Modero um grupo de reflexão multitemática. Grupo de colegas de empresa. Sessões semanais, em videoconferência, à volta de trinta minutos, ocorrendo em tempo laboral. Uma citação, um poema, uma entrevista, um fragmento de texto literário, filosófico ou político. Esta semana saiu-nos um conto de G. Orwell: «Matar um elefante». Algures no sudeste asiático, um elefante de trabalho rebenta grilhetas e evade-se, semeando morte e pavor. A fera tem de ser capturada, eventualmente abatida. Será liquidada por um agente policial britânico, encarnação do Poder em exercício. Ejecto todos os detalhes, salvo um: o cornaca – tratador/explorador da força de trabalho do animal – parte no sentido oposto ao tomado pelo paquiderme enfurecido. Deveria pôr fim ao frenesim da besta, mas sai espa- vorido na direcção contrária.
Uma história diz-nos coisas, directamente, tanto como de forma subliminar. Surpreendo-me a pensar se os nossos cornacas não insistem em procurar em ponto alheio, aquilo que abdicam de encontrar no sítio devido, se não enchem a boca com soluções que não o são, porque não respondam ao problema que criaram ou que contribuíram para que se protelasse. Vou ao aquecimento global, ao efeito de estufa, à perniciosidade dos hidrocarbonetos como um todo, aos impostos ecológicos, que por pegada aldrabice o sejam.
Vejamos, no portal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – que não passam por climatocépticos – encontra-se uma referência à Pequena Idade do Gelo europeia, ocorrida entre 1300 e 1850. Cento e setenta anos depois, andamos com o credo na boca por causa do aquecimento global. Isto é, durante quinhentos e tal anos arrefeceu, o que agora possa aquecer por um período indeterminado. Isto é, o papel do Homem pode ser estatisticamente irrelevante, na hipótese em que um quadro de peso de factores pudesse ser estabelecido.
Assumindo que o planeta aquece e arrefece conforme lhe dão ganas, conforme a actividade solar é mais de uma forma e menos de outra, diríamos, então, que tudo o que aos transportes respeita, e aos combustíveis fósseis reporta, poderá não passar de mistificações, de um certo partir para um lado, quando deveríamos apostar em palco distinto – por exemplo, não ampliar a impermeabilização dos solos, cessar a desflorestação e insistir no repovoamento arbóreo ignífugo.
Mais, se o automóvel próprio cai na classe dos inimigos públicos, não o será de uma forma ou de outra, independentemente da energia que use? Assim, porque se insiste nas virtudes do veículo eléctrico para as deslocações individuais do dia-a-dia, quando a solução estará numa rede de transportes abrangente, de elevada frequência e tendencialmente gratuita?
E, no que à Braga actual respeita, porque é que se altera o perfil de uma avenida de escoamento, resumindo a uma faixa o que comporta a marcha de transporte colectivo e individual, o primeiro com paragens que implicam interrupção momentânea de fluxo? E uma avaria para entupir tudo!
E o nível de poluição e de engarrafamento da Rua dos Chãos a certas horas: será pelo carro enquanto tal, ou porque a rua já lá esteja há duzentos anos, quando de carroça ou que tais era percorrida? Isto é, o demónio é o carro, ou o desajuste entre o espaço urbano e as necessidades ou imperativos de fluidez?
Equações a uma variante que só cabem em cabecinhas de alfinete. Soluções voluntaristas e aberrativas a traço simples, que só depredam recursos e nos fazem descrer.
E depois louvam a IA, porque a inteligência real seja uma mistificação ou um fóssil ambarino.
NB: Texto escrito por inteligência natural, no que me seja lícito reivindicar.
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Uma história diz-nos coisas, directamente, tanto como de forma subliminar. Surpreendo-me a pensar se os nossos cornacas não insistem em procurar em ponto alheio,........
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