Ser consumidor é ser um ativista, um militante que acredita que as suas escolhas podem ser parte do exercício da cidadania. Por isso, ter acesso à informação será meio de alcançar escolhas mais esclarecidas. Contudo, é preciso muito mais do que isso, pois uma escolha adequada do que comemos obriga a uma lufa-lufa atrás do que pode ser bom ou menos bom. Em muitas situações, sem tempo ou disponibilidade económica para saber tudo sobre os ingredientes que utilizamos, optamos pelo que ouvimos, pelas recomendações que vêm de organizações consideradas idóneas e que sossegam a nossa ânsia. Mas aí, por vezes, é onde começa a confusão. A ciência parece uma manta que se puxa para cobrir o discurso político, a ambição comercial ou o lobby particular do sistema alimentar. Do mesmo modo que, outrora, as determinações religiosas determinavam o que comíamos ou não e em que dias, hoje, temos discursos, também eles poluídos com ideias políticas ou comerciais, acerca do que devem ser as nossas escolhas.
Nada fácil, portanto, saber o que se escolher. A escolha do peixe, por exemplo, parece quase um beco sem saída. Entre o peixe fresco pescado perto da costa, onde a acumulação de metais pesados e as técnicas de pesca deixam algumas dúvidas, ao que é pescado em alto mar e congelado de imediato, ao que nos chega de produções de aquacultura, ficamos sem saber o que escolher. Nós bem que queremos tomar partido pelas melhores opções, mas é confuso sabermos como. Sabemos que a aquacultura não é uma técnica recente, não tendo por isso de ser vista como uma novidade agressiva. Por outro lado, também sabemos que nem todas as explorações podem ser incluídas nas descrições de produção intensiva onde em tanques superlotados os peixes são alimentados a ração e tratados com produtos farmacêuticos para evitar doenças. Mas, para o consumidor que precisa de informação útil, como saber o que escolher? Sempre que me aparece um robalo, uma dourada ou um pregado na mesa fico na dúvida. É claro que o sabor é um excelente tira-teimas, pois que carne flácida e muito gordurosa dá sinal da alimentação e tratamento que o peixe teve. Mas já é tarde demais, já está no prato. É claro que se está à venda é porque foi autorizado, mesmo quando o sabor revela uma produção péssima. Mas, pergunto, será isto que queremos para o futuro da nossa alimentação? Onde fica a verdade?

QOSHE - À Mesa com Portugal – Saber o que se Come - Olga Cavaleiro
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À Mesa com Portugal – Saber o que se Come

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24.11.2023

Ser consumidor é ser um ativista, um militante que acredita que as suas escolhas podem ser parte do exercício da cidadania. Por isso, ter acesso à informação será meio de alcançar escolhas mais esclarecidas. Contudo, é preciso muito mais do que isso, pois uma escolha adequada do que comemos obriga a uma lufa-lufa atrás do que pode ser bom ou menos bom. Em muitas situações, sem tempo ou disponibilidade económica para saber tudo sobre os ingredientes que utilizamos, optamos pelo que ouvimos, pelas recomendações que vêm de organizações consideradas idóneas e que........

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