte e o nascimento de uma nova era. À luz do que se passa hoje na Ucrânia é legítimo perguntar o que seria destes países se não tivessem entrado na UE e na NATO.

Neste sentido, também hoje o alargamento aos países dos Balcãs Ocidentais, à Ucrânia, Moldova e Geórgia, assim que cumprirem os critérios de adesão, é um imperativo estratégico, porque constitui um investimento na paz, na segurança e estabilidade da Europa a longo prazo. Será certamente o início de outra nova era.

A probabilidade de a guerra na Ucrânia poder alastrar ao continente europeu no curto prazo parece cada vez mais real, ainda que a consciência da ameaça existencial não seja igual em todos os Estados-membros. Essa consciência já levou a importantes mudanças como a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO, depois de décadas de neutralidade, sendo mais forte nos países que estão na linha da frente do que nos que estão mais longe, como Portugal ou Espanha. Também por isso certas medidas e políticas, como o reforço das políticas de segurança e defesa ou o regresso do serviço militar obrigatório, têm sido adotadas em muitos desses países enquanto noutros esse debate ainda mal começou.

No que à UE diz respeito, é preciso sublinhar que, desde o início da guerra, tem prestado um apoio substancial à Ucrânia, incluindo apoio militar, orçamental, ajuda humanitária e de emergência, entre outras muitas medidas, tendo adotado 13 pacotes de sanções contra a Rússia.

Perante o prolongar do conflito e a fadiga da guerra dos cidadãos europeus urge continuar a apoiar a luta da Ucrânia, fornecendo-lhe os meios para se defender. Continua a ser vital explicar que esta guerra não é apenas sobre o futuro da Ucrânia, mas também sobre a futura estabilidade da Europa, dos seus princípios e valores. De facto, o projeto e o sonho de unir a Europa nunca foi tão importante, assim como ter a liberdade de escolher o seu próprio destino.

Por isso, perante um mundo cada vez mais instável, competitivo, conflituoso e cada vez menos livre, a pertença a um espaço de liberdade, segurança e valores comuns, assim como a escolha pela resposta coletiva, via UE, aos desafios transnacionais, é a escolha evidente, que tem de ser renovada cada dia, porque não é nem garantida nem eterna.

Hoje é dia de celebrar esta escolha feita pelos líderes há 74 anos. Mas como a Europa (também) somos nós, os cidadãos, daqui a um mês no dia 9 de junho ou antecipadamente no dia 2 de junho, podemos renovar essa escolha votando nas eleições para o Parlamento Europeu.

QOSHE - Porque devemos celebrar o Dia da Europa - Andreia Soares E Castro
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Porque devemos celebrar o Dia da Europa

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09.05.2024

A guerra russa na Ucrânia é o maior conflito militar no continente europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Dia da Europa assinala o momento fundador (9 de maio de 1950) do projeto sui generis, que é a UE, que, em resposta ao conflito e à barbárie, trouxe a paz para os seus membros, tornando a guerra impensável mediante um modelo assente na partilha de soberania e na procura de soluções coletivas para os problemas comuns, através de instituições supranacionais, do direito, da democracia e do comércio.

Este projeto de paz foi-se alargando sucessivamente até integrar os países que antes tinham estado do outro lado da Cortina de Ferro. Há poucos dias, no dia 1 de maio, comemoraram-se os vinte anos do maior alargamento da UE com a entrada de dez países (oito da Europa Central e Oriental, Chipre e Malta). A Bulgária e a Roménia adeririam em 2007 e a Croácia em........

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