Com o resultado eleitoral do próximo domingo em aberto, esta semana poderá ser determinante. É preciso fazer permanecer o eleitorado já cativo e, acima de tudo, ir ao encontro dos indecisos. Que, desta vez, correspondem a uma franja substancial da população.
Não podemos dizer que esta campanha eleitoral tem sido inovadora, criativa ou interessante. A AD tem dado vários tiros no pé, o PS tem andado demasiado a reboque do que faz a direita, o Chega tem usado uma linguagem excessivamente grosseira, a IL tem passado muito despercebida e os partidos de esquerda tem tido dificuldade em impor-se. Também se somam episódios e declarações lamentáveis. O jovem que agrediu com tinta verde Luís Montenegro provocou uma assinalável onda de indignação contra um ativismo climático que tem pisado ostensivamente linhas vermelhas; e o indivíduo que, ontem, em Guimarães, insultou a comitiva de Pedro Nuno Santos, arremessando um vaso da sua varanda mostrou um Portugal intolerante que, nestes 50 anos do 25 de abril, queremos enterrar de vez. Também as deslocações de Paulo Núncio sobre o ressurgimento de um impensável referendo sobre o aborto, para além de extemporâneas, foram desastrosas para a AD.

Algo incompreensível neste tempo de elevado consumo digital tem sido o pouco investimento nas redes sociais. Parte daqueles que ainda não definiram o seu voto são jovens. Que vivem em alta dependência de periféricos móveis através dos quais obtêm informação. Ora, percorrendo as contas das várias candidaturas, deparamo-nos com conteúdos algo monótonos e pouco imaginativos. Parte das publicações corresponde a uma mera réplica daquilo que já foi emitido ou publicado nos média tradicionais ou, então, traduz-se numa acumulação de fotografias onde invariavelmente se insiste em dar a ver o líder e aqueles que lhe são mais próximos.
Onde está a valorização do cidadão? Se há uma caravana a percorrer o país real à procura de autenticidade e unidade nacionais, seria lógico que o eleitor anónimo prevalecesse em qualquer estratégia. Não é assim. As comitivas que passam na rua não têm tempo para conversar com os transeuntes e aquelas que se fecham em salas fechadas para comícios pregam aos convertidos. E quando se abrem canais de comunicação que, pela sua natureza, facilmente integram qualquer pessoa, valorizam-se os do costume, as elites dos partidos.

Na verdade, há muito por fazer em prol de uma democracia com vitalidade e de uma sociedade marcada pelo progresso. Cada um de nós terá a sua escolha mais ou menos definida. É importante que, a 10 de março, isso se traduza num voto. Efetivo. Num contexto de grande incerteza, não são muito otimistas os cenários que temos pela frente. Na ausência de uma maioria absoluta de um partido, serão necessários acordos ou, pelo menos, consensos. E isso será decerto o mais complicado, tendo em conta aquilo que já foi dito pelos diferentes líderes partidários.

A partir de hoje, os líderes vão carregar no registo dramático dos seus discursos, as máquinas partidárias vão continuar a mobilizar alguns “notáveis” no apelo ao voto útil. Seria perspicaz enviar os candidatos pelos diferentes círculos eleitorais ao encontro das pessoas. Falem-lhes dos seus programas, manifestem-lhes a vossa vontade em trabalhar em prol do bem público e mostrem-lhes a vossa empatia. Tão importante como falar para o eleitorado será escutar aquilo que os portugueses têm a dizer aos políticos. É esse exercício que faz falta fazer. Olhando para os alinhamentos noticiosos ou para os conteúdos nas redes sociais, vemos invariavelmente um político que fala, frequentemente de tópicos com pouco interesse para a vida de todos os dias de cada um de nós. Vamos inverter isto nestes dias tão decisivos?

Últimas Ideias

04 Março 2024

E se fosse diferente…

04 Março 2024

José Correia: um self-made man luso-canadiano

Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.

QOSHE - “A semana decisiva ” - Felisbela Lopes
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

“A semana decisiva ”

4 0
04.03.2024

Com o resultado eleitoral do próximo domingo em aberto, esta semana poderá ser determinante. É preciso fazer permanecer o eleitorado já cativo e, acima de tudo, ir ao encontro dos indecisos. Que, desta vez, correspondem a uma franja substancial da população.
Não podemos dizer que esta campanha eleitoral tem sido inovadora, criativa ou interessante. A AD tem dado vários tiros no pé, o PS tem andado demasiado a reboque do que faz a direita, o Chega tem usado uma linguagem excessivamente grosseira, a IL tem passado muito despercebida e os partidos de esquerda tem tido dificuldade em impor-se. Também se somam episódios e declarações lamentáveis. O jovem que agrediu com tinta verde Luís Montenegro provocou uma assinalável onda de indignação contra um ativismo climático que tem pisado ostensivamente linhas vermelhas; e o indivíduo que, ontem, em Guimarães, insultou a comitiva de Pedro Nuno Santos, arremessando um vaso da sua varanda mostrou um Portugal intolerante que, nestes 50 anos do 25 de abril,........

© Correio do Minho


Get it on Google Play