Os últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) sobre Portugal devem merecer uma séria reflexão e uma aturada apreciação das políticas educativas que estão implementadas no nosso ensino. Através dos seus testes, em que se avaliam os conhecimentos dos alunos de todo o mundo em matemática, leitura e ciência, verifica-se “uma quebra sem precedentes”.

Não é só em Portugal, é um declínio que se constata em toda a Europa. É preocupante: em matemática, os alunos terão perdido o equivalente a um ano de estudo.

Já se apontaram várias causas, sendo rapidamente acusada a pandemia. Terá tido a sua influência, mas a pandemia não justifica tudo. Já havia países em quebra antes da pandemia e países, que sofreram mais os efeitos da pandemia do que os europeus, têm melhores resultados. Os partidos políticos aproveitam logo os resultados para um oportuno momento de pugilismo partidário, flagelando as políticas educativas dos últimos anos. Outros mencionam o facilitismo que se introduziu na escola e na cultura estudantil, a questionável “nova pedagogia” presente na escola e que tem muitas falhas e incongruências. E outras mais se poderão apontar. Talvez seja uma conjugação de todas.

Eu salientava a cultura em que vivem e crescem, hoje, as crianças e os jovens. Estão a crescer num tempo em que há pouco tempo para pensar, há uma estimulação contínua, que nos convida a reagir, a tecnologia está muito presente e ocupa boa parte do tempo, é muito mais fácil, apelativa e rápida, há uma gratificação e um gozo imediato, as redes sociais permitem uma interação instantânea, privilegia-se a diversão. Esta forma de viver tem as suas consequências: perdeu-se capacidade raciocinar, de pensar e refletir, temos menos capacidade de concentração e atenção, algo de essencial para se realizar um bom estudo e se adquirir conhecimento, desaprendeu-se a ter paciência e capacidade de esforço, a ter disciplina, muletas fundamentais para uma boa aprendizagem.

Mas nem tudo é mau. Os jovens compram mais livros e estão a adquirir hábitos de leitura. É uma boa notícia, que dará os seus frutos. Num recente artigo no Diário de Notícias, Guilherme ​​​​​​​d’Oliveira Martins escreve: “Umberto Eco disse-nos que a leitura faz a diferença. Ler significa ir além de uma vida limitada nas fronteiras estreitas do tempo que nos é dado viver. Quem cultiva a leitura e o conhecimento multiplica a sua existência inserindo nela o diálogo com as gerações que nos antecederam.”

QOSHE - Tal cultura, tal escola - Victor Pereira
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Tal cultura, tal escola

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14.12.2023

Os últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) sobre Portugal devem merecer uma séria reflexão e uma aturada apreciação das políticas educativas que estão implementadas no nosso ensino. Através dos seus testes, em que se avaliam os conhecimentos dos alunos de todo o mundo em matemática, leitura e ciência, verifica-se “uma quebra sem precedentes”.

Não é só em Portugal, é um declínio que se constata em toda a Europa. É preocupante: em matemática, os alunos terão perdido o equivalente a um ano de estudo.

Já se apontaram várias causas, sendo rapidamente acusada a pandemia. Terá........

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