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Com frases como: “Papa, você quer fazer graça para esse mundo pervertido e destruindo o fundamento do evangelho. ”, “Você é um falsificador da palavra. ”, “Herege! Vergonha! ”, “Luz e trevas não combinam. ”, “Você quer agradar a esse mundo podre. ”, o empresário da fé Silas Malafaia, também conhecido como lobista político de Deus na terra, atacou o Papa Francisco por ter dito que a Igreja Católica irá permitir que os seus sacerdotes abençoem uniões homossexuais, sem que isso seja associado ao casamento religioso. Primeiramente, é preciso compreender que nenhuma igreja, seja católica, protestante ou “evangélica”, que tenha a Bíblia como livro de fé e regra, irá concordar com a união afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Seria incoerente e contraditório, ainda que essa aceitação fosse admitida sob o viés do amor ao próximo, uma vez que a Bíblia, em diversos trechos e sob a égide da vontade de Deus, não é tão amorosa assim com as pessoas. Até aqui o chilique fundamentalista de Malafaia faz sentido e nem devemos tentar convencê-lo do contrário.

O que é preciso fazer, e com certa urgência, é disputar a narrativa bíblica e fazer com que as pessoas reflitam acerca do contexto histórico e humano dos escritos bíblicos tidos como sagrados para muitas pessoas. A começar pela divisão entre Estado e Igreja, algo que foi defendido pelo reformista protestante Martinho Lutero e que os evangélicos neopentecostais brasileiros desconhecem. A Bíblia, assim como qualquer outro livro religioso, não pode estar acima da Constituição das nações porque todo cidadão tem o direito de ir e vir, ser ou não ser, crer ou descrer e existir independentemente de suas convicções e crenças. Católicos, evangélicos, candomblecistas, umbandistas, espíritas, budistas, satanistas ou ateus, são pagadores de impostos (ou quase todos são), têm seus direitos garantidos pela constituição e não podem ser restritos em suas liberdades individuais. Logo, a opinião das Igrejas e de seus líderes a respeito da vida pessoal dos indivíduos, não é relevante para as suas existências. Ou, pelo menos, não deveria ser.

Tal intromissão, inclusive, poderia ser judicializada pelas partes ofendidas e transformada em processo criminal contra as igrejas e seus líderes. Talvez, coubesse uma jurisprudência para atitude caluniosa, difamatória, dano moral ou até mesmo material. Os juristas poderiam se posicionar melhor a respeito desse tema. Quando se atribui a alguém um caráter imoral, impuro, sujo e pecaminoso, em função de sua orientação sexual ou crença religiosa, está se desumanizando esse alguém e o colocando como uma pessoa não merecedora de existir, o que pode fazer com que boa parte da sociedade exclua esse indivíduo de seus ambientes, os relegando a uma condição social e econômica marginal. E eu cito como exemplo a falta de oportunidades no mercado de trabalho para pessoas trans, que ainda são jogadas para a prostituição apenas em função do preconceito religioso estimulado contra elas. Até porque, se não existissem religiões fundamentadas no ódio às diferenças de orientação sexual, tal preconceito não existiria.

Malafaia evoca o duelo luz x trevas para fortalecer o seu argumento contra o Papa Francisco, reforçando a ideia de que os homossexuais são seres do mal cujo comportamento é abominável a Deus. O que, numa sociedade majoritariamente dita cristã, faz com que essas pessoas estejam o tempo inteiro se sentindo inadequadas e pensem, até mesmo, em atentar contra suas próprias vidas, algo que, infelizmente, não é raro de acontecer. A pergunta que vos faço é a seguinte: com que direito e com que autoridade, um ser humano como outro qualquer se posiciona como um validador da existência alheia? Quem é a Igreja e seus líderes para continuarem impondo regras à vida das pessoas? Essa é a pergunta que o Papa Francisco deve ter feito a si mesmo quando resolveu se posicionar publicamente com relação a temas que sempre foram tratados como tabus pelos religiosos, como a homossexualidade. Até porque, sabemos que o ambiente “cristão” é cheio de homossexuais reclusos e contidos pelos dogmas da Igreja. Uma Igreja que mais destrói do que constrói ao longo da história, falsificando o amor de Deus contido no evangelho de Cristo.

