O tempo é de recomeço legislativo! Nada de novo, nada que o país e as democracias não experimentem ciclicamente, ou não fosse este renovar das escolhas dos nossos representantes, este escrutínio do que foi feito e por quem foi feito, esta opção pela renovação, mudança ou ruptura, na esperança do que possa e deva ser feito, aquela premissa estrutural do sistema político e da organização societal que está longe de ser perfeito, mas é, de todos, o mais imperfeito (citação livre daquele que é tido com um dos mais perfeitos políticos “imperfeitos”, Winston Churchill).
A novidade talvez surja em função dos representantes eleitos, dos seus pensamentos e qualidades e do quadro de instabilidade que se percepciona, da falta de sintonia e de credibilidade que se sente. E da falta de confiança, feita mistura doseada de ética, palavra e compromisso entre pares. Talvez aqui se situe a grande novida-de, o grande ponto de interrogação e a grande angústia que invade o espírito e pensamento de tantos “quando o povo vota e escolhe”.

Seja como for, é com o contexto resultante das eleições que um país democrático terá de se governar e ser governado e, felizmente (porque democracia), Portugal não é excepção.
O resultado das últimas eleições legislativas deixa um lastro de imprevisibilidade e instabilidade, consensualmente, grande. Todavia, fundamenta-se também num cenário e panorama financeiro, aparentemente, nunca experimentado de tão positivo e, como tal, nunca tão propício a, equilibradamente, satisfazer e resolver. São as chamadas “contas certas”, o excedente ou o excesso, na prática, aquilo que o país foi capaz de gerar de receita para lá da totalidade da sua despesa!

Estas ditas “contas certas” são apresentadas como a grande conquista e o grande selo de qualidade da governação que agora finda, na tradução (verbalizada por quem a protagonizou) de uma gestão cuidada e prudente do dinheiro de todos nós; no resultado (verbalizada por quem se opôs) de uma gestão egoísta de tudo arrecadar para somar ao invés de tudo distribuir de forma justa, proporcional e equitativa.
A esta expressão poderemos acrescentar o uso e recurso à palavra negociação (que se divide entre a interpretação de cedência e interesse e uma visão realista e bem percepcionada da democracia enquanto exercício de equilíbrio e compromisso); a utilização de palavras tão afirmativas e radicais como “absolutamente”, “totalmente”, entre outras quantas que mais não são do que reflexo inócuo do medo, ou melhor, da falta de coragem em superar o risco do “ruído” (seja lá o que esta palavra, neste contexto, signifique).

E assim, num ambiente de “contas certas”, feito de ambiguidade e divergência perspectiva do seu real significado, se construiu o contexto que o país enfrentará… o que, para começar, não é bom…
Esta parece ser a grande ilação a retirar de toda a situação: a falta de paz para estar, sentar, ouvir, negociar, dialogar, comprometer, equilibrar e partilhar na construção de uma plataforma de entendimento para a conformação de uma comunidade melhor, sempre melhor, independentemente da realidade intrínseca de cada um, para lá dos factores exógenos ao país.
Fisicamente, a guerra é violenta e insana, psicologicamente, a guerra é demolidora de laços e oportunidades. Tudo e todos apresentam estar em guerra e guerrilha permanente, ora propondo moções negativas antes de qualquer coisa; ora anunciando votação desfavorável porque sim, e simplesmente sim; ora mendigando acordo e cedência; ora diluindo e tergiversando no que disse e queria dizer, o que não disse e deveria ter dito…

Poder-se-ia falar de “contas boas”, ou seja, contas equilibradas entre um exercício financeiro e o bem populacional; poder-se-ia praticar a negociação, ou seja, digo o que penso, o outro diz o que pensa e, depois, caminhamos em simultâneo, tentando consolidadamente convergir; poder-se-ia conter e ser mais flexível e atento às possibilidades de não ter sido assim ou poder ser doutra forma… enfim, tudo poderia ser diferente e melhor!
Quanto tempo “este tempo” aguentará? Não se sabe! Dirão muitos que, mesmo assim, é a democracia a funcionar. Sim, seguramente, mas não da forma mais saudável, não da forma potencialmente qualificada que poderia ser… Esta “estado de coisas”, visível aos olhos de todos, parece ter chegado para ficar. Oxalá que não se confirme nem se verifique poema cantado por Adriana Calcanhotto “… chegou. E foi ficando até ficar…”

Últimas Ideias

15 Abril 2024

50 anos de Herman

14 Abril 2024

Deus, Pátria & Família

Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.

QOSHE - “Este tempo está (é) estranho...” - Filipe Fontes
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

“Este tempo está (é) estranho...”

14 0
15.04.2024

O tempo é de recomeço legislativo! Nada de novo, nada que o país e as democracias não experimentem ciclicamente, ou não fosse este renovar das escolhas dos nossos representantes, este escrutínio do que foi feito e por quem foi feito, esta opção pela renovação, mudança ou ruptura, na esperança do que possa e deva ser feito, aquela premissa estrutural do sistema político e da organização societal que está longe de ser perfeito, mas é, de todos, o mais imperfeito (citação livre daquele que é tido com um dos mais perfeitos políticos “imperfeitos”, Winston Churchill).
A novidade talvez surja em função dos representantes eleitos, dos seus pensamentos e qualidades e do quadro de instabilidade que se percepciona, da falta de sintonia e de credibilidade que se sente. E da falta de confiança, feita mistura doseada de ética, palavra e compromisso entre pares. Talvez aqui se situe a grande novida-de, o grande ponto de interrogação e a grande angústia que invade o espírito e pensamento de tantos “quando o povo vota e escolhe”.

Seja como for, é com o contexto resultante das eleições que um país democrático terá de se governar e ser governado e, felizmente (porque........

© Correio do Minho


Get it on Google Play