Escrevo esta pequena crónica a 17 de Fevereiro de 2024, precisamente 50 anos depois da tomada de posse do Professor Carlos Lloyd Braga como primeiro reitor da nova (na altura) Universidade do Minho (UM de ora em diante).
Julgo que quando Miller Guerra em 1970 discursou na bafienta Assembleia Nacional defendendo a criação de novas universidades no nosso país, ninguém imaginaria a influência que estas instituições iriam ter nas suas regiões e, à cabeça de todas, a influência que a UM teria na nossa região, nas duas principais cidades do Minho (Braga e Guimarães) e, em boa verdade, em todo o país.
Algumas semanas depois da tomada de posse do Prof. Lloyd Braga caiu o regime liderado na altura pelo ditador de voz suave que era Marcelo Caetano que dois anos antes tinha expresso o seu pensamento politico em “Evolution sans révolution” livro que ainda hoje podemos encontrar à venda online e que no fundo expressava uma ideia de abertura muito ténue do regime, situação que felizmente terminou em 25 de Abril de 1974. A onda de liberdade que percorreu o país permitiu à UM afirmar-se rapidamente como uma referência no panorama nacional, embora com uns anos iniciais mais difíceis, pela inexistência de infra-estruturas em termos de salas de aula, auditórios, biblioteca, laboratórios e até cantinas para os alunos. Quem como eu chegou à UM no ano lectivo de 1981/82 consegue hoje perceber a diferença do edificado (?) existente na altura nos “pavilhões verdes da Rodovia”, nas salas gélidas junto à Gulbenkian, nas salas escuras e húmidas da rua do Castelo, no (belo mas) desconfortável Palácio Vila Flor e comparar essa realidade com a actualidade, nos fantásticos campus de Gualtar e Azurém, para me referir apenas aos principais complexos.
Recordo-me bem que por volta de 1977 no meu 9º ano de escolaridade, foi-me perguntado numa aula de Química na Escola Secundária de Seia, se já tinha escolhido ir para o Porto, Coimbra ou Lisboa, em termos universitários. Orgulhosamente (embora com pouca precisão como se verá a seguir) respondi que ia para Braga ! De imediato ouço por parte da professora a seguinte questão : “mas em Braga há uma universidade ?”. Tirando a imprecisão da UM ser do Minho e não de Braga, imprecisão essa perdoável aos 14/15 anos num mundo sem Internet, é um facto que nessa altura, havia três cidades que competiam pelos (poucos) alunos que iam para a universidade e Braga/Guimarães não faziam parte desse campeonato. Três anos depois mantive a minha opção e num domingo super chuvoso “aterrei em Braga”.
Felizmente pude ver a UM crescer e vê-la a mudar completamente esta cidade. Aqui falo fundamentalmente de Braga pois não conheço Guimarães de forma profunda embora admita que a influência da UM deve também ter sido enorme.
Braga mudou, Braga cresceu e a UM foi um actor principal, sempre na linha da frente. Em primeiro lugar trazendo mais e mais professores, mais e mais estudantes, abrindo a cidade primeiro ao país e depois ao mundo.
Como terminei a minha licenciatura em 1987 já não fui a tempo de estrear os novos campus de Gualtar e de Azurém, que hoje tanto orgulham as duas cidades. A movida empreendedora de Braga, nomeadamente na área das Tecnologias da Informação tem a marca da UM e de entre muitos extraordinários docentes, “tem dedo” do Professor Altamiro Machado, alguém que nos deixou a todos cedo demais.
Recordo também com enorme consideração a imponente figura do Professor Guimarães Rodrigues (outro extraordinário homem que nos deixou há pouco tempo) e a enorme dificuldade que tive em responder(-lhe) negativamente quando me convidou para ficar a dar aulas no final da minha licenciatura.
Penso por vezes como teria sido a minha vida pessoal e profissional sem a UM. Melhor ? Pior ? Não sei, seria de certeza diferente, mas dificilmente teria frequentado uma instituição que tanto me deu e com tanto espírito de corpo como tinha/tem a UM.
Hoje, com uma forte ligação ao IPCA, posso dizer que tive a sorte de como aluno e agora já como empresário, ter estado/estar ligado a duas extraordinárias instituições de ensino superior que ajudaram a mudar a face do país. Sendo um produto orgulhosamente made in UM sou também hoje fiel ao lema do IPCA “uma vez IPCA, IPCA para sempre”, pois revejo naquela casa muito do que foi o espírito pioneiro da UM, adaptada a um período temporal diferente.
Com o passar do tempo, a UM tornou-se algo incontornável na nossa região, mas como tive oportunidade um dia de referir ao reitor da altura … chegará o dia em que se fará o tributo real à importância da UM para a nossa região/país pois acho que ainda não há o distanciamento temporal suficiente para se fazer esse registo.
Num dia de tributo à liberdade que a criação da UM representou após anos de centralização do ensino superior em Coimbra/Porto/Lisboa, não posso deixar de terminar com uma nota um pouco mais triste : como português e também como pai, preocupam-me as declarações do potencial (futuro) presidente dos EUA, ao incentivar o seu parceiro e compincha da Rússia a atacar os países da NATO que não cumpram as obrigações perante esta organização, como é o caso de Portugal embora a obrigatoriedade de investimento de 2% do PIB no orçamento da defesa vá além do ano de 2024 no nosso caso. Lamento que à enorme subida da literacia dos cidadãos trazida pelas UM e IPCA que pululam por esse país não tenha correspondido o aumento de dignidade e amor próprio por parte de alguns concidadãos em relação ao nosso país, parecendo-me assim estranho esta súbita veneração por uma estrela em ascensão na política portuguesa, depois de o ter sido no comentário desportivo em prol de uma dada agremiação desportiva, estrela essa que referiu, não esqueçamos, “se a vitória de Trump se confirmar a democracia vencerá no mundo”.
Ou seja e para que fique claro o potencial (futuro) presidente dos EUA referiu “Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los [aos russos] a fazerem o que quiserem”.
É assim difícil de entender o apoio de cidadãos do nosso país a tão nefanda criatura (Trump) mesmo que por via indirecta ou seja, apoiando em Portugal o grande apoiante de Trump que, para que não fiquem dúvidas, incentiva a Rússia a atacar países como… Portugal.
A criação de universidades e politécnicos conseguiu mudar a face de Portugal e a UM é, para mim, o maior caso de sucesso no nosso país. No entanto, o respeito e amor próprio pelo nosso país não se aprende nessas universidades e politécnicos.

