Não gosta de mim, e não sei o porquê. Talvez já escutado de alguém que lhe confidenciou, ou até mesmo sentiu que não gostaram de si. Porque se valida de forma tão certa que as pessoas, não gostam de nós? Talvez a resposta esteja nas perceções de se “ler pessoas” (comportamentos e atitudes), mesmo que nem sempre corresponda à verdade. Há quem diga que hoje as relações se pautam por “cada qual por si”. Escutar os desabafos de outra pessoa, tornou-se um processo “enfadonho”, “chato” e “cansativo”. Frases como, “Lá vens tu com as tuas más energias”, ou “É sempre a mesma coisa. Estás sempre em mau tempo.”, escutadas por um coração já dilacerado que espera compreensão em vez de mais criticas acresce ainda mais a tristeza. Na verdade, as pessoas parecem gostar mais de falar de si e de querem ser escutadas do que escutarem os outros numa relação de reciprocidade. A reciprocidade é o “estar lá” em todas as horas, boas e más em que o apoio é o porto seguro. Nenhuma relação, seja de que natureza for, tem sempre uma componente afetiva e para que haja equilíbrio tem de haver reciprocidade entre as partes. A reciprocidade não significa “cobrar” ou “ficar a dever”. É sim perceber que, tal como precisa hoje de apoio emocional, certamente que já o prestou em algum momento anteriormente. Quando alguém mostra ou expressa que não gosta de alguém, prende-se por norma, à disfuncionalidade de fatores inerentes à própria pessoa ou a fatores externos.
No que diz respeito à disfuncionalidade de fatores externos, frequentemente, não dizem respeito propriamente à pessoa (o alvo) de quem não se gosta, mas sim a problemas afetos à própria pessoa que expressa. Problemas de natureza pessoal são projetados para outros assuntos não interligados. Neste sentido, quando alguém que não o/a conhece e estão a olhar-se pela primeira vez e consegue entender pelos sinais comportamentais e micro expressões da face que a pessoa em questão mostra não gostar, a “culpa” não é sua. Das duas uma, ou lhe relembra alguém de quem não tem as melhores memórias ou então, evidenciou alguma característica que a mesma gostaria de ter. Por exemplo, é-lhe reconhecido o valor da “arte de bem falar” e está a partilhar uma peri- pécia da sua infância. Quer o/a conheça ou não, se porventura alguém, discordar e falar “por cima” do que está a dizer ou interrompe-lo/a com “não é assim”, “discordo”, “não faz sentido” sem justificação e sem qualquer linha de raciocínio para o que se está a falar, essa mesma pessoa sentiu-se “afetada”, porque sente que deveria estar “no palco” e ser “centro das atenções”. Tende também a “replicar” a abordagem e forma como a pessoa de quem não gosta faz, no tom das palavras, na forma como pronuncia no sentido de mostrar que também “o sabe fazer”. Talvez por tenha a necessidade de “ser visto/a” e pela necessidade de afirmar-se como o /a melhor.
Atrás de um comportamento hostil está escondida uma grande insegurança “invisível aos olhos” . Quando alguém tem atitudes desadequadas, certamente que o melhor será “limitar” o contacto ao essencial. Por outro lado, não se pode esque-cer a disfuncionalidade que se prende a fatores intrapessoais. É por assim dizer “quando algo corre menos bem” na vida e como consequência muitas vezes impercetível “aos olhos” da própria compreensão acaba por condicionar a relação interpessoal com outras pessoas. Quer-se com isto dizer que por vezes não se tem consciência de alguns aspetos como as atitudes e comportamentos que se tem para com os outros que nos vem e analisam, mas que nem sempre se tem essa perceção. Comportamento gera comporta-mento. Uma atitude altiva, mesmo de forma inconsciente, “interdita” a comu- nicação. Um tom elevado na comunicação acompa-nhada de uma atitude reativa na exposição de determinada uma situação, também afastam pessoas, nomeadamente quando se cansado/a, menos bem por problemas pessoais, ou até doente. Toda as pessoas “leem comportamentos”, mas infelizmente também os interpretam à sua maneira. Nem sempre o que pare- ce ser o é. Assim o que pode não ser, pode vir a ser.
Somos o resultado das marcas que deixámos nos outros e os outros em nós.

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“Reciprocidade”

6 0
10.03.2024

Não gosta de mim, e não sei o porquê. Talvez já escutado de alguém que lhe confidenciou, ou até mesmo sentiu que não gostaram de si. Porque se valida de forma tão certa que as pessoas, não gostam de nós? Talvez a resposta esteja nas perceções de se “ler pessoas” (comportamentos e atitudes), mesmo que nem sempre corresponda à verdade. Há quem diga que hoje as relações se pautam por “cada qual por si”. Escutar os desabafos de outra pessoa, tornou-se um processo “enfadonho”, “chato” e “cansativo”. Frases como, “Lá vens tu com as tuas más energias”, ou “É sempre a mesma coisa. Estás sempre em mau tempo.”, escutadas por um coração já dilacerado que espera compreensão em vez de mais criticas acresce ainda mais a tristeza. Na verdade, as pessoas parecem gostar mais de falar de si e de querem ser escutadas do que escutarem os outros numa relação de reciprocidade. A reciprocidade é o “estar lá” em todas as horas, boas e más em que o apoio é o porto seguro. Nenhuma relação, seja de que natureza for, tem sempre uma componente afetiva e para que haja equilíbrio tem de haver reciprocidade entre as........

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