Estou a ler “As Causas do Atraso Português” de Nuno Palma, Professor de História Económica na Universidade de Manchéster, o qual foi publicado em 2023 e já vai na quarta edição.
A tese do autor é de que o atraso não era inevitável e que remonta ao século XVIII e não a meados do século XVI, como pretendia Antero de Quental em “As Causas da Decadência dos Povos peninsulares nos Últimos Três Séculos”, posição, de resto, acompanhada por outros intelectuais, como Eça de Queirós e Alexandre Herculano. O atraso dever-se-ia não á contrarreforma, mas à descoberta de ouro no Brasil. Sendo que, em meados do século XIX, Portugal já era o país mais pobre da Europa, tendo a maior percentagem de analfabetos (75%) .
E, nem a Monarquia Liberal, nem a Primeira República, nem o Estado Novo conseguiram reverter a situação. Chegados ao século XXI, o país continua a viver de dinheiro fácil, transferido da EU, sob a forma de fundos comunitários, os quais contribuem para o atraso de Portugal e bloqueio do seu desenvolvimento. E, segundo o autor, ” sem as ajudas europeias, Portugal seria entretanto um país mais rico e mais democrático e menos dependente e pedinte”. Os partidos políticos nacionais vivem da distribuição de subsídios. E já que os portugueses estão viciados em subsídios e incapazes de viver sem eles, o autor espera que a EU termine com esta prática.
Os resultados das eleições nos Açores podem ser explicados por esta teoria de subsidiação. O povo votou no governo incumbente, já que se habituou ao RSI e demais subsídios, tanto mais que nos últimos 4 anos aumentou a pobreza e o abandono escolar precoce (26.1%), muito superior ao do continente (6%). Em contrapartida, o rácio da dívida pública atingiu um máximo histórico (6% do PIB da região).
Quer dizer, o governo de Bolieiro criou uma rede de dependências, inimiga da mudança. Mas, a médio prazo, a região vai entrar num processo de subdesenvolvimento acentuado.
Mas, voltando ao livro, o autor centra a sua análise no “século dourado”, durante o qual foi destruída a agricultura e a indústria, já que se tornava mais barato importar do que produzir. Portugal transformou-se, sobretudo depois das Guerras Napoleónicas, numa quintarola de Inglaterra. E não fala do Marquês do Pombal, o qual destruiu a educação, transformando o país no “mais atrasado, o mais ignorante, o menos civilizado, o mais selvagem e bárbaro de todos os países da Europa”, segundo palavras de um viajante francês.
E, termina o autor, apelando ao investimento na educação de qualidade, não medida apenas pelo número de matrículas e anos de escolaridade.
A segunda causa do atraso são as instituições que devem ser robustas e eficientes. E, não pode ser porque alguns políticos delas se apropriam em seu favor, que o país pode ser tratado como antro de corrupção. Esta filosofia levará ao fim do regime democrático porque os agentes políticos deixam de decidir, temendo que qualquer decisão possa ser tomada como favorecendo terceiros.
O monstro, como alguém referiu, vai devorar tudo, tanto mais que quem tem o papel de moderar o sistema e fazê-lo funcionar, há muito se demitiu dessa função, constituindo um fator de tensão.

Últimas Ideias

08 Fevereiro 2024

É hora de tomar medidas mais pesadas para o abuso sexual infantil

07 Fevereiro 2024

Recolha seletiva aumenta, mas pouco...

Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.

QOSHE - “As causas do atraso de Portugal” - J.a. Oliveira Rocha
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

“As causas do atraso de Portugal”

12 0
09.02.2024

Estou a ler “As Causas do Atraso Português” de Nuno Palma, Professor de História Económica na Universidade de Manchéster, o qual foi publicado em 2023 e já vai na quarta edição.
A tese do autor é de que o atraso não era inevitável e que remonta ao século XVIII e não a meados do século XVI, como pretendia Antero de Quental em “As Causas da Decadência dos Povos peninsulares nos Últimos Três Séculos”, posição, de resto, acompanhada por outros intelectuais, como Eça de Queirós e Alexandre Herculano. O atraso dever-se-ia não á contrarreforma, mas à descoberta de ouro no Brasil. Sendo que, em meados do século XIX, Portugal já era o país mais pobre da Europa, tendo a maior percentagem de analfabetos (75%) .
E, nem a Monarquia Liberal, nem a Primeira República, nem o Estado Novo conseguiram reverter a situação. Chegados ao século XXI, o país continua a........

© Correio do Minho


Get it on Google Play