A ausência de capacidade de liderar não é um defeito. É uma constatação cada vez mais evidente na sociedade que vivemos. Portimão é uma evidência disso.

Uma cidade demasiado grande para ser gerida como se fosse uma aldeia longínqua do futuro.

Banhados por mar, rio e ria, é normal que tanta espuma confunda os políticos com a expressão «espuma dos dias».

Efetivamente, a Câmara Municipal de Portimão chega novamente à época alta, os meses quentes de verão que atraem sempre muita gente, ao sabor do vento como tem sido recorrente e a viver na espuma… dos dias.

Este ano ainda tentaram, entre placas e diplomas, voltar a restringir qualquer anomalia estratégica à felizmente já distante COVID-19 e as suas restrições. Lá voltaram (já são 100 vezes, não?) a homenagear todos os profissionais, todas as associações, todos os voluntários, todos os espaços e espacinhos. Quase que esta homenagem é tão frequente quanto a Páscoa, o Carnaval e o Natal em Portimão.

Já começa a ser ridícula a tentativa de super aproveitamento político junto dos envolvidos e, pior, sacar apoios a novas associações ano após ano. 2020, 2021, 2022 e 2023. São 4 anos de homenagens repetidas, placas e fitas.

Mas, além desse momento que tem aberto todas as épocas de verão nos últimos três anos, «as homenagens» políticas a quem nada quer de política, vamos avaliar o que há.

Mais uma vez, festivais enormes mas com igual enormíssimo de constrangimentos ao nível de acessos e mobilidade. Não coloco a questão da rentabilidade e do retorno, sei que houve. Sabendo que qualquer que seja esse retorno económico, o município de Portimão desconhece.

Não tem sequer interesse em saber, contenta-se com bons posts nas redes sociais do município de Portimão e vende bem aos munícipes que é «muito bom» termos diversos estrangeiros a conhecer a nossa terra (ou a Avenida Tomás Cabreira, mais isso).

Ok, é uma estratégia. Curta. Mas respeito a (curta) visão de todo o executivo camarário.

Mais uma vez, chegamos à abertura do Festival da Sardinha no primeiro dia de agosto e confundimos um símbolo icónico da nossa história cultural – a Pesca da Sardinha, os pescadores, a faina, a lota, as tradições do Mar – com um «mais um» Festival Musical entre os dias 1 e 6 de Agosto.

A música pode ser boa mas as associações de produtores, de pescadores, culturais e afins não fazem parte do Menu destes dias. Felizmente, há sardinha da boa. Infelizmente, a prioridade é global e nada específica da cultura envolta na Sardinha.

Depois destes dias de músicas, que foram antecedidos por dias de música na Praia da Rocha, o que há de novo? Outro «mais um» Festival Musical de 10 a 12 de agosto, o «Mar me quer». Nada contra. Mais uma vez, e é apenas isso que tenho muito contra, temos um município a nos dar música.

Engraçado, no site do evento, lermos que a melhor forma de chegar à terceira vaga de «concertos musicais de Portimão no Verão» (o Mar me quer) é através do transporte urbano municipal – o «Vai e Vem».

Esse transporte órfão de decisões políticas, que agora o executivo PS rejubila com a diminuição de 20 por cento dos passes. Uma diminuição que é uma medida do Governo (a que Portimão foi até dos últimos concelhos a concorrer), que é paga pelo Estado e aprovada pela Comunidade Intermunicipal do Algarve AMAL.

Uma medida que rejubilam, que de facto torna mais barato e acessível o passe a muitos, mas que é contra aquilo que fizeram em políticas de tornar os transportes mais baratos ou gratuitos em Portimão.

Sim, rejeitaram, o mesmo PS que agora aplaude os menos 20 por cento no passe, a gratuitidade para jovens e maiores de 65 anos quando outro partido (o PSD) o propôs em Assembleia Municipal. Todos votaram a favor, uma larguíssima maioria dos votos portimonenses, mas o PS sozinho votou contra. Ironias.

