Em pleno século XXI, o desenvolvimento sustentável de um país deve ser impulsionado por uma rede de transportes moderna, eficiente e coesa.

Neste sentido, a ferrovia desempenha um papel crucial em várias dimensões do desenvolvimento e é essencial para se atingir as metas de neutralidade climática até 2050. Assim, é imperativo perceber o estado atual da rede ferroviária nacional, identificar investimentos urgentes e traçar uma visão prospetiva a longo prazo.

Qualquer cliente assíduo do transporte ferroviário em Portugal perceberá que ter um comboio a chegar à estação é hoje um autêntico milagre! Em Portugal, fruto de décadas de ausência de investimento neste setor e de uma estratégia minimalista (ou ausência dela) para o transporte ferroviário, a empresa pública faz um esforço evidente para conseguir cumprir o seu dever de prestar um serviço público de mínima qualidade. E, embora o problema seja sentido um pouco por todas as áreas de atuação da empresa, é notório sobretudo no serviço regional e inter-regional. Aliás, o problema agrava-se nas linhas ferroviárias que servem grande parte dos territórios de Baixa Densidade do país, os mais carenciados de infraestruturas de comunicação e conectividade.

Não é difícil perceber o papel que o transporte ferroviário possui, e mantém, na estruturação do território nacional, pelo que é expectável que esse papel crucial seja reconhecido pelos decisores políticos. Mas estas infraestruturas estratégicas precisam de uma série de melhorias e atualizações, como a modernização das vias e a conclusão das eletrificações. Referindo ainda que as viagens necessitam de efetivos ganhos de velocidade e conforto, a instalação de postes rede móvel ao longo das vias-férreas, a disponibilização de informação sonora e visual nas estações, são imperativos de infraestruturas de transporte do século XXI, por exemplo.

Todos os dias assistimos à supressão de comboios. É, pois, essencial atuar com urgência na aquisição de material circulante para todos os serviços, já que as avarias, naturalmente, acumulam-se, num parque de material consideravelmente obsoleto. Por seu lado, o material histórico é excecional, mas deve-se restringir a sua utilização a serviços ocasionais e turísticos. Portugal e os portugueses precisam de mais! Num país de parcos recursos, para atingir tais objetivos, existem várias alternativas. Um bom exemplo é repetir noutro tipo de material circulante o sucesso da modernização profunda realizada nas Carruagens Arco, adquiridas a Espanha, caso seja possível e viável.

Em setembro, em pleno coração da Região Demarcada do Douro, concretizou-se o Seminário “O Turismo na procura pela Sustentabilidade e Inovação em Espaços Rurais” com notícias muito positivas: o comboio histórico do Douro tornou-se rentável, pela primeira vez na história, e haverá uma oferta diversificada de produtos turísticos ferroviários, um pouco por todo o país. Numa abertura institucional louvável, a CP marcou presença no evento e, de forma positiva e construtiva, empenhou esforços para anunciar a materialização destas novas ofertas turísticas. Agora, é necessário que a gestora das infraestruturas (IP) acompanhe estas intenções da operadora, eletrificando e modernizando a linha do Douro até Barca d`Alva.

É essencial que os portugueses percebam que temos de encarar o comboio como parte integrante e essencial da paisagem portuguesa, presente não só no nosso imaginário, mas como elemento fulcral para o desenvolvimento sustentável do território nacional. Esta importância, para além de possuir raízes profundas na história, é estratégica se pretendemos o progresso do país e a aposta num território mais equilibrado, num Portugal mais coeso e sustentável. E, inquestionavelmente, é difícil encontrar uma política pública mais eficaz para promover a coesão e a conectividade dos territórios do que uma aposta clara numa rede ferroviária moderna e territorialmente equilibrada. Aliás, no Programa Nacional para a Coesão Territorial, está explícito esse reconhecimento, embora subsista uma necessidade premente de estruturar uma visão para a ferrovia portuguesa tendo como objetivo a próxima década, ou mesmo a mais longo prazo. Não esquecendo que a rede convencional terá que ser integrada com a rede de alta velocidade, numa lógica de complementaridade.

A academia, os atores locais, as entidades setoriais envolvidas e a sociedade civil possuem um papel de grande relevo na promoção da importância do transporte ferroviário e na manutenção da CP como uma empresa pública estratégica para o país. Com a possível entrada da espanhola estatal Renfe no mercado nacional, é imperativo e urgente um investimento claro e estratégico na ferrovia, mas, acima de tudo, na CP.

QOSHE - Quo vadis, ferrovia? - Diogo Pinto
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Quo vadis, ferrovia?

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24.01.2024

Em pleno século XXI, o desenvolvimento sustentável de um país deve ser impulsionado por uma rede de transportes moderna, eficiente e coesa.

Neste sentido, a ferrovia desempenha um papel crucial em várias dimensões do desenvolvimento e é essencial para se atingir as metas de neutralidade climática até 2050. Assim, é imperativo perceber o estado atual da rede ferroviária nacional, identificar investimentos urgentes e traçar uma visão prospetiva a longo prazo.

Qualquer cliente assíduo do transporte ferroviário em Portugal perceberá que ter um comboio a chegar à estação é hoje um autêntico milagre! Em Portugal, fruto de décadas de ausência de investimento neste setor e de uma estratégia minimalista (ou ausência dela) para o transporte ferroviário, a empresa pública faz um esforço evidente para conseguir cumprir o seu dever de prestar um serviço público de mínima qualidade. E, embora o problema seja sentido um pouco por todas as áreas de atuação da empresa, é notório sobretudo no serviço regional e inter-regional. Aliás, o problema agrava-se nas linhas ferroviárias que servem grande parte dos territórios de Baixa Densidade do país, os mais carenciados de........

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