Há temas cuja abordagem causa sempre algum melindre, por isso raramente são abordados por aqueles que escrevem artigos de opinião.
Vivemos aliás num mundo onde cada vez menos são toleradas diferenças de opinião e onde quem manifesta a sua discordância nalguns aspectos é quase sempre agredido verbalmente com rótulos preconceituosos.
Numa altura em que o Sistema Nacional de Saúde se debate com problemas de financiamento, numa altura em que doentes adultos e crianças ficam privados de tratamentos farmacológicos altamente dispendiosos para determinadas doenças, será legítimo investir milhares de Euros em equipas multidisciplinares complexas de mudança de sexo ao nível do SNS?
Num momento em que milhares de doentes aguardam meses e anos por consultas, exames e cirurgias urgentes, algumas oncológicas, por falta de recursos humanos e técnicos necessários, será legítimo que os doentes que pretendam mudar de sexo vejam estruturas dedicadas, bem organizadas a orientar os seus casos com a celeridade que a lei e a regulamentação o permitem?
Num momento em que o Sistema Nacional de Saúde não permite a realização de cirurgia de colocação de implantes mamários, bem como diversas cirurgias plásticas por considerar que se trata de cirurgias estéticas, (deixando em aberto naturalmente a excepção para casos de reconstrução mamária por origem tumoral ou traumática, bem como outros casos excepcionais), obrigando estes doentes a recorrer ao privado para ver as suas cirurgias efectuadas, será legítimo aceitar que o mesmo SNS patrocine na totalidade as cirurgias de mudanças de sexo com o argumento de que aquelas pessoas não se identificam com o seu corpo e tal causa-lhes perturbação psicológica? Já alguém questionou uma mulher que nasceu com um volume excessivo mamário ou um volume muito deficitário mamário se se sente bem com o seu corpo? Tal também não lhe condiciona o seu estado psicológico? Já alguém perguntou a uma pessoa com um nariz de tamanho exagerado se se sente bem com o seu corpo?
Nesta altura, estarão alguns leitores a pensar: “mais um que é contra as mudanças de sexo…”
Ora nada mais errado!!! Optar por essa via de discussão, é não querer ver o problema, é querer discutir argumentos procurando rotular pessoas, para tentar ganhar a discussão.
Aquilo que aqui quero discutir, levando a uma reflexão, não é a mudança de sexo, mas apenas se o Serviço Nacional de Saúde o deve comparticipar ou não. Por outras palavras, aquilo que questiono é qual a legitimidade do Serviço Nacional de Saúde para comparticipar este tipo de situações pouco frequentes mas que envolvem equipas, tratamentos e cirurgias altamente dispendiosas, quando não o faz em relação a outras patologias mais frequentes ou quando não tem capacidade de resposta atempada a doenças cuja prevalência na sociedade é extremamente elevada. Questiono se não estaremos na presença de uma dualidade de critérios, ou de uma alteração deliberada de prioridades, condicionada pelo estigma de discriminação? Será este mais um exemplo da opressão silenciosa das minorias?
É importante que a sociedade comece a debater estes problemas de forma aberta e direta, sem donos da verdade, mas sem que ninguém tenha receio de o fazer. O direito à opinião é um valor incontestável das Democracias, e querer amordaçar esse direito com intimidação, com agressividade, com a atribuição de rótulos, é o maior sinal de intolerância, e de ausência de espirito democrático.
Reflitamos todos um pouco sobre o tema…

QOSHE - uma obrigação do SNS??? - Luis Teixeira
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uma obrigação do SNS???

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31.01.2024

Há temas cuja abordagem causa sempre algum melindre, por isso raramente são abordados por aqueles que escrevem artigos de opinião.
Vivemos aliás num mundo onde cada vez menos são toleradas diferenças de opinião e onde quem manifesta a sua discordância nalguns aspectos é quase sempre agredido verbalmente com rótulos preconceituosos.
Numa altura em que o Sistema Nacional de Saúde se debate com problemas de financiamento, numa altura em que doentes adultos e crianças ficam privados de tratamentos farmacológicos altamente dispendiosos para determinadas doenças, será legítimo investir milhares de Euros em equipas multidisciplinares complexas de mudança de sexo ao nível do SNS?
Num momento em que milhares de doentes aguardam meses e anos por consultas, exames e cirurgias urgentes, algumas oncológicas, por falta de recursos humanos e técnicos........

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