Os portimonenses não podem ver estas sessões políticas porque o mesmo PS rejeita também as transmissões online em direto. Uns democratas valentes!

Fortes perante os fracos, em salas vazias, mas fraquíssimos se pudéssemos debater perante centenas ou milhares de pessoas desta terra porque já na campanha eleitoral autárquica rejeitaram debates públicos. São factos. Fogem de um bom confronto. Uma pena.

Mas voltemos a esta espécie de «Portimão Summer Music’23». (Bom nome, se usarem, lembrem-se de quem o escreveu primeiro.)

Se calhar, penso, a estratégia do executivo socialista é mesmo tornar Portimão num palco de concertos gigante entre julho e agosto. De setembro a junho sobrevivemos do vazio de estratégia para 12 meses.

Resta saber se cada portimonense vai cair na música certa ou comer gelados com a testa.

Reitero um mesmo ponto: Estes eventos atraem centenas e milhares de pessoas a Portimão.

Essas pessoas geram sempre retorno financeiro ao comércio local e a imensas famílias portimonenses. Não todas as famílias nem todos os portimonenses, obviamente.

Mas, não sei se já o disse anteriormente (alerta de ironia no que acabei de dizer), o município de Portimão não faz patavina da ideia de qual o retorno económico destes eventos. Nem quer saber. E assim não pode vir mentir daqui a algum tempo a dizer que desse retorno vai investir X ou Y porque não sabem.

Prefere a Câmara de Portimão o show-off cíclico de «gastar» cada verão entre ocupação do areal da Praia da Rocha, espalhar música à noite (a pagar por cada portimonense, depois de já indiretamente o terem pago para ser organizado) em cada zona ribeirinha e por fim desconhecer quanto gerou de receita, sabendo apenas que passou bem no Facebook e no Instagram. Uma terra virtual.

Na vida real, essas «Musicalidades da Banda Executiva PS», liderada por Isilda Gomes, valem pouquíssimo ao crescimento à estratégia e vida futura de quem cá quer viver no presente.

Não trazem nada à carência e custos (compra ou arrendamento) ao nível habitacional do Concelho, zero dão à dinâmica comercial do centro histórico de Portimão de forma sustentada, não contribuem (até disferem maior afastamento) à aproximação da sede de concelho às Freguesias de Alvor e da Mexilhoeira Grande ou ainda beliscam a capacidade de atração de turismo diferenciado para lá da juventude (sempre boa) que gosta de um bom festival musical.

Mais uma vez, é bom existirem eventos e promotores privados a procurar Portimão.

Mas o executivo pode assumir que a estratégia é dar-nos Música de julho a agosto e dar-nos silêncio de setembro a junho?

Mais uma vez, iremos reiniciar o período político de setembro sem previsão de um debate do estado do município. Proposto por todos, previsto no regulamento que confere o funcionamento à Assembleia Municipal.

Mas às claras, gostaria eu por exemplo, sem medo de termos o debate a poder ser ouvido ou visto fora da Câmara.

Um bom debate com transmissão online, com acompanhamento das rádios locais e aberto a todos quantos portimonenses queiram assistir ao vivo ao vazio de liderança deste executivo cansadíssimo que é liderado pela presidente Isilda Gomes.

Cansadíssimo, parte desse executivo, mas sem ninguém que saiba ter a força política da presidente Isilda Gomes, que tem, mérito seu, para fazer sombra quando está ausente. Mais faz a presidente Isilda Gomes cansada que os seus Vereadores com pelouro todos juntos quando ela se ausenta.

Andam pela rua. Mas não conseguem apresentar uma ideia que seja em quase metade de mandato. Digam-me uma (não há).

Cansada, a presidente Isilda Gomes tem de tapar os fogos na Educação (fê-lo muito mal). Teve de tentar apresentar algo (não conseguiu) na Habitação, escondendo o desagrado dos munícipes nas suas escolhas.

