Quando se fala da nossa culinária, enquanto arte de cozinhar, ou da nossa gastronomia, mais numa perspetiva de património cultural, já ninguém questiona a sua excelência. Seja como for, todos nós gostamos de ver reconhecidas as nossas qualidades, e foi o que aconteceu na mais recente Gala Michelin, onde brilham agora cinco novas estrelas Michelin em Portugal, em quatro restaurantes que este ano se estrearam com uma estrela e noutro estabelecimento que conquistou uma dupla distinção. Este é um sinal evidente de que os nossos profissionais, assim como os nossos produtos, saberes e sabores, continuam a sua trajetória ascendente. E isto, sem qualquer margem para dúvida, deve deixar-nos, a todos, “inchados” de orgulho.

Para mim, em especial, que há tantos anos ando “nestas lides”, e que tanto aprecio o valor da nossa gastronomia - há mais de duas décadas elevada a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO - e também dos nossos chefs e cozinheiros (como alguns ainda gostam de ser chamados), as distinções agora atribuídas pelo Guia Michelin são uma verdadeira honra.

Os 8 restaurantes com duas estrelas e os 31 restaurantes com uma estrela, distinguidos pela qualidade da sua culinária e gastronomia, os 37 estabelecimentos Bib Gourmand, reconhecidos pela relação qualidade-preço, os 5 restaurantes com a Estrela Verde, que premeia a sua gastronomia sustentável, e os 96 restaurantes recomendados, iluminam, ainda mais, o já tão rico panorama gastronómico nacional.

Não nos devemos esquecer que a reputação de ter restaurantes premiados impulsiona o turismo gastronómico, atraindo mais turistas que buscam experiências culinárias excecionais com destaque para a Culinária Local. A presença de estrelas Michelin em Portugal evidencia a riqueza e diversidade da culinária e da gastronomia local e promove ingredientes locais, técnicas tradicionais e a identidade gastronómica única do país.

Não tão positivo foi o facto de ter sido preciso esperar quase 100 anos, desde a atribuição das primeiras estrelas em Portugal - o Santa Luzia, em Viana do Castelo, e o Hotel Mesquita, em Famalicão, distinguidos em 1929 - para que os reconhecimentos do Guia Michelin se celebrassem numa cerimónia exclusivamente dedicada às cores lusas. Mas, finalmente aconteceu e, nesta gala, também se assistiu, pela primeira vez, aos merecidos louvores do Melhor Chefe de Sala, do Melhor Sommelier e do Jovem Chef.

E agora, é precisamente pelos profissionais que prossigo este elogio. Pelos chefs, mas também pelos que com eles trabalham e todos os dias aprendem a excelência da arte de bem cozinhar. Desengane-se quem pensa que os reconhecidos chefs são-no apenas pela suas exímias técnicas e sabedoria à volta do tacho e da panela. Não, e sei bem do que falo, porque os conheço e já ouvi e confirmei os seus testemunhos. Os chefs também brilham por serem líderes, atentos, que valorizam, reconhecem e tentam manter os seus colaboradores motivados.

A recompensa pelo rigor e dedicação num setor tão exigente, sobretudo pela sobrecarga de horários e de trabalho em períodos de época alta, não pode, nem deve, nos dias que correm, ser apenas uma questão monetária. E pode mesmo estar aqui outro dos segredos dos “chefs-chefes”. É preciso ir mais além do salário, é preciso recompensar formando, qualificando, capacitando, reconhecendo, valorizando. São estes os caminhos óbvios para quem quer ter profissionais motivados e, tão ou mais importante quanto isso, para quem deseja reter os melhores talentos.

Quando o Turismo continua a ser o verdadeiro motor da economia portuguesa, mesmo em cenários económicos, sociais e políticos menos favoráveis, julgo ser de bom senso, e mesmo obrigatório, tratar o melhor possível os setores desta atividade. É isso que os reconhecidos chefs fazem e tenho a certeza de que, se este for o pensamento e a missão de quem trabalha arduamente a bem servir à mesa, ganha a restauração e ganha a nossa gastronomia.

Perfecionismos à parte, é de uma busca incessante pela excelência que tudo isto se trata. Faço por isso este elogio às nossas Estrelas, também na esperança de que o Guia Michelin possa conhecer melhor e dar cada vez mais atenção à enorme diversidade da culinária/gastronomia portuguesa. Para mim, estas serão sempre as Estrelas mais brilhantes da constelação Michelin.

Até á próxima Gala, e como dizia Theodore Roosevelt vamos “manter os olhos nas estrelas e os pés no chão”.

QOSHE - “As estrelas mais brilhantes” - Ana Jacinto
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“As estrelas mais brilhantes”

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13.03.2024

Quando se fala da nossa culinária, enquanto arte de cozinhar, ou da nossa gastronomia, mais numa perspetiva de património cultural, já ninguém questiona a sua excelência. Seja como for, todos nós gostamos de ver reconhecidas as nossas qualidades, e foi o que aconteceu na mais recente Gala Michelin, onde brilham agora cinco novas estrelas Michelin em Portugal, em quatro restaurantes que este ano se estrearam com uma estrela e noutro estabelecimento que conquistou uma dupla distinção. Este é um sinal evidente de que os nossos profissionais, assim como os nossos produtos, saberes e sabores, continuam a sua trajetória ascendente. E isto, sem qualquer margem para dúvida, deve deixar-nos, a todos, “inchados” de orgulho.

Para mim, em especial, que há tantos anos ando “nestas lides”, e que tanto aprecio o valor da nossa gastronomia - há mais de duas décadas elevada a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO - e também dos nossos chefs e cozinheiros (como alguns ainda gostam de ser chamados), as distinções agora atribuídas pelo Guia Michelin são uma verdadeira honra.

Os 8 restaurantes com duas........

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