Por estes dias foi notícia que fundadores do PSD defendem o regresso a um partido de centro-esquerda. Quase sempre o foi, não se percebe essa defesa, aliás alguma vez o partido foi de direita? Em Portugal, ao contrário da Europa moderna e civilizada aonde muitos partidos de direita são governo, o conceito de direita tem obrigatoriamente má fama para os comentadores profissionais da nação e respectivas figuras veneráveis. Tudo isto num país que é uma das últimas reservas do socialismo exótico no Ocidente. Desde o século XVII que estamos atrasados em tudo.

Sobre direita e esquerda, há quatro nomes principais no pós-25 de Abril: Sá Carneiro e Freitas do Amaral, Mário Soares e Álvaro Cunhal. Mário Soares representa numa fase notável, depois degradou-se, o socialismo pretendido como uma social-democracia de cariz nórdico para se distinguir do socialismo esquerdista e pseudodemocrático de Álvaro Cunhal, os outros dois nomes surgem usualmente referidos pelos média e forças políticas esquerdistas como a direita democrática. Ora, nem Freitas, nem Sá Carneiro foram de direita, mas sim socialistas, mais até que sociais-democratas ou democratas cristãos. Outro nome pelo peso que tem nos média nacionais e que foi também primeiro-ministro do PSD, Pinto Balsemão, sempre se afirmou de esquerda, explicando mais tarde trata-se de centro-esquerda. Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Pinto Balsemão e Basílio Horta, sempre foram de esquerda, os putativos centristas acabaram até socialistas oficiais. Distinguimos esta esquerda da facção radical, extremista e fundamentalista que encontramos nos pós-trotskistas e neoestalinistas do Bloco de Esquerda e do Livre, no fundo, o MRPP do século XXI.

Tendo os 50 anos de democracia apenas PS e PSD como partidos que governaram o país, podemos afirmar que tivemos até hoje unicamente uma democracia socialista e uma ficção de direita construída pelo socialismo.

No pós-1974, Freitas do Amaral e Sá Carneiro entre outros, não eram adolescentes, nem jovens imbuídos pelo espírito revolucionário, mas já homens maduros e conscientes do seu pensamento e do que significava cada conceito. Estávamos na Europa Ocidental, na década de 70 e não em Cuba, no Chile ou na União Soviética.

Nesses anos Freitas do Amaral fundador do CDS dizia-nos que: “Consideramos muito importante a acção dos partidos socialistas no último meio século para a humanização das condições de vida dos trabalhadores, mas segundo a nossa concepção de vida todos os homens são iguais e profundamente solidários, também nós por isso, desejamos sinceramente, atingir um dia o ideal de uma sociedade sem classes”. A ideia de uma sociedade sem classes num homem adulto que se dizia democrata-cristão é bizarra.

O congresso fundador do PPD em Novembro de 1974, a matriz, contou com a presença e discursos de gente como Sá Carneiro, Pinto Balsemão, José Manuel Ramos e Magalhães Mota. Sá Carneiro referia que: “O PPD é um partido de esquerda, e é nessa acepção que a ele aderiram uma grande parte dos militantes… esse posicionamento está nas linhas programáticas do partido”. Pinto Balsemão nesse congresso dirige-se ao auditório como: “amigos e camaradas” e refere: “a nossa posição de esquerda”, sendo fortemente ovacionado. José Manuel Ramos toma por fim a palavras e afirma: “somos definitivamente um partido de esquerda”, lembrando: “os camaradas que lutam contra a tirania” e sugerindo um voto de solidariedade para com: “os povos martirizados pelas tiranias e com os partidos que vivem na clandestinidade que lutam pela democracia e pela construção do socialismo”. No fim desse congresso Magalhães Mota é entrevistado e referiu que: “nunca fomos um partido de direita, nem exclusivamente do centro”, defendendo: “As nacionalizações como forma de obtenção do poder económico e político e reconhecendo o seu carácter necessário relativamente aos monopólios e a sectores-chave da economia”.

