Segundo registos históricos e científicos, o Homem sempre se movimentou neste Planeta. Iniciando as migrações a partir de África, espalhou-se por todos os continentes há cerca de 300 mil anos, numa época em que o clima permitia maior proximidade entre estes grandes blocos terrestres.
As razões das migrações de outrora são aproximadamente as mesmas das de hoje: Procurar uma vida melhor.
A organização territorial que designamos como Impérios, Nações e Estados, que implicam a delimitação de domínios de poder - as fronteiras - é bastante recente, o que significa que durante muitos milhares de anos o Homo Sapiens pode movimentar-se pelo Mundo de forma mais livre, mas não menos facilitada por outros, nem sem riscos de sobrevivência.

Ao fixar-se em territórios com climas bastante diferentes o Homem foi-se adaptando às condições físicas que melhor serviam as suas naturais exigências de sobrevivência. Os tempos milenares foram moldando os corpos para melhor adaptação das condições de cada habitat, dando origem a pequenas diferenças exteriores, que passamos a designar por raças. Contudo as caraterísticas próprias do Homem, do seu ADN à inteligência, mantiveram-se iguais apesar destas diferenças. A Humanidade é única.
O sucesso do Homem no aproveitamento das condições naturais ao seu modo de vida fez com que ele se multiplicasse em número, exigindo mais territórios e recursos. Ora, esses espaços e riquezas não se encontram equilibradamente distribuídos pelo globo terrestre. Ou seja, existem lugares que se apresentam com muitos recursos e com condições para uma vida boa, e outros com insuficiência de tudo e agressivos para a própria vida. A abundancia e a escassez são condições que sempre existiram, obrigando à procura dos locais que oferecem melhores oportunidades por todos.

O Homem soube também encontrar formas de reproduzir alimentos e outros bens, moldando espaços para uma vida melhor, nomeadamente através do trabalho. Nem todos o conseguiram fazer com igual sucesso. Na verdade, não são iguais as condições naturais da terra, como desiguais são as atitudes perante as dificuldades. Distintas capacidades, empenho e criatividade geram diferentes resultados, razão da existência de diferentes desenvolvimentos civilizacionais. Essas diferentes evoluções económicas e sociais foram-se enraizando e transformando-se em modos de vida distintos ao longo do tempo, formando as identidades próprias de cada povo. As Religiões tiveram, e têm, aqui um enorme papel, solidificando essas diferenças culturais em credos que que facilitaram a licitude de domínio territorial, facilitando a cristalização de hábitos sociais que se transforam em costumes e em leis, dando origem a civilizações distintas.
O Homem, estruturalmente semelhante, tornou-se civilizacionalmente diferente.

A vida, contudo, continua a exigir necessidades e recursos semelhantes. Todos precisam de alimentos adequados e de espaços para se reproduzirem e prosperarem. A disputa de bens escassos e territórios mais acolhedores obriga a lutas para o seu acesso. Os mais fortes, unidos e capacitados tornam-se mais capazes e com um poder maior. Quem tem esse poder, escolhe onde o quer exercer. As maiores migrações aconteceram em resultado das conquistas que as guerras proporcionaram. Não houve impérios sem conquistas guerreiras e domínio do conquistado. Não há Nações nem Estados sem fortes lutas para lhes garantirem o domínio de um espaço que apelidamos de Independente. Muitos dos povos que dominavam um território, perderam-no para outros. As Américas (Norte, Centro e Sul) são povoadas por povos conquistadores que ali permaneceram por domínio dos autóctones.

A Austrália e Nova Zelândia tiveram processo semelhante, assim como outros territórios no Atlântico, Indico e Pacífico. Hoje, apesar do avanço civilizacional e da criação das Nações Unidas, não faltam exemplos de conquistas (ou tentativas) de territórios de outros, vejam-se os casos de Marrocos, da Rússia, da China, Israel, ou Venezuela. Sempre houve povos que foram sendo oprimidos até á sua anulação ou mesmo extinção, não faltando ainda hoje exemplos disso, como a dos Curdos, dos Rohingas, dos Índios das Américas, ou dos Aborígenes da Oceânia. Tal como sempre, continua hoje a não haver direitos históricos adquiridos para sempre. Prevalece a Lei do mais forte.
Claro que vivemos num tempo em que o Direito Internacional prevalece, mas nada valem as Leis e os Tratados contra exércitos poderosos e bem armados, sobretudo se forem chefiados por ditadores. Já não há grandes conquistas que abriam rotas de emigração dos povos vencedores. Hoje, uma boa parte dos migrantes foge das guerras e da opressão. Estes refugiados temporários, acabam por se fixar nos territórios de quem os acolhe. Há também milhares que fogem da fome e dos países sem futuro. Há quem procure simplesmente a melhor oportunidade de vida, aquela que a sua terra não lhes parece ser capaz de oferecer. Há quem seja desejado, mas a maioria parece indesejada, acabando por acicatar a xenofobia que cada povo incorpora. De todos falarei na próxima crónica.

BOM NATAL PARA TODOS.
Lembrem-se que há milhões de pessoas cujos bons votos de felicidade não lhes fazem grande proveito. Lembrem-se deles e da sorte que temos.

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“Migrações I”

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26.12.2023

Segundo registos históricos e científicos, o Homem sempre se movimentou neste Planeta. Iniciando as migrações a partir de África, espalhou-se por todos os continentes há cerca de 300 mil anos, numa época em que o clima permitia maior proximidade entre estes grandes blocos terrestres.
As razões das migrações de outrora são aproximadamente as mesmas das de hoje: Procurar uma vida melhor.
A organização territorial que designamos como Impérios, Nações e Estados, que implicam a delimitação de domínios de poder - as fronteiras - é bastante recente, o que significa que durante muitos milhares de anos o Homo Sapiens pode movimentar-se pelo Mundo de forma mais livre, mas não menos facilitada por outros, nem sem riscos de sobrevivência.

Ao fixar-se em territórios com climas bastante diferentes o Homem foi-se adaptando às condições físicas que melhor serviam as suas naturais exigências de sobrevivência. Os tempos milenares foram moldando os corpos para melhor adaptação das condições de cada habitat, dando origem a pequenas diferenças exteriores, que passamos a designar por raças. Contudo as caraterísticas próprias do Homem, do seu ADN à inteligência, mantiveram-se iguais apesar destas diferenças. A Humanidade é única.
O sucesso do Homem no aproveitamento das condições naturais ao seu modo de vida fez com que ele se multiplicasse em número, exigindo mais territórios e recursos.........

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