O assunto da localização do novo aeroporto de Lisboa tornou-se num novo passatempo nacional, discutido desde os gabinetes ministeriais aos cafés, passando por múltiplos fóruns de debate na comunicação social.
Projetado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral, o aeroporto de Lisboa foi inaugurado a 18 de outubro de 1942 e entrou em funcionamento no dia seguinte, dois anos após o início da sua construção, com quatro pistas. Era ao tempo Ministro das Obras Públicas e Comunicações e, em acumulação, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o engenheiro Duarte Pacheco, que superintendeu toda a obra. Custou cerca de 43 milhões de escudos (aproximadamente 215 mil euros).
Vinte e sete anos depois, a 8 de março de 1969, Marcello Caetano, que então ocupava a Presidência do Conselho (e Américo Tomás a Presidência da República), mandou constituir o gabinete do novo aeroporto de Lisboa, iniciando oficialmente a discussão sobre a sua relocalização.
Seguiu-se mais de meio século de estudos que custaram cerca de 75 milhões de euros ao erário público.

Em novembro de 2022, o XXIII governo constitucional, sob a liderança de António Costa, criou uma comissão técnica independente (CTI) para fazer o derradeiro estudo (?) destinado a apoiar a decisão política sobre a relocalização do aeroporto de Lisboa. No passado dia 5 de dezembro, como se sabe, a CTI tornou pública a versão preliminar do correspondente relatório, cujas principais recomendações foram: construção do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete e, até este ter um mínimo de duas pistas, manter em funcionamento o aeroporto Humberto Delgado; quando essa nova infraestrutura aeroportuária atingir esse mínimo, desativar o atual aeroporto na Portela de Sacavém. Prevê a CTI que a primeira pista estará concluída em aproximadamente sete anos, com um custo de 3,2 mil milhões de euros ao qual acrescerão mais 4,8 mil milhões de euros para a segunda que não se sabe quando estará edificada. Data de conclusão e valores financeiros para as quatro projetadas pistas não foram sequer conjeturados.

Duas semanas e meia passadas, percebemos que uma decisão política sobre o assunto permanecerá adiada de die in diem. A experiência diz-nos que, se ela chegar a ser tomada e a construção do novo aeroporto se iniciar, o tempo que a primeira pista levará a construir será pelo menos o dobro, ficando, portanto, operacional lá para o início da década de 2040, que a segunda pista precisará de mais umas duas décadas para se tornar realidade e que as quatro projetadas pistas estarão disponíveis no final do século. Demorará demasiado para poder ser útil.

O mais preocupante, todavia, são os custos. Fiquei alarmado com afirmações postas a circular nos últimos dias na comunicação social de que a obra não acarretará quaisquer custos para o Estado e que se pagará a si mesma. Recordei-me que ouvi o mesmo aquando da Expo 98, da Ponte Vasco da Gama, dos estádios do Euro 2004, do Centro Cultural de Belém e da Casa da Música. Os custos finais de todas essas obras foram muito superiores aos anunciados e saíram dos bolsos de todos nós, contribuintes. Ora, no caso do novo aeroporto, quando se calculam 8 mil milhões para as duas primeiras pistas, é quase certo que no fim teremos uma conta astronomicamente maior. Custará demasiado para poder ser vantajoso.
Assim, talvez recomende a prudência que se desista da ideia. Não há vergonha nenhuma nisso. Empenhemo-nos antes em desenvolver o país, sobretudo no plano educativo e cultural, e retomemos o assunto daqui a… 54 anos. ?

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“Procrastine-se um novo aeroporto...”

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23.12.2023

O assunto da localização do novo aeroporto de Lisboa tornou-se num novo passatempo nacional, discutido desde os gabinetes ministeriais aos cafés, passando por múltiplos fóruns de debate na comunicação social.
Projetado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral, o aeroporto de Lisboa foi inaugurado a 18 de outubro de 1942 e entrou em funcionamento no dia seguinte, dois anos após o início da sua construção, com quatro pistas. Era ao tempo Ministro das Obras Públicas e Comunicações e, em acumulação, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o engenheiro Duarte Pacheco, que superintendeu toda a obra. Custou cerca de 43 milhões de escudos (aproximadamente 215 mil euros).
Vinte e sete anos depois, a 8 de março de 1969, Marcello Caetano, que então ocupava a Presidência do Conselho (e Américo Tomás a Presidência da República), mandou constituir o gabinete do novo aeroporto de Lisboa, iniciando oficialmente a discussão sobre a sua relocalização.
Seguiu-se mais de........

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