Sá Carneiro escrevia a 6 de Novembro de 1975, no Povo Livre: «Por outro lado vai se nos fazendo justiça no reconhecer que somos um partido de esquerda empenhados na construção do socialismo democrático que Portugal merece e quer». Não estávamos nos anos 20, e o PSD era e continua a ser um partido de esquerda não marxista.

Balsemão no século XXI refere que o PSD é de centro-esquerda, tal como uma parte do Partido Socialista. No século XXI líderes como Pedro Passos Coelho e Rui Rio sempre afirmaram: “O PSD não é um partido de direita” e que em questões estruturais podiam e deviam estar alinhados com o Partido socialista. Os tempos são outros, mas a história importa.

No presente, o actual PSD pouco difere do PS no essencial. A diferença é que o PS é muito mais organizado e profissional, funcionando como uma espécie de seita política. Uma grande parte dos seus principais quadros dedica a vida ao partido desde jovem e só conhece o mundo profissional através do que o partido lhe destina.

Podemos afirmar sem grande dificuldade, a não ser para os prosélitos, que o PSD foi bom e distinto quando teve verdadeiros políticos sociais-democratas e gente da sociedade civil com muita qualidade. Actualmente nada disso existe, salvo duas ou três excepções, predomina o aparelhismo e triunfa uma notória mediocridade política e ideológica. Este PSD pouco mais é que um socialismo envergonhado do seu liberalismo residual e do seu socialismo e progressismo.

Mas eis que em 2024 surge uma oportunidade única para o PSD se assumir como um partido não socialista, verdadeiramente reformador que coloca os interesses do país e das pessoas acima do pequeno jogo da intriga política e da subserviência à pressão esquerdista predominante em Portugal. Há uma verdadeira novidade no panorama político e social português, o partido Chega.

Nas últimas eleições legislativas os comentadores do sistema esquerdista convenceram o PSD que negando o Chega teriam uma votação estrondosa. Não aconteceu. O país mudou, as pessoas mudaram, a maioria das pessoas, mais novas, por exemplo, não têm paciência para a mediocridade e monotonia dos canais televisivos obsoletos que são agências de propaganda, fastidiosa e risível.

Estamos agora perante um dilema e uma oportunidade única.

O insuspeito João Marques de Almeida referia recentemente num programa televisivo com um realismo absoluto o óbvio e essencial. Tudo neste momento se resume a isto: queremos um governo PSD em coligação como Chega, ou um governo PS /BE/Livre?…. Não existam ilusões, o CDS, infelizmente, ficou moribundo às mãos de uma das suas facções, o portismo, portanto este PSD ou se demite, ou faz uma coligação com o PS e o PS não quer, nem o PSD, ou faz uma coligação com o Chega. Tudo o resto é paleio redundante…. A situação será cada vez mais insustentável, e não adianta os lamentos e as estratégias gastas e pífias de chorar a acção do Chega e do PS, pois nada vai mudar. O Chega e o PS continuarão a gerir as suas políticas e estratégias e claro, a fazer oposição ao PSD, são oposições, fazem oposição. A política democrática é também este tipo de conflitualidade; por isso, existem como alternativas a possibilidade de coligações, as quedas de governos e novas eleições. Esta situação é uma questão de tempo. Tudo indica que por teimosia e inabilidade o governo do PSD vai cair. Nas novas eleições o PSD verá a sua votação reduzida, e bem, o Chega crescerá mais um pouco ou mesmo significativamente, e o próximo governo será de esquerda com grande probabilidade e por responsabilidade única e exclusiva do PSD.

Recorda-nos Diogo Pacheco Amorim que sempre se disse que, no PSD, os militantes estão à direita dos dirigentes e os eleitores à direita dos militantes. Neste caso o PSD é, todo ele, um gigantesco mal-entendido. Poderia ter agora uma oportunidade única, que não parece, contudo, possível, porque não há qualidade e coragem política no actual PSD para um rasgo de ousadia e coragem.

