Ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear…. Estar consciente, estar atento, pensar, compreender, falar, escrever, memorizar… Andar, correr, saltar, sorrir, brincar, amar… enfim… viver! Sentirmo-nos seres humanos totais, completos, preenchidos, felizes e equilibrados é feito de tudo isto e muito mais. E é um pouco de algumas ou de todas estas funções, capacidades e valências que podem desaparecer de um segundo para o outro em quem sofre um AVC. Num segundo toda uma vida muda. Toda a realidade que conhecemos se altera.

É como se a vida quisesse ajustar contas connosco, por todos os comportamentos de risco, por todos os descuidos com a saúde, por todo o stress que teimamos em deixar que se apodere da nossa vida.

O excesso de sal, de gorduras e de açúcar, o excesso de peso, o consumo de tabaco, o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo e todos os fatores que podemos e devemos controlar acabam a passar a fatura. E, nesse momento, tudo passa a depender de um tratamento atempado e eficaz. Que nem sempre chega, porque tarda a identificação dos sintomas ou a chegada da vítima de AVC ao hospital.

Felizmente, com o desenvolvimento da Via Verde AVC, que pode ser activada através do contacto com a linha 112, é possível fazer chegar estes doentes de forma rápida a Unidades de AVC, onde profissionais devidamente formados proporcionam tratamentos cada vez mais eficazes. “Tempo é cérebro” e agir de forma rápida é crucial para obter os melhores resultados, salvando vidas e diminuindo os impactos a longo prazo de uma doença tão incapacitante.

Ainda assim, cerca de metade das vítimas de AVC ficam com alguma sequela permanente, seja ela motora, cognitiva, da linguagem, psicológica ou emocional. Daí que, a recuperação funcional destes doentes tenha na reabilitação um pilar essencial.
Começar precocemente um programa de reabilitação multimodal, individualizado mas abrangente, é decisivo para potenciar os ganhos obtidos pelos tratamentos de fase aguda e para minimizar as consequências. Este programa deve ter início logo durante o internamento agudo nas Unidades de AVC ou, nos doentes que a elas não tenham acesso, nas enfermarias hospitalares – e ter em conta a fase de evolução, os défices do doente, as valências prévias assim como as expectativas.

A importância do acesso precoce à reabilitação está bem documentada, assim como a necessidade de a intervenção ser desenhada e levada a cabo por uma equipa multidisciplinar que inclua um vasto leque de especialidades e áreas de intervenção técnica. Neurologistas, internistas, fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, neuropsicólogos, nutricionistas e assistentes sociais são alguns dos profissionais que devem constituir o núcleo desta equipa. A sua atividade deve idealmente ser complementada por uma rede de especialidades que podem ser chamadas a dar o contributo de acordo com as necessidades específicas de cada doente, como a psiquiatria, a otorrinolaringologia, a urologia ou a oftalmologia. Todos juntos, devem proporcionar os melhores cuidados ao sobrevivente de AVC.

O objectivo é a recuperação física, mas também cognitiva, da linguagem, da deglutição, sem nunca esquecer o apoio emocional indispensável para lidar com as mudanças na dinâmica de vida impostas pelo AVC, com as frustrações, angústias e desafios que esta condição coloca. Muitos doentes beneficiam de uma continuidade de tratamento em unidades de internamento especializadas em neuro-reabilitação onde estas intervenções possam ser atempadamente maximizadas.

Reabilitar é, assim, restituir funcionalidade! É contribuir para a reintegração familiar, social e laboral e, no fundo, devolver o sobrevivente de AVC a uma vida activa, gratificante e equilibrada, de olhos postos no futuro e na concretização dos sonhos e ambições que todos trazemos connosco.

QOSHE - A diferença que pode fazer a reabilitação depois do AVC - Alexandre Amaral E Silva
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A diferença que pode fazer a reabilitação depois do AVC

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31.03.2024

Ver, ouvir, sentir, cheirar, saborear…. Estar consciente, estar atento, pensar, compreender, falar, escrever, memorizar… Andar, correr, saltar, sorrir, brincar, amar… enfim… viver! Sentirmo-nos seres humanos totais, completos, preenchidos, felizes e equilibrados é feito de tudo isto e muito mais. E é um pouco de algumas ou de todas estas funções, capacidades e valências que podem desaparecer de um segundo para o outro em quem sofre um AVC. Num segundo toda uma vida muda. Toda a realidade que conhecemos se altera.

É como se a vida quisesse ajustar contas connosco, por todos os comportamentos de risco, por todos os descuidos com a saúde, por todo o stress que teimamos em deixar que se apodere da nossa vida.

O excesso de sal, de gorduras e de açúcar, o excesso de peso, o consumo de tabaco, o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo e todos os fatores que podemos e devemos controlar acabam a passar a fatura. E, nesse momento, tudo passa a depender........

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