O Instituto Nacional de Estatística de Lisboa (INE) divulgou o seu último documento “Contas Regionais” com dados de 2022, onde se realça dois aspetos, a saber: (I) O Produto Interno Bruto de Portugal “PIB”, (ou riqueza produzida no País em um ano), assim como, o “PIB” de todas as regiões portuguesas segundo o critério NUTS II, superaram os níveis do “PIB” verificados em 2021 e mesmo em relação ao período pré-pandémico (2019); (II) A disparidade ou desigualdade regional expressa pelos “PIB” regionais também aumentou, aliás, uma fragilidade estrutural (a longo prazo) da economia portuguesa. De seguida, far-se-á uma breve abordagem sobre os dois aspetos acima referidos.
(I) Em 2022, em termos nominais (isto é, antes de qualquer desconto da inflação), o “PIB” de Portugal registou um crescimento de 12,2%, face a 2021. Por sua vez, as regiões portuguesas (NUTS II) também apresentaram variações positivas do “PIB” nominal em relação ao ano anterior, sobressaindo os casos Região do Algarve (21,3%), Região Autónoma da Madeira (19,8%) e Área Metropolitana de Lisboa (14,1%). Curiosamente, estas três regiões foram aquelas mais afetadas pela crise pandémica, devido, sobretudo, a acentuada quebra do setor do turismo. Mas, pelo contrário, foram as regiões mais beneficiadas aquando da recuperação económica pós-pandémica, em resultado da forte expansão do mesmo setor do turismo. Quanto as demais regiões os valores do “PIB” regional se situaram aquém da média do crescimento do “PIB” de Portugal (12,2%). Assim, temos, Região Autónoma dos Açores (12,0%), Região Norte e Região do Alentejo (ambos com 10,4%) e, um pouco mais distante, Região Centro (9,1%). Caso se compare a situação em 2022 face ao período pré-pandemia (2019), então, o PIB nominal de Portugal e de todas as regiões ultrapassaram os valores registados em 2019 com uma variação muito similar a assinalada a nível nacional de 13,0%, embora com relevo para a Região Autónoma da Madeira com uma variação de 17,4%,em consequência, como vimos, do importante papel do turismo nesta região portuguesa. Por fim, em 2022, em termos de “PIB” nominal a Área Metropolitana de Lisboa e a Região Norte continuaram a ser as principais regiões nacionais ao concentrarem cerca de 66% do “PIB” de Portugal.

(II) Em termos reais (após o desconto do efeito da inflação), o “PIB” de Portugal subiu 6,8%, registando-se de igual forma um crescimento em todas as regiões, com maior expressão na Região do Algarve (17,0%), Região Autónoma da Madeira (14,2%) e Área Metropolitana de Lisboa (8,2%). A Região Autónoma dos Açores (6,8%) apresentou uma variação igual ao do País, enquanto a Região Norte (5,6%), Região do Alentejo (4,7%) e Região Centro (3,8%) apresentaram aumentos menores. Também aqui, as regiões que revelaram crescimentos do “PIB” menores em 2022 foram as regiões menos afetadas nos dois anos anteriores, uma situação justificada pelo menor peso da setor do turismo nas economias destas regiões. Por sua vez, em termos de “PIB” per capita (por habitante) uma medida de disparidade ou desigualdade regional, verifica-se que o valor mínimo do “PIB” per capita face à média nacional (Portugal=100%) foi mais baixo na Região Norte (85,6%) e o mais alto foi na Área Metropolitana de Lisboa (129,5%). As demais regiões revelaram índices de disparidade ou desigualdade do “PIB” per capita indo desde valores acima da média nacional como nos casos de 113,0% na Região do Algarve, 100,6% na Região Autónoma da Madeira, até valores inferiores, 92,4 % na Região do Alentejo, 89,7% na Região Autónoma dos Açores e 85,7% na Região do Centro, mas, em todos os casos valores superiores ao de 2021. Assim, o aumento da disparidade ou desigualdade regional em Portugal, em 2022, com base no “PIB” per capita, acontece atendendo que o valor da Região Norte baixou 1,4 pontos percentuais (pp.), enquanto o da Área Metropolitana de Lisboa aumentou 2,2 pp. face ao ano anterior.
Por fim, em 2022, como vimos, a maior contribuição para um crescimento mais vigoroso do “PIB” e “PIB” per capita de Portugal e de algumas das suas regiões, deveu-se a forte retoma das atividades económicas ligadas ao setor do turismo, enquanto as quebras do “PIB” e “PIB” per capita, por exemplo, nos setores da agricultura e pesca e da indústria acarretaram um crescimento mais lento em outras regiões. Ou seja, registou-se em Portugal um agravamento da disparidade ou desigualdade regional, um fenómeno que tem sido recorrente (estrutural) da economia portuguesa.
Concluindo, a governação portuguesa deve adotar políticas públicas objetivando, por um lado, um crescimento económico mais sólido e uma redução significativa da disparidade ou desigualdade entre as regiões portuguesas NUTS II. Entre as políticas públicas a avançar, destacam-se: (1) A criação de estímulos à realização de mais investimento em capital fixo (edifícios, máquinas, equipamentos, etc.) de que Portugal tem sido deficitário; (2) O aumento pela via orçamental (OE) do investimento público pelos seus efeitos multiplicadores na economia como um todo; (3) O avanço no OE de discriminação positiva na alocação de recursos financeiros a favor das regiões menos favorecidas; (4) O implementar de incentivos fiscais, económicos e outros, indutores de uma maior mobilidade de pessoas e empresas no território nacional e, assim, combater a pobreza e a desertificação, nomeadamente com a transferência de pessoas e capitais do Litoral para o Interior de Portugal.

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“Portugal regional:?‘PIB’ sobe,...”

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06.04.2024

O Instituto Nacional de Estatística de Lisboa (INE) divulgou o seu último documento “Contas Regionais” com dados de 2022, onde se realça dois aspetos, a saber: (I) O Produto Interno Bruto de Portugal “PIB”, (ou riqueza produzida no País em um ano), assim como, o “PIB” de todas as regiões portuguesas segundo o critério NUTS II, superaram os níveis do “PIB” verificados em 2021 e mesmo em relação ao período pré-pandémico (2019); (II) A disparidade ou desigualdade regional expressa pelos “PIB” regionais também aumentou, aliás, uma fragilidade estrutural (a longo prazo) da economia portuguesa. De seguida, far-se-á uma breve abordagem sobre os dois aspetos acima referidos.
(I) Em 2022, em termos nominais (isto é, antes de qualquer desconto da inflação), o “PIB” de Portugal registou um crescimento de 12,2%, face a 2021. Por sua vez, as regiões portuguesas (NUTS II) também apresentaram variações positivas do “PIB” nominal em relação ao ano anterior, sobressaindo os casos Região do Algarve (21,3%), Região Autónoma da Madeira (19,8%) e Área Metropolitana de Lisboa (14,1%). Curiosamente, estas três regiões foram aquelas mais afetadas pela crise pandémica, devido, sobretudo, a acentuada quebra do setor do turismo. Mas, pelo contrário, foram as regiões mais beneficiadas aquando da recuperação económica pós-pandémica, em resultado da forte expansão do mesmo setor do turismo. Quanto as demais regiões os........

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