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“17 de Fevereiro de 1974 – Uma...”

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23.02.2024

Escrevo esta pequena crónica a 17 de Fevereiro de 2024, precisamente 50 anos depois da tomada de posse do Professor Carlos Lloyd Braga como primeiro reitor da nova (na altura) Universidade do Minho (UM de ora em diante).
Julgo que quando Miller Guerra em 1970 discursou na bafienta Assembleia Nacional defendendo a criação de novas universidades no nosso país, ninguém imaginaria a influência que estas instituições iriam ter nas suas regiões e, à cabeça de todas, a influência que a UM teria na nossa região, nas duas principais cidades do Minho (Braga e Guimarães) e, em boa verdade, em todo o país.
Algumas semanas depois da tomada de posse do Prof. Lloyd Braga caiu o regime liderado na altura pelo ditador de voz suave que era Marcelo Caetano que dois anos antes tinha expresso o seu pensamento politico em “Evolution sans révolution” livro que ainda hoje podemos encontrar à venda online e que no fundo expressava uma ideia de abertura muito ténue do regime, situação que felizmente terminou em 25 de Abril de 1974. A onda de liberdade que percorreu o país permitiu à UM afirmar-se rapidamente como uma referência no panorama nacional, embora com uns anos iniciais mais difíceis, pela inexistência de infra-estruturas em termos de salas de aula, auditórios, biblioteca, laboratórios e até cantinas para os alunos. Quem como eu chegou à UM no ano lectivo de 1981/82 consegue hoje perceber a diferença do edificado (?) existente na altura nos “pavilhões verdes da Rodovia”, nas salas gélidas junto à Gulbenkian, nas salas escuras e húmidas da rua do Castelo, no (belo mas) desconfortável Palácio Vila Flor e comparar essa realidade com a actualidade, nos fantásticos campus de Gualtar e Azurém, para........

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