O Município de Braga tem uma área de 183,4 km2, sendo que a área da parte urbana, da cidade, é de cerca de 35 km2. Na área da cidade residem cerca de 150 mil pessoas, ou seja, cerca de 4285 pessoas por km2. O nosso concelho pode ser disperso, mas a nossa cidade não é assim tão dispersa quanto isso.
A cidade está desenvolvida numa zona com um raio de 4 km, cujo centro é a Rotunda das Piscinas. É uma cidade com uma área pequena e onde não deveríamos ter grandes problemas de nos deslocarmos do ponto A para o ponto B. Temos problemas porque a cidade continua a convidar-nos, a obrigar-nos, a fazer todas as deslocações de carro, em vez de fazermos só algumas. Nalgumas partes desta cidade não se está a densificar, mas a permitir a construção de baixa densidade e sem multiplicidade de serviços. Um erro que se cometeu no século passado e é imperdoável de se cometer nos dias de hoje.
Na Holanda, Utrecht, um Município que hoje tem 360 mil habitantes numa área de 99 km2 tem o plano de aumentar o número de residentes em 100 mil até 2040. Entre 2002 e 2019 removeu uma via rápida que cortava a cidade a meio, e transformou-a em ruas calmas, com passeios, com ciclovias, com metro de superfície e com vias de trânsito. Agora quer densificar ainda mais, tendo a mobilidade sustentável como centro do crescimento.
É uma cidade onde, com mais população, é possível deslocar-nos de um sítio para o outro de uma forma eficiente, onde cerca de 20% das deslocações são feitas de carro e as restantes são efetuadas nos modos de transporte sustentáveis: a pé, de bicicleta e de transporte público. Porquê? Porque a cidade privilegia estes três modos de transporte. Porque a cidade tem bons passeios, tem uma rede ciclável bem construída e conectada, tem transportes públicos a circular em sítio próprio, sem o trânsito provocado pelo carro a prender os autocarros e a não permitir cumprir os horários.
Na França, Nantes, um Município com mais de 303 mil habitantes numa área a rondar os 65 km2, os planos são de redução de carros na cidade, sendo que para isso recorreu a uma forte redistribuição do espaço público anteriormente afetado ao carro. Ao implementar o LRT e o BRT na cidade, implementaram também ciclovias. Nas principais avenidas há passeios, ciclovias e canais exclusivos para os transportes públicos. Muitas praças amplas para as pessoas andarem, passearem, estarem.
Acima de tudo, muitos jardins, muitas árvores, muitos espaços verdes e frescos e parques urbanos! Uma cidade densa, com muita população e com muito pouco ruído e poluição ambiental.
Um pouco por toda a Europa vemos cidades com tanta ou mais população do que Braga, a crescer a nível de residentes, comércio, indústria, economia, e que têm como plano a redução de carros, o aumento da densidade e a redistribuição do espaço público para que se passem a ter bons passeios, ciclovias, corredores dedicados para o transporte público e, no fim, algum espaço para o carro.
Em Braga, na Avenida da Liberdade esqueceram-se dos corredores BUS, esperemos que na Júlio Fragata e na Frei Bartolomeu dos Mártires, onde dizem que vão ter canais BRT, não se esqueçam das ciclovias.
Quando as cidades oferecem boas condições para se andar a pé e de bicicleta, condições para os transportes públicos cumprirem horários, onde quem os utilizar ter a confiança de que chega a horas ao destino e o carro pode circular, mas não de uma forma absolutista, cumprindo os limites de velocidades porque o desenho da cidade não permite excessos e protege os mais vulneráveis, então as pessoas passam a usar esses modos de transporte.
Mantendo tudo como estava antes e esperar que com a criação de ciclovias desconectadas umas das outras - sem rede ciclável -, como no Fojo, em 150 metros da Rua António de Mariz, na Avenida da Liberdade ou na Av. João Paulo II, onde nem vias bus conseguiram colocar, não se pode esperar que as pessoas passem a usar outros modos de transporte.
Braga continua a obrigar as pessoas a usarem o carro. A mobilidade induz-se.

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“A cidade densa”

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11.02.2024

O Município de Braga tem uma área de 183,4 km2, sendo que a área da parte urbana, da cidade, é de cerca de 35 km2. Na área da cidade residem cerca de 150 mil pessoas, ou seja, cerca de 4285 pessoas por km2. O nosso concelho pode ser disperso, mas a nossa cidade não é assim tão dispersa quanto isso.
A cidade está desenvolvida numa zona com um raio de 4 km, cujo centro é a Rotunda das Piscinas. É uma cidade com uma área pequena e onde não deveríamos ter grandes problemas de nos deslocarmos do ponto A para o ponto B. Temos problemas porque a cidade continua a convidar-nos, a obrigar-nos, a fazer todas as deslocações de carro, em vez de fazermos só algumas. Nalgumas partes desta cidade não se está a densificar, mas a permitir a construção de baixa densidade e sem multiplicidade de serviços. Um erro que se cometeu no século passado e é imperdoável de se cometer nos dias de hoje.
Na Holanda, Utrecht, um Município que hoje tem 360 mil habitantes numa área de 99 km2 tem o plano de aumentar o número de residentes em 100 mil até 2040. Entre 2002 e 2019 removeu uma........

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