Ora, a democracia é um sistema que permite que visões divergentes sobre vários aspectos da sociedade se entendam sobre o que é comum e fundamental, sobre o que une, deixando depois as diferença para cada um. Se o PSD não é socialista, não demonize o Chega, coligue-se, negoceie a coligação, em nome do futuro do país e dos portugueses. É certo que algumas televisões e jornais ficarão histéricos, mas paciência. Já conhecemos a receita da gerigonça e do socialismo, não há um único país socialista com sucesso e nós continuamos a ser dos países mais atrasados da Europa ocidental. Há reformas que têm de ser feitas e isso significa ser contra o socialismo. O PSD tem agora essa oportunidade e um Chega disponível para essa coligação, mas não para fingimentos e jogos. Testem o Chega, constatem se merecem um acordo a sério entre iguais e se são merecedores dessa grande oportunidade nacional. O Chega é um partido democrático, novo, ousado, cheio de vitalidade, com 20% do eleitorado, praticamente tanto como o PSD. Está na altura de a democracia portuguesa alcançar a maioridade e acabar com este esquerdismo que é apenas, como dizia Nelson Rodrigues, um mural de miséria, atraso e propaganda, bom apenas para as suas elites.

(Quem escreve estas linhas é um abstencionista convicto e não tem qualquer tipo de ligação com o partido Chega)

QOSHE - E agora PSD? - João Maurício Brás
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E agora PSD?

41 0
08.05.2024

Por estes dias foi notícia que fundadores do PSD defendem o regresso a um partido de centro-esquerda. Quase sempre o foi, não se percebe essa defesa, aliás alguma vez o partido foi de direita? Em Portugal, ao contrário da Europa moderna e civilizada aonde muitos partidos de direita são governo, o conceito de direita tem obrigatoriamente má fama para os comentadores profissionais da nação e respectivas figuras veneráveis. Tudo isto num país que é uma das últimas reservas do socialismo exótico no Ocidente. Desde o século XVII que estamos atrasados em tudo.

Sobre direita e esquerda, há quatro nomes principais no pós-25 de Abril: Sá Carneiro e Freitas do Amaral, Mário Soares e Álvaro Cunhal. Mário Soares representa numa fase notável, depois degradou-se, o socialismo pretendido como uma social-democracia de cariz nórdico para se distinguir do socialismo esquerdista e pseudodemocrático de Álvaro Cunhal, os outros dois nomes surgem usualmente referidos pelos média e forças políticas esquerdistas como a direita democrática. Ora, nem Freitas, nem Sá Carneiro foram de direita, mas sim socialistas, mais até que sociais-democratas ou democratas cristãos. Outro nome pelo peso que tem nos média nacionais e que foi também primeiro-ministro do PSD, Pinto Balsemão, sempre se afirmou de esquerda, explicando mais tarde trata-se de centro-esquerda. Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Pinto Balsemão e Basílio Horta, sempre foram de esquerda, os putativos centristas acabaram até socialistas oficiais. Distinguimos esta esquerda da facção radical, extremista e fundamentalista que encontramos nos pós-trotskistas e neoestalinistas do Bloco de Esquerda e do Livre, no fundo, o MRPP do século XXI.

Tendo os 50 anos de democracia apenas PS e PSD como partidos que governaram o país, podemos afirmar que tivemos até hoje unicamente uma democracia socialista e uma ficção de direita construída pelo socialismo.

No pós-1974, Freitas do Amaral e Sá Carneiro entre outros, não eram adolescentes, nem jovens imbuídos pelo espírito revolucionário, mas já homens maduros e conscientes do seu pensamento e do que significava cada conceito. Estávamos na Europa Ocidental, na década de 70 e não em Cuba, no Chile ou na União Soviética.

Nesses anos Freitas do Amaral fundador do CDS dizia-nos que: “Consideramos muito importante a........

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