Malafaia também disse que não pode abençoar quem fuma, quem bebe ou quem vive junto sem ser casado na Igreja, independentemente de ser hétero ou homossexual. E eu lhes faço outra pergunta: quem é Silas Malafaia para abençoar alguém? Ou quem é o alienado que procura um charlatão usurpador da fé alheia para ser abençoado por ele? É benção ou maldição, receber a aprovação de um homem que enriqueceu às custas da fé alheia, usando o nome Deus para esconder as suas reais intenções? Um sujeito que já vendeu Bíblias por 900 reais prometendo prosperidade material a quem a comprasse. Um sujeito que faz jejum e Deus não atende aos seus pedidos, porque sabe que eles estão imersos em trevas de sentimentos. Aliás, Deus sabe que Malafaia sequer acredita nele como tenta fazer parecer. Ou ele acha que Deus é como as suas ovelhas que se deixam enganar pelo seu discurso hipócrita e estridente?

Ao dizer que o mundo é podre e que o Papa Francisco está tentando agradá-lo sendo permissivo com os seus “pecados”, Malafaia me suscita outra pergunta: por que ele quer continuar nesse mundo podre e pervertido? Aliás, eu estendo a mesma pergunta a boa parte dos evangélicos e religiosos fundamentalistas do país. Se o mundo é tão podre, se vocês não aguentam mais conviver com os ímpios, com os imorais, com os esquerdistas, com os comunistas, com os homossexuais, com os macumbeiros, com os ateus e com todos aqueles que não são os vossos espelhos, por que vocês não pedem para Jesus leva-los deste mundo de trevas e podridão? Por que vocês procuram por médicos formados neste mundo podre quando ficam doentes, se tudo o que vocês querem é ir morar com o senhor? Nenhum de vocês quis morrer de covid, por exemplo, mas apoiaram o presidente que ajudou a matar milhares de pessoas com o seu negacionismo. Se vocês estão convictos de que estarão salvos e habitarão o céu por toda a eternidade, por que não se deixam levar para lá? Façam mais jejuns junto com o Malafaia, deixem de ir ao médico, parem de procurar por curas e milagres nas Igrejas, que vocês deixarão esse mundo de trevas.

Na verdade, eu acho que Jesus desistiu de vir buscar vocês, depois de perceber que seria uma furada leva-los para morar com ele. É céu ou inferno, um lugar habitado por semeadores de ódio, intolerância, preconceito e violência contra a existência de outros seres humanos? É luz ou trevas, ser abençoado por Malafaia, Macedo, Feliciano e outros picaretas que brincam com o nome de Deus como se não houvesse amanhã? De qualquer modo, não custa nada vocês continuarem tentando ir morar com ele. Está escrito para baterem que a porta irá se abrir. Batam incessantemente até que ela se abra e os transportem para o outro lado deste mundo que tanto lhes causa angústia e dor. Vão e não voltem mais. Boa viagem! Apenas se certifiquem de que é Jesus mesmo que estará levando vocês. Eu tenho minhas dúvidas. Mas, de qualquer forma, vão com Deus! Tchau, queridos! Até nunca!


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Silas Malafaia x Papa Francisco: Quem é da luz e quem é das trevas?

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23.12.2023

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Com frases como: “Papa, você quer fazer graça para esse mundo pervertido e destruindo o fundamento do evangelho. ”, “Você é um falsificador da palavra. ”, “Herege! Vergonha! ”, “Luz e trevas não combinam. ”, “Você quer agradar a esse mundo podre. ”, o empresário da fé Silas Malafaia, também conhecido como lobista político de Deus na terra, atacou o Papa Francisco por ter dito que a Igreja Católica irá permitir que os seus sacerdotes abençoem uniões homossexuais, sem que isso seja associado ao casamento religioso. Primeiramente, é preciso compreender que nenhuma igreja, seja católica, protestante ou “evangélica”, que tenha a Bíblia como livro de fé e regra, irá concordar com a união afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Seria incoerente e contraditório, ainda que essa aceitação fosse admitida sob o viés do amor ao próximo, uma vez que a Bíblia, em diversos trechos e sob a égide da vontade de Deus, não é tão amorosa assim com as pessoas. Até aqui o chilique fundamentalista de Malafaia faz sentido e nem devemos tentar convencê-lo do contrário.

O que é preciso fazer, e com certa urgência, é disputar a narrativa bíblica e fazer com que as pessoas reflitam acerca do contexto histórico e humano dos escritos bíblicos tidos como sagrados para muitas pessoas. A começar pela divisão entre Estado e Igreja, algo que foi defendido pelo reformista protestante Martinho Lutero e que os evangélicos neopentecostais brasileiros desconhecem. A Bíblia, assim como qualquer outro livro religioso, não pode estar acima da Constituição das nações porque todo cidadão tem o direito de ir e vir, ser ou não ser, crer ou descrer e existir independentemente de suas convicções e crenças. Católicos, evangélicos, candomblecistas, umbandistas, espíritas, budistas, satanistas ou ateus,........

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