Pedro Nuno Santos (PNS) ao afirmar a propósito da vitória da Aliança Democrática (AD) nos Açores de que não viabilizará um governo desta força está a cometer um erro grave que o poderá afastar ainda mais de uma eventual vitória nas eleições nacionais de 10 de março.

O atual líder do PS está a distanciar-se, dia após dia, da matriz original do Partido Socialista. Uma marca histórica que vem de trás, de que eram signatários Mário Soares, Salgado Zenha, Sottomayor Cardia ou António Guterres, um ideário que era um símbolo de moderação, sensatez, atenção cuidada ao interesse nacional, numa trajetória ideológica que estava em consonância com as social-democracias europeias, projeto político que, historicamente, conseguiu o desenvolvimento e a prosperidade de países democráticos europeus como a França, a Alemanha, a Espanha ou a Itália.
Mas, Pedro Nuno Santos, parece querer seguir a cartilha de António Costa. Fala mais de ideologia do que dos problemas dos portugueses. Envolve-se em querelas partidárias em vez de clarificar qual o seu projeto para o país. Não está com uma postura de candidato a primeiro-ministro. Afirma ser negativo para Portugal a viabilização de um Governo da AD nos Açores. Não, não é. O povo açoriano fez a sua escolha, não fez? Negativo para os interesses do País é criar uma situação de instabilidade nos Açores, é não dar hipótese à força que venceu as eleições de governar. Negativo é não negociar consensos com a AD, não discutir as suas propostas, não procurar entendimentos no campo democrático. É isso que é a democracia e distingue alguém que tem, ou não tem, um espírito democrático.

A atitude de Pedro Nuno Santos está a dividir o PS. A divisão faz-se entre moderados e radicais. Se não viabilizar o governo da AD nos Açores, Pedro Nuno Santos estará a colocar-se do lado dos últimos. Está a assumir a pesada herança de António Costa, que num exercício de puro oportunismo político, por razões de ambição pessoal, desvirtuou a que era a matriz original, social-democrata e moderada do Partido Socialista.

Sim, a social-democracia ao fim de 32 anos regressou ao Açores e não vem daí nenhum mal ao Mundo.

Será oportuno revisitar alguns princípios básicos da social-democracia para sabermos do que se está a falar. O seu principal objetivo programático é o crescimento económico através da assunção de reformas que modernizem os países. É, pois, uma corrente política reformista onde o Estado tem o papel de promover o crescimento económico. Esse crescimento económico faz-se pela moderação e não é refém de posições ideológicas. O Estado é também concebido pela promover o bem estar-social.

Será que o PS e Pedro Nuno Santos têm algum problema em “assinar por baixo” estes valores e estes princípios? Ou será que Pedro Nuno Santos quer prosseguir o “caminho das pedras” escolhido por António Costa de um PS sem valores, sem coerência histórica e, exclusivamente, preocupado com as lógicas de poder?

Hoje, quando este artigo sair, e à data a que o escrevo, não sei qual terá sido a decisão final do PS Açores e de Pedro Nuno Santos sobre a viabilização de um governo da AD nos Açores. Se o viabilizar, tanto melhor. Será avisado que escute as vozes sensatas de socialistas como Francisco Assis, Ana Gomes ou Pedro Delgado Alves.

Sim, o ato eleitoral açoriano é um balão de ensaio para o que possa vir a acontecer no dia 10 de março nas eleições legislativas nacionais. E, sim, é possível que a social-democracia, a dar algum crédito às sondagens já conhecidas, esteja a regressar ao país. E o PS o que tem a fazer, se isso se verificar, é preparar-se para jogar o jogo democrático parlamentar. Não criar situações de instabilidade no país, estabelecer consensos, fazer combate político, procurar entendimentos que levem a afirmação das suas propostas políticas. Não é isso que é a essência da democracia? Até lá o PS e Pedro Nuno Santos têm disponível o espaço da campanha eleitoral para assumