É exactamente este o título de um artigo da jornalista Ana Tulha publicado na última edição da revista “Notícias Magazine” e que aborda o alegado fascínio de muitos jovens pela extrema-direita e designadamente pelo Chega.
Logo no lead da reportagem é referido que o “Partido liderado por André Ventura parece granjear redobrada simpatia entre os mais novos. A pujança nas redes sociais, o radicalismo e simplismo do discurso, a saturação face aos partidos tradicionais e o próprio ecossistema político global a isso ajudam”.
É um pouco o que se vai constatando quando lemos os comentários nas redes sociais e os estudos de opinião que vão sendo publicados.
Como referi em crónica anterior, o Chega faz o melhor uso de tecnologias que estão ao serviço de todos (com uma equipa profissional de oito elementos a trabalhar diariamente conteúdos digitais), sobretudo o Tiktok, muito voltado para a juventude, com mensagens manipuladas, mas que são apreendidas como verdadeiras por camadas populacionais que não têm outro tipo de informação, porque, por opção, não leem jornais, não ouvem rádio, nem vêm telejornais, que são plataformas de informação mediadas por jornalistas, que seguramente não deixam passar a desinformação que interessa propagar por essa gente sem escrúpulos. Os apaniguados da extrema direita vivem numa “bolha de ignorância”, propositada, porque é aí que a ideologia se reproduz. E é aí que os radicalismos prosperam.
Não se informam com isenção sobre o que se passa à sua volta e apenas absorvem o que a “bolha” vai debitando, com mestria, há que reconhecer (e não se compreende como é que os partidos ditos tradicionais e fundadores da Democracia não usam as mesmas armas tecnológicas e digitais para fazer passar as suas mensagens e as suas propostas. Todo o discurso extremista vai dar à “subsidiodependência” e à “imigração”.
“Há muita gente que tem bom corpinho para trabalhar e vive às custas do Estado”, refere um jovem citado na reportagem, replicando a ideia propalada pelo partido de Ventura. Não tem certeza de nada, apenas uma convicção: “São coisas que vejo no Twitter.” Seguramente no Twitter do Chega, está bom de ver…
Sobre a imigração, de que o nosso país necessita como pão para a boca para manter a economia em funcionamento, a comunicação continua enviesada e é comum a todos os discursos dos simpatizantes daquela gente: “estamos a sofrer uma invasão de países africanos e do Médio Oriente”. E depois: não é de onde vem quem se dispõe a trabalhar em Portugal por salários miseráveis, entregues a mafias exploradoras de carne humana e que aqui vive em condições miseráveis? E também as comunidades ciganas são um alvo da pontaria extremista, discriminatória, populista e xenófoba dos “cheguistas”.
Como no nazismo, ataca-se o que é diferente, estranho, estrangeiro, alegadamente ameaçador para o homem branco, puro, ariano.
Ana Tulha continua a sua reportagem:
Confrontado com os dados do Observatório das Migrações, que concluiu que em 2022 os imigrantes foram responsáveis por um saldo positivo de 1604,2 milhões de euros da Segurança Social, responde com ceticismo. “Pelo que li, se fossem tratados dados reais, os números não seriam esses”.
Outra jovem citada, corrobora a desconfiança sobre os números oficiais, ainda que o seu contrário seja uma mentira declarada: “Tenho sérias dúvidas que isso seja assim.” A pós-verdade da religião “cheguista” pode colidir com a realidade, mas para os seus fieis o que prevalece são as “visões” de Ventura e dos seus apóstolos, ainda que pintadas de retintas aldrabices.
Ou seja, para os devotos do Chega, neste caso jovens, até as estatísticas oficiais são postas em causa, porque não aderem à realidade paralela que a “bolha” extremista vai criando e disseminando, venenosamente, pelos que se querem deixar intoxicar.
Uma direita populista que tem vindo a crescer eleitoralmente, cavalgando as ondas da insatisfação de sectores sociais e profissionais descontentes com o governo. A habitação é cara, os professores estão insatisfeitos, os polícias, os médicos e os enfermeiros também, muitos jovens optam por emigrar, os hospitais não conseguem dar resposta às necessidades dos cidadãos. E é neste de crise, em alguns casos mais percepcionada que real, que o populismo vai ligar as suas fontes de alimentação, sem valorizar o que tem sido feito ao nível do desemprego, dos mais baixos da Europa, da redução da dívida pública e de outras vitórias de Portugal nos últimos anos, que não dão votos, apesar da sua extrema importância para o presente e o futuro. Mas mensagens complexas não são para estas mentes que se alimentam do que é mais primário, básico e elementar. Por isso, é o segmento partidário que os licenciados e as mulheres têm menos predisposição para apoiar.
Na interessante reportagem da “Notícias Magazine” é referida a opinião de Virgílio Borges Pereira, especializado em Sociologia Política, para quem o Chega trabalha “com um programa pouco sistemático e que tenta chamar à atenção de múltiplas categorias da população. Além de haver uma comunicação feita com base em opiniões pouco fundamentadas, que motivam uma adesão rápida. Alimentam-se visões muito simplistas e polarizadas de realidades muito complexas.”
Por seu turno, Edson Athayde, reputado publicitário brasileiro que trabalhou muito em Portugal, sustenta que “há uma visão muito simplificada, que tende a colher entre os jovens. Sobretudo os que estão menos informados ou são de uma classe social mais baixa.” E ainda há as características próprias desta faixa etária. “O jovem é por natureza um contestador, procura de algum jeito enquadrar-se no Mundo. E isso é difícil, é uma época da vida em que se julga injustiçado e inseguro, em que precisa de se sentir parte de algo. É por aí que a extrema-direita entra. E na verdade se há algo que a caracteriza é que não tem muita vergonha de fazer nada. Se tiver que mentir, mente. Não há pudor.”
Com ligações internacionais óbvias, o Chega tem uma “estratégia muito diferenciada, de informação simples e rápida, veiculada com grande alarido, que é consumida sem controlo e de forma acrítica”, adverte Nelson Zagalo, professor da Universidade de Aveiro.
“Os jovens, em particular os que têm um nível socioeconómico e cultural mais baixo, são particularmente permeáveis a esta linguagem fácil e direta, amplamente repetida”, corrobora Tânia Gaspar, psicóloga clínica e professora universitária.
Mesmo sabendo-se que, nesta altura, os pêndulos estão voltados para a Direita, não se pode deixar de estar preocupado com a facilidade com que os jovens são manipulados por estes cantos de sereia dos populismos e extremismos.
Bruno Madeira, historiador, professor universitário e especialista em extrema-direita, sugere que há uma acção pedagógica essencial a ser feita nas escolas: “É importante que haja sessões de literacia digital, para os jovens aprenderem a distinguir o que é verídico do que não é.”
Certamente uma preocupação que a extrema-direita não verá com bons olhos!!!

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“O que é que os jovens veem no...”

44 0
11.02.2024

É exactamente este o título de um artigo da jornalista Ana Tulha publicado na última edição da revista “Notícias Magazine” e que aborda o alegado fascínio de muitos jovens pela extrema-direita e designadamente pelo Chega.
Logo no lead da reportagem é referido que o “Partido liderado por André Ventura parece granjear redobrada simpatia entre os mais novos. A pujança nas redes sociais, o radicalismo e simplismo do discurso, a saturação face aos partidos tradicionais e o próprio ecossistema político global a isso ajudam”.
É um pouco o que se vai constatando quando lemos os comentários nas redes sociais e os estudos de opinião que vão sendo publicados.
Como referi em crónica anterior, o Chega faz o melhor uso de tecnologias que estão ao serviço de todos (com uma equipa profissional de oito elementos a trabalhar diariamente conteúdos digitais), sobretudo o Tiktok, muito voltado para a juventude, com mensagens manipuladas, mas que são apreendidas como verdadeiras por camadas populacionais que não têm outro tipo de informação, porque, por opção, não leem jornais, não ouvem rádio, nem vêm telejornais, que são plataformas de informação mediadas por jornalistas, que seguramente não deixam passar a desinformação que interessa propagar por essa gente sem escrúpulos. Os apaniguados da extrema direita vivem numa “bolha de ignorância”, propositada, porque é aí que a ideologia se reproduz. E é aí que os radicalismos prosperam.
Não se informam com isenção sobre o que se passa à sua volta e apenas absorvem o que a “bolha” vai debitando, com mestria, há que reconhecer (e não se compreende como é que os partidos ditos tradicionais e fundadores da Democracia não usam as mesmas armas tecnológicas e digitais para fazer passar as suas mensagens e as suas propostas. Todo o discurso extremista vai dar à........

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