Esqueça os partidos nacionais. Os 17 partidos e coligações portuguesas que concorrem às eleições europeias serão, inevitavelmente, diluídos em sete grupos políticos europeus. Por exemplo, um voto na AD, é um voto no PPE; um voto no PS é um voto no S&D; um voto no Chega! é um voto no ID; um voto na IL é um voto no Renew Europe; um voto no BE ou na CDU é um voto no GUE/NGL; um voto no Livre, Volt ou PAN é um voto no Greens/EFA. Se acha isto confuso, sugiro que ignore olimpicamente as discussões dos partidos políticos portugueses que se foquem exclusivamente na cor política nacional. Sugiro que, nestas eleições para o Parlamento Europeu (PE), faça um exercício de suspensão do seu clubismo partidário nacional e se concentre nas agendas ideológicas e programáticas dos grupos políticos europeus. Tudo o resto são ardis políticos espúrios. Se quer saber o que realmente os nossos partidos vão fazer e defender, pode dar uma vista de olhos aqui (link). Ah! Ainda temos os eurodeputados não-inscritos, atualmente 46 (mais de 6,5% do PE), mas esses ficam para outra.

Esqueça os cabeça-de-lista nacionais. Quando estamos a votar para as europeias estamos a eleger os 21 eurodeputados aos quais Portugal tem direito, mas que serão, incontornavelmente, diluídos em 720. No fundo, estamos a escolher cerca de 3% da composição do PE. Por isso, de pouco vale a juventude e mediatismo de Sebastião Bugalho e a sua transumância do euroceticismo para o euro-entusiasmo, a experiência de Marta Temido com vacinas e a sua incapacidade de gizar uma ideia objetiva sobre a principal crise (de segurança) que a Europa enfrenta ou a visão que António Tânger Corrêa tem da UE como as portas do inferno do dẽmos. É óbvio que a capacidade de ação individual de cada um, o poder de agência, pode ajudar a influenciar um rumo para a UE. Contudo, não estamos a falar de grandes pensadores da Europa, como Churchill, Delors, Fontaine ou Veil. Na verdade, olhando para os cabeças-de-lista, não estamos sequer a falar de pensadores da Europa.

Enquanto a passagem pelo PE for um mero exílio dourado ou trampolim para a ribalta da política nacional, sugiro que o (e)leitor esqueça qualquer poder de sedução destes cabeça-de-lista. Quer um exemplo recente e convincente de fora? Quem é a cabeça-de-lista dos Fratelli d’Italia para as europeias? Giorgia Meloni! Não, ela não vai largar o executivo italiano para se tornar eurodeputada. O que se passa é que as eleições europeias parecem tão enfadonhas aos olhos dos próprios políticos europeus que a única estratégia que têm para nos seduzir são nomes que acham que já nos têm seduzidos.

Esqueça as sondagens nacionais. Não, não vou aqui entrar na discussão sobre a credibilidade ou falibilidade das sondagens. A única coisa que digo é que, num contexto de eleições europeias e dada a relevância muito relativa da representação portuguesa no PE, as sondagens nacionais são, no mínimo, redundantes. Servem essencialmente o propósito de aguçar a nossa curiosidade cidadã e orientar as lideranças nacionais sobre o que é que na sua estratégia política está a funcionar ou não. São o barómetro oficioso antes da sondagem oficial que mais interesse tem para os partidos portugueses e que tem lugar no tal dia 09 de junho. Por isso, se quiser sair da redoma política nacional e entender em que medida o seu voto se encaixa no panorama geral de intenções de voto, sugiro que olhe para um agregador de tendências europeias (link).

(Não se) Esqueça de votar. Em abril passado estive no Fundão para participar no IV Encontro Nacional dos Estudos Europeus, organizado pela FNEE (link), e participei num painel em que era suposto saber responder “por que razão os europeus não votam?”. A verdade é que não sei. Quer dizer, sei, porque os dados relativos às últimas eleições apontam para três razões fundamentais: falta de confiança ou insatisfação com a política, falta de interesse na política e convicção de que o voto não tem consequências. Mas a verdade é que não sei mesmo. Nesse tal Encontro discorri maçadoramente sobre 40 pontos que considero poderem ajudar a compreender por que motivo o (e)leitor se esquece de votar. Coisas desde a iliteracia e falta de identidade europeia até aos efeitos secundários do clima cinzento da capital belga. Pouco me importa em que o (e)leitor vai votar, mas só o facto de eu estar preocupado com isso é mais um ponto para a minha lista quadragenária. Acrescentei: “vontade consciente de delegar num outro qualquer a decisão sobre o futuro da Europa e de Portugal”. São 41 pontos, agora.

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Como votar nas eleições europeias?

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09.05.2024

Esqueça os partidos nacionais. Os 17 partidos e coligações portuguesas que concorrem às eleições europeias serão, inevitavelmente, diluídos em sete grupos políticos europeus. Por exemplo, um voto na AD, é um voto no PPE; um voto no PS é um voto no S&D; um voto no Chega! é um voto no ID; um voto na IL é um voto no Renew Europe; um voto no BE ou na CDU é um voto no GUE/NGL; um voto no Livre, Volt ou PAN é um voto no Greens/EFA. Se acha isto confuso, sugiro que ignore olimpicamente as discussões dos partidos políticos portugueses que se foquem exclusivamente na cor política nacional. Sugiro que, nestas eleições para o Parlamento Europeu (PE), faça um exercício de suspensão do seu clubismo partidário nacional e se concentre nas agendas ideológicas e programáticas dos grupos políticos europeus. Tudo o resto são ardis políticos espúrios. Se quer saber o que realmente os nossos partidos vão fazer e defender, pode dar uma vista de olhos aqui (link). Ah! Ainda temos os eurodeputados não-inscritos, atualmente 46 (mais de 6,5% do PE), mas esses ficam para outra.

Esqueça os cabeça-de-lista nacionais. Quando estamos a votar........

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