Na pré-campanha para as eleições do FC Porto já se percebeu que discursos de ódio e ressentimento subtraem votos e os de unidade cativam tanto as gerações mais velhas como as mais novas da família associativa portista, sobretudo se vierem acompanhados de ideias arejadas

O amor. Há uma música da banda britânica Madness (millennials e afins, pesquisem no Google) que fala sobre o amor. Na realidade, o tema original (It Must Be Love) é de Labi Siffre, do álbum Crying Laughing Loving Lying, lançado em 1972. Um dos versos é particularmente bonito: «Como é que podemos dizer tanto sem palavras?»

O amor não precisa de muitas palavras. Vivemo-lo frequentemente em silêncio, na cumplicidade de um olhar, um gesto ou um abraço. O ódio é o outro lado da moeda. Não precisa de muitas palavras para se manifestar, mas, normalmente, é através das palavras, bem ou mal interpretadas, ditas em contextos menos felizes ou em momentos de exaltação por gente com responsabilidade, que o ódio se espalha como fogo e gera atos grotescos, como aquele que aconteceu em novembro passado na casa de André Villas-Boas.

Não podemos permitir que o tempo apague da memória coletiva a noção de que um homem de 64 anos, zelador da zona residencial de AVB, foi violentamente agredido ao ponto de ter recebido tratamento hospitalar. Não podemos também viver confortáveis com a ideia de que um candidato às eleições de um clube como o FC Porto esteja rodeado por seguranças 24 horas por dia.

Até abril, os três candidatos ao sufrágio terão de mostrar até que ponto amam realmente o clube, qual o nível de responsabilidade que têm e até onde pretendem ir para defender os seus programas, sem caírem na tentação de se atacarem mutuamente. No fundo, já se percebeu que discursos de ódio e ressentimento subtraem votos e os de unidade cativam tanto as gerações mais velhas como as mais novas da família associativa portista, sobretudo se vierem acompanhados de ideias arejadas. Ninguém pede beijos ou abraços fingidos. Apenas respeito pelas mais elementares regras da democracia.

QOSHE - As palavras podem ser demais - Pascoal Sousa
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As palavras podem ser demais

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25.02.2024

Na pré-campanha para as eleições do FC Porto já se percebeu que discursos de ódio e ressentimento subtraem votos e os de unidade cativam tanto as gerações mais velhas como as mais novas da família associativa portista, sobretudo se vierem acompanhados de ideias arejadas

O amor. Há uma música da banda britânica Madness (millennials e afins, pesquisem no Google) que fala sobre o amor. Na realidade, o tema original (It Must Be Love) é de Labi Siffre, do álbum Crying Laughing Loving Lying, lançado........

© A Bola


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