No Desporto homenageou atletas mas deixou uma Cidade Europeia do Desporto sem infraestruturas (que prometeu, como a pista de atletismo até, e outras existentes, a nossa piscina que precisava de outros sonhos) e sem nada palpável.

Na saúde dá diplomas, tira fotografias e há-de agradecer sempre aos mesmos pelo mesmo e pela mesma coisa que fariam fosse o executivo PS, PSD ou nada (politizar a saúde roça a vergonha alheia) quando continuamos a precisar de voz firme para o setor também em Portimão (o compadrio político faz o PS quase mudo contra o PS na saúde).

Na estratégia de grandes eventos vivemos da força de quem está à frente do Autódromo Internacional do Algarve (AIA), que agradecemos, na ausência de força e criatividade política para fazer sedimentar aquele espaço na Mexilhoeira Grande; igualmente no Aeródromo de Alvor vivemos da capacidade criativa e competitiva dos promotores privados que usam e ocupam o espaço, porque o município nada sabe dizer sobre como dar mais estratégia de crescimento nos Montes de Alvor a este espaço.

E podíamos continuar.

Mas espero que haja um debate sobre o Estado do município para que todo e qualquer portimonense, seja Autarca ou não, possa desafiar, propor e criar melhores rumos que este rumo gasto do PS, cheio de música e vazio de estratégia política para o futuro.

QOSHE - Portimão: Querem-nos dar música de julho a agosto e silêncio de setembro a junho? - Carlos Gouveia Martins
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Portimão: Querem-nos dar música de julho a agosto e silêncio de setembro a junho?

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05.01.2024

A ausência de capacidade de liderar não é um defeito. É uma constatação cada vez mais evidente na sociedade que vivemos. Portimão é uma evidência disso.

Uma cidade demasiado grande para ser gerida como se fosse uma aldeia longínqua do futuro.

Banhados por mar, rio e ria, é normal que tanta espuma confunda os políticos com a expressão «espuma dos dias».

Efetivamente, a Câmara Municipal de Portimão chega novamente à época alta, os meses quentes de verão que atraem sempre muita gente, ao sabor do vento como tem sido recorrente e a viver na espuma… dos dias.

Este ano ainda tentaram, entre placas e diplomas, voltar a restringir qualquer anomalia estratégica à felizmente já distante COVID-19 e as suas restrições. Lá voltaram (já são 100 vezes, não?) a homenagear todos os profissionais, todas as associações, todos os voluntários, todos os espaços e espacinhos. Quase que esta homenagem é tão frequente quanto a Páscoa, o Carnaval e o Natal em Portimão.

Já começa a ser ridícula a tentativa de super aproveitamento político junto dos envolvidos e, pior, sacar apoios a novas associações ano após ano. 2020, 2021, 2022 e 2023. São 4 anos de homenagens repetidas, placas e fitas.

Mas, além desse momento que tem aberto todas as épocas de verão nos últimos três anos, «as homenagens» políticas a quem nada quer de política, vamos avaliar o que há.

Mais uma vez, festivais enormes mas com igual enormíssimo de constrangimentos ao nível de acessos e mobilidade. Não coloco a questão da rentabilidade e do retorno, sei que houve. Sabendo que qualquer que seja esse retorno económico, o município de Portimão desconhece.

Não tem sequer interesse em saber, contenta-se com bons posts nas redes sociais do município de Portimão e vende bem aos munícipes que é «muito bom» termos diversos estrangeiros a conhecer a nossa terra (ou a Avenida Tomás Cabreira, mais isso).

Ok, é uma estratégia. Curta. Mas respeito a (curta) visão de todo o executivo camarário.

Mais uma vez, chegamos à abertura do Festival da Sardinha no primeiro dia de agosto e confundimos um símbolo icónico da nossa história cultural – a Pesca da Sardinha, os pescadores, a faina, a lota, as tradições do Mar – com um........

© Barlavento


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