Segundo dados recentes sobre o mercado de trabalho com origem no Instituto Nacional de Estatística (INE), o salário nominal mensal médio por trabalhador em Portugal que abrange para além da remuneração-base, os subsídios de alimentação, os subsídios de férias e outros, aumentou em 2023 para 1 505 euros face ao ano anterior, uma subida de 6,6%. Porém, em termos reais ou do poder de compra salarial expresso pelo salário nominal descontado da inflação, medida pela variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC), na comparação anual, cresceu menos, com uma subida de 2,3%, resultante de um acréscimo do IPC de 3,7% em 2023. Quer dizer, neste ano houve alguma recuperação do poder de compra salarial dos portugueses. Ao invés, em 2022, o salário nominal mensal médio por trabalhador registou um aumento de 3,7%, mas, desceu 4,4% em termos reais, devido a uma mais elevada subida do IPC de 7,8%. Assim, em 2022 e 2023, o salário nominal dos portugueses aumentou, porém, como a inflação foi maior em 2022, neste ano, o salário real perdeu poder de compra salarial. Passa-se a focar os seguintes pontos abaixo indicados.
(1) O INE descreve também como os salários se comportaram no 4º trimestre de 2023. Neste caso, o salário nominal mensal médio por trabalhador cresceu 5,7% para 1 670 euros face a igual trimestre de 2022. Em termos reais ou do poder de compra salarial verificou-se de igual forma um acréscimo de 4,0%. Note-se, contudo, que não houve homogeneidade salarial entre empresas, com as maiores subidas a acontecerem nas indústrias extrativas (10,0%), empresas de um a quatro trabalhadores (6,5%), setor privado (6,3%) e empresas de serviços de mercado com elevada intensidade de conhecimento (9,5%).
(2) A valorização do salário nominal em dezembro de 2023 foi mais relevante no setor privado com um aumento de 6,3%, ao passar de 1 453 euros em dezembro de 2022 para 1 544 euros em dezembro de 2023. Quanto ao salário nominal da Administração Pública (Setor Público) foi de 2 336 euros em dezembro de 2023 contra 2 221 euros em dezembro de 2022, ou seja, uma subida de 5,1%, menor que no setor privado. Mas, qual a justificativa para tais diferenças salariais em 2023? Ora, em função do tipo de escolaridade em que 55,6% dos funcionários públicos possuíam, em média, uma licenciatura face a apenas 24,9% no setor privado.
(3) Pese embora, a subida registada do salário médio em Portugal em 2023, na verdade, tem vindo a situar-se cada vez mais longe do salário médio do conjunto da União Europeia (UE) e, por maioria de razão, face aos países europeus mais desenvolvidos. Para muitos especialistas isto resulta dos baixos níveis de produtividade de Portugal que não atinge 80% da média da UE e pouco mais de 70% da média da Zona Euro, impedindo subidas mais sólidas do salário dos portugueses. Sendo assim, apontam para se ultrapassar este problema estrutural (a longo prazo), que haja mais investimento interno (público e privado) e uma melhoria dos serviços públicos, ou seja, “sem empresas mais produtivas torna-se difícil a economia crescer e, logo, os salários poderem ser mais competitivos.
(4) Por outro lado, Portugal regista um salário mínimo de 820 euros mensais em 2024, situando-se num modesto 11º lugar do ranking do salário mínimo da UE. O Luxemburgo surge no topo da lista apresentado um salário mínimo de 1 614,26 euros mensais. Porém, o cenário torna-se ainda pior quando se refere ao salário médio em Portugal. Assim, em 2013, o salário médio de Portugal para um trabalhador a tempo inteiro cifrava-se em 16 625 euros por ano, quase 43 mil euros abaixo do praticado no Luxemburgo, ocupando um modesto 16º lugar no ranking do salário médio da UE. Por sua vez, em 2023, Portugal com um salário médio maior de 20 483 euros por ano apresenta um crescimento de cerca de 23,0%, posicionando-se no 17º lugar do ranking (16º lugar em 2022), uma subida que entretanto não foi suficiente para o País alcançar à média da UE. Veja-se, a diferença do salário médio português face ao salário médio luxemburguês agravou-se em 2023 para quase 55 mil euros por ano!
(5) Por fim, Portugal tem vindo a crescer no PIB real (em volume) nos últimos anos, porém, ainda abaixo do desejável, pelo que se encontra: (a) a atrasar-se face a outros países semelhantes da UE, tendo sido ultrapassado por vários países do leste europeu; (b) sem grande margem para elevar de forma mais consistente o salário médio devido a baixa produtividade; (c) com uma renovação demográfica, onde estão a sair do mercado trabalhadores mais velhos com salários mais altos, sendo substituídos por trabalhadores mais novos onde o salário foi negociado, mormente no período da crise financeira de 2008/09. Ora, em situações semelhantes, o salário nominal tende a ser mais baixo e os trabalhadores a iniciar a carreira com um salário inferior com efeitos duradouros.
Concluindo, feito o diagnóstico da evolução menos positiva do salário médio em Portugal, levanta-se a questão fundamental do que fazer para tornar as empresas mais produtivas e a economia crescer de forma mais sólida, permitindo criar as condições para subidas mais consistentes do salário médio? Acima de tudo, exige-se a realização de mais investimento interno (público e privado) em quantidade e qualidade: infraestruturas, qualificações de trabalhadores e empresários e desburocratização dos serviços públicos. Se assim for, será expetável que o salário médio de Portugal possa vir a atingir patamares mais elevados e, logo, tornando-se mais próximo do que se encontra em vigor no conjunto da UE.

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“Aumento salarial em Portugal....”

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23.03.2024

Segundo dados recentes sobre o mercado de trabalho com origem no Instituto Nacional de Estatística (INE), o salário nominal mensal médio por trabalhador em Portugal que abrange para além da remuneração-base, os subsídios de alimentação, os subsídios de férias e outros, aumentou em 2023 para 1 505 euros face ao ano anterior, uma subida de 6,6%. Porém, em termos reais ou do poder de compra salarial expresso pelo salário nominal descontado da inflação, medida pela variação do Índice de Preços no Consumidor (IPC), na comparação anual, cresceu menos, com uma subida de 2,3%, resultante de um acréscimo do IPC de 3,7% em 2023. Quer dizer, neste ano houve alguma recuperação do poder de compra salarial dos portugueses. Ao invés, em 2022, o salário nominal mensal médio por trabalhador registou um aumento de 3,7%, mas, desceu 4,4% em termos reais, devido a uma mais elevada subida do IPC de 7,8%. Assim, em 2022 e 2023, o salário nominal dos portugueses aumentou, porém, como a inflação foi maior em 2022, neste ano, o salário real perdeu poder de compra salarial. Passa-se a focar os seguintes pontos abaixo indicados.
(1) O INE descreve também como os salários se comportaram no 4º trimestre de 2023. Neste caso, o salário nominal mensal médio por trabalhador cresceu 5,7% para 1 670 euros face a igual trimestre de 2022. Em termos reais ou do poder de compra salarial verificou-se de igual forma um acréscimo de 4,0%. Note-se, contudo, que não houve homogeneidade........

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