A solidariedade tornou-se não só um valor ético como também uma condição de sobrevivência. Uma verdade nas múltiplas dimensões pelas quais ela atualmente se reconhece ao ser criticamente considerada como fundamental e não apenas como uma opção desejável por imperativos morais. Sendo a vida um emaranhado de relações e tendo-se tornado estas cada vez mais complexas, é agora vital reconhecer-se a natureza social e física da solidariedade, por remissão para o presente e para o futuro, isto é, por uma indexação no espaço e no tempo.

Estas afirmações, sendo muito mais do que meras constatações, interpelam-nos como desafios exigentes e incontornáveis, os quais, se se aplicam em termos globais, são de igual modo inerentes aos âmbitos locais e nacionais das nossas vidas. Ao imporem-se pela sua proximidade, não permitem ser ignorados sob pena de espoletarem consequências potencialmente negativas.

Estão aqui em causa as relações entre povos e países, bem como as conexões entre pessoas e comunidades mais restritas, em termos políticos, económicos, cívicos e culturais. Trata-se da implicação de todos nomeadamente na resolução das injustiças, não se delegando uma tal responsabilidade, sem mais, em terceiros, mesmo que instituídos como nossos representantes. Tanto mais que, conjuntamente com a opressão de indivíduos pela subjugação armada, financeira ou identitária, estão igualmente em causa as ações na natureza de onde despontam os problemas ecológicos que tanto preocupam a Humanidade, no presente e na perspetiva do futuro.

De facto, não podemos ficar indiferentes perante as tragédias que assolam o Mundo. Tragédias que só existem para a maioria enquanto delas despontam notícias. Mas não podemos também ignorar a pobreza e a violência que são nossas vizinhas.

Estes fenómenos, embaraçosos e cruéis, não podem ser olhados como meras sombras projetadas por entes diabólicos a que seríamos alheios. Deveremos antes assumi-los ativamente como seus coautores, ainda que eventualmente inconscientes. Portanto, como sujeitos implicados, em maior ou menor grau, na superação das desumanidades que, com eles e por causa deles, nos assolam.

Quando reclamamos a consumação dos ideais de Abril não o podemos esquecer!

QOSHE - A solidariedade para cumprir Abril - Adalberto Dias De Carvalho
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A solidariedade para cumprir Abril

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08.05.2024

A solidariedade tornou-se não só um valor ético como também uma condição de sobrevivência. Uma verdade nas múltiplas dimensões pelas quais ela atualmente se reconhece ao ser criticamente considerada como fundamental e não apenas como uma opção desejável por imperativos morais. Sendo a vida um emaranhado de relações e tendo-se tornado estas cada vez mais complexas, é agora vital reconhecer-se a natureza social e física da solidariedade, por remissão para o presente e para o futuro, isto é, por uma indexação no espaço e no tempo.

Estas........

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