Encontra-se a decorrer até 12 de Dezembro, no Dubai, a 28ª Conferência de partes (COP, no acrónimo inglês) que reúne os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.
Nos dias que correm, e apesar das múltiplas emergências humanitárias que afligem o mundo (como na Ucrânia ou no Médio Oriente), esta Conferência é possivelmente o mais importante encontro multilateral mundial sobre o futuro da humanidade, atendendo ao previsível impacto global das alterações climáticas na vida das gerações presentes e futuras.
Não espanta por isso que os líderes religiosos em geral, e o Papa em particular, vão exprimindo a sua preocupação sobre as ações e, sobretudo, as inações, de natureza política. Seguindo e aprofundando um caminho trilhado decisivamente por Bento XVI, o Papa Francisco tem acompanhado este tema com uma atenção profunda, desde o início do seu pontificado. Tem em particular sublinhado constantemente o impacto que a falta de ação das populações mais privilegiadas tem na vida e no futuro das nações e povos mais frágeis.
Assim, enquanto documento de preparação da COP28, por parte da Igreja Católica, Francisco publicou no passado dia 4 de Outubro a exortação “Laudate Deum” sobre a crise climática. Este documento destaca-se por, sendo dirigido a todas as “pessoas de boa vontade”, independentemente do seu credo, se centrar em fazer uma revisão das múltiplas evidências e consensos científicos acumulados sobre a origem humana das alterações climáticas. Este conhecimento está sujeito a permanente aperfeiçoamento e revisão, no normal desenrolar da ciência. Naturalmente, o Papa tem sabedoria para oferecer, de natureza moral e espiritual, necessária para iluminar e complementar o conhecimento científico. Contudo, a exortação “Laudate Deum”, sendo destinada a todas as pessoas de boa vontade, permanece deliberadamente assética, sistematizando de forma neutra informação tão objetiva e consensual quanto possível. Para que todos a possam ler.
A sabedoria e iluminação de líder espiritual, reservou-a Francisco para o discurso que preparou para a própria COP, no passado dia 2 de Dezembro (e que os problemas de saúde impediram de proferir pessoalmente). De facto, neste discurso oferecido aos chefes de estado presentes no Dubai, Francisco imediatamente declara: “Estou convosco porque a destruição do meio ambiente é uma ofensa a Deus, um pecado não só pessoal mas também estrutural, que põe em grande perigo todos os seres humanos, especialmente os mais vulneráveis entre nós, e ameaça desencadear um conflito entre gerações. Estou convosco porque as alterações climáticas são “uma questão social global e intimamente relacionada com a dignidade da vida humana”. Estou convosco para levantar a questão a que temos de responder agora: Estamos a trabalhar por uma cultura da vida ou por uma cultura da morte? A todos vós dirijo este apelo sincero: Escolhamos a vida! Escolhamos o futuro!” Possam todas as pessoas de boa vontade beneficiar destes pedaços de sabedoria científica e espiritual oferecidos pelo Papa, agindo e exigindo ações concretas que, antes de merecer o Céu, se destinem a merecer verdadeiramente a Terra.

QOSHE - O Papa e as alterações climáticas - Rui César Vilão
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O Papa e as alterações climáticas

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11.12.2023

Encontra-se a decorrer até 12 de Dezembro, no Dubai, a 28ª Conferência de partes (COP, no acrónimo inglês) que reúne os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.
Nos dias que correm, e apesar das múltiplas emergências humanitárias que afligem o mundo (como na Ucrânia ou no Médio Oriente), esta Conferência é possivelmente o mais importante encontro multilateral mundial sobre o futuro da humanidade, atendendo ao previsível impacto global das alterações climáticas na vida das gerações presentes e futuras.
Não espanta por isso que os líderes religiosos em geral, e o Papa em particular, vão exprimindo a sua preocupação sobre as ações e, sobretudo, as inações, de natureza política. Seguindo e aprofundando um........

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