Sim, à boca cheia e não miudinha. Quero falar do que vejo por estes municípios onde também se inclui o meu. Sem pruridos políticos, pois que as ideologias há muito ganham pó na prateleira e a prática não nos diz quais as diferenças entre os vários lados da barricada. Até porque nestas coisas, gosto mais de falar de gestores da coisa e da causa pública. E aí, valham-nos os santinhos todos. É vê-los a correrem uns atrás dos outros, e a ideia que algum viu lá fora, nas viagens que alguns programas permitem, é replicada como se não existisse contracorrente, como se não fosse possível inovar. São os passadiços que se fazem mesmo onde pouco existe para mostrar. São as janelas para o mundo. São as rampas que simulam o precipício. São os centros interpretativos que não interpretam nada. São os festivais gastronómicos com cartazes musicais a fazer pensar onde se vai arranjar dinheiro para pagar aquilo tudo. São as atividades de Natal a repetir o plástico e o mundo encantado que nada tem a ver com a nossa cultura. É um ruído visual e sonoro que chega a ser poluição, pois que a certa altura é um déjà vu que entristece e amortece. Acredito que tenham muitos visitantes nestes eventos e que se repitam nas redes sociais as fotografias enfeitadas, mas precisávamos de tanto mais!
E, para além do pensar baixinho, é o gastar, sem pensar, que é o dinheiro de todos nós que anda na baila. É que na sede que os pequenos príncipes feitos presidentes de câmara têm, aparecem, nem a propósito, as empresas de eventos que, não percebendo nada do assunto, mas tendo uma boa escola comercial, apresentam propostas que vão ter imenso eco nas redes sociais e nos media. E lá vamos nós todos pagar uma ideia que, em muitas vezes, é mais espetáculo do filme que se faz (e que se paga) do que a realidade. O discurso bem-falante com muitas palavras em inglês encanta quem quer o seu município nas bocas do mundo, nem que seja só na ficção, porque na realidade, pouco acontece. Tantas vezes que, nas minhas viagens, aproveito para ir ver aquele lugar que ouvi falar e, qual o meu desalento, quando chego lá e percebo as ruas vazias e a pouca ou moribunda atividade comercial. É preciso muito mais do que vaidade para ser gestor da causa pública. É preciso visão e vontade, não de gastar dinheiro e impressionar com algo que tenha a duração de um foguete, mas de proporcionar a mudança que dá vida. Não podemos continuar a viver num mundo encantado, pois que a realidade diz que não, não existe.

QOSHE - À Mesa com Portugal – À Boca Cheia - Olga Cavaleiro
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À Mesa com Portugal – À Boca Cheia

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08.12.2023

Sim, à boca cheia e não miudinha. Quero falar do que vejo por estes municípios onde também se inclui o meu. Sem pruridos políticos, pois que as ideologias há muito ganham pó na prateleira e a prática não nos diz quais as diferenças entre os vários lados da barricada. Até porque nestas coisas, gosto mais de falar de gestores da coisa e da causa pública. E aí, valham-nos os santinhos todos. É vê-los a correrem uns atrás dos outros, e a ideia que algum viu lá fora, nas viagens que alguns programas permitem, é replicada como se não existisse contracorrente, como se não fosse possível inovar. São........

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