Sabemos que cada vez mais há uma atenção, redobrada por ser real e virtual, dos munícipes sobre a manutenção e melhoria dos espaços públicos. Sabemos igualmente que existem muitos constrangimentos em abrir concursos e contratar quem possa assegurar uma manutenção cuidada e diária, face ao desgaste e descuido a que muitas freguesias deste país chegaram. Salvam-se, algumas (!), cidades ou vilas que são sedes de concelho. Nem todas.

No Algarve não somos exceção. Nem no lado bom, nem no mau. Somos iguais à imagem descuidada da maior parte dos espaços públicos de todos os 308 concelhos do país.

Portimão é igualmente uma má imagem de como preservar, cuidar e fazer uma correta manutenção dos espaços públicos municipais.

Temos separadores de via que parecem abandonados aos espaços verdejantes que surgem espontaneamente. Temos pequenos «relvados rebeldes» que nascem a cada esquina ou passeio de centenas de urbanizações. Temos buracos – que não de golfe – em muitos passeios das freguesias todas.

Não se prende só com dinheiro. Com concursos. Com carência de jardineiros ou calceteiros. Prende-se à ausência de persistência, capacidade de recriar oportunidades com o que há e pela ausência de foco.

Para garantir a continuidade da gestão e manutenção dos espaços verdes no concelho de Portimão, nas três freguesias, é óbvio que o dinheiro faz falta. Se uma das respostas era ver o município de Portimão aprovar o aumento das verbas transferidas para as três freguesias que se destinam à gestão e manutenção de espaços verdes e limpeza pública e recolha de resíduos? Também.

Num município que anos antes utilizou um valor que ascende aos 2 milhões euros para resposta imediata à pandemia, que afirma e reafirma ter robustez financeira, creio que não chocaria ninguém e que a oposição de forma responsável acompanharia esta medida de engenharia financeira.

Naturalmente que sabemos o papel importante da EMARP e não só. E há aqui que gerir estes apoios e colaborações. São colaborações que permitem que em Portimão se faça uma gestão de proximidade mais adequada e controlada dos espaços verdes e recolha de resíduos preservando o meio ambiente, a saúde e a qualidade de vida dos nossos munícipes. Com afastamento entre estruturas, decisões laterais e unilaterais é meio caminho andado para uma estrada de sentido proibido que só prejudica a imagem da terra de todos nós.

Tem de existir compromisso de todos os lados. Criatividade de quem propõe as políticas e pode atrair mais capacidade de preservar e manter os espaços públicos. E perseverança a quem executa as políticas para entender que é um caminho de resultados.

O espaço público é aquele «amor próprio» que pouco se dá atenção na atuação autárquica atual, focada em números e contas, mas que muito vale a cada munícipe.

Todos nós gostamos de ver que habitamos num espaço bonito, cuidado e arranjado. Gostamos de andar num passeio sem medos e limpo. Gostamos de ver os jardins tratados e arranjados. São pequenas grandes coisas que mexem com a qualidade de vida e o amor pela terra. Não é para deixar-se para vésperas de eleições. Nem sequer deveria ser considerado em anos eleitorais, devia ser em velocidade cruzeiro todos os dias.

Também não deve ser argumentário populista de uma oposição responsável. Uma força política de oposição deve, isso sim, sendo ou não aceites, estudar e apresentar propostas políticas que visem dar ferramentas de discussão ao executivo. Mesmo que, e em Portimão já aconteceu, de futuro sejam utilizadas ideias da oposição e aplicadas pelo executivo. Ganham os portimonenses.

Neste caso, fica apenas o registo local de que as verbas aparentemente não chegam. E há outras verbas que aqui poderiam ter sido aplicadas. Fica o registo, espalhado também ao nível da comunicação social, que a cooperação aparentemente entre município e parceiros poderia ser melhor.

É evidente que criatividade de potenciar relações com o tecido social para cuidar do espaço público, em Portimão, é inexistente (há bons exemplos em Cascais, como a CERCICA – Cooperativa de Educação, Reabilitação e Capacitação para a Inclusão em Cascais). Em Portimão funciona o óbvio, quase por obrigação contratual. Não há mais anda, ainda.

Porém, fica o amargo de boca do estado a que chegou grande parte do espaço público no concelho de Portimão. Um concelho que se quer vivo, bonito, arranjado para potenciar o amor dos milhares que nos visitam todos os anos e para dar ainda melhor amor próprio a nós, portimonenses, que sentimos isto como ninguém.

É, espaço verde é política. Mais do que peças de projetos e bons textos. É possível. É importante porque são pequenas grandes coisas no nosso dia a dia.

Carlos Gouveia Martins | Autarca na Assembleia Municipal de Portimão.

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Pequenas grandes coisas

38 0
05.01.2024

Sabemos que cada vez mais há uma atenção, redobrada por ser real e virtual, dos munícipes sobre a manutenção e melhoria dos espaços públicos. Sabemos igualmente que existem muitos constrangimentos em abrir concursos e contratar quem possa assegurar uma manutenção cuidada e diária, face ao desgaste e descuido a que muitas freguesias deste país chegaram. Salvam-se, algumas (!), cidades ou vilas que são sedes de concelho. Nem todas.

No Algarve não somos exceção. Nem no lado bom, nem no mau. Somos iguais à imagem descuidada da maior parte dos espaços públicos de todos os 308 concelhos do país.

Portimão é igualmente uma má imagem de como preservar, cuidar e fazer uma correta manutenção dos espaços públicos municipais.

Temos separadores de via que parecem abandonados aos espaços verdejantes que surgem espontaneamente. Temos pequenos «relvados rebeldes» que nascem a cada esquina ou passeio de centenas de urbanizações. Temos buracos – que não de golfe – em muitos passeios das freguesias todas.

Não se prende só com dinheiro. Com concursos. Com carência de jardineiros ou calceteiros. Prende-se à ausência de persistência, capacidade de recriar oportunidades com o que há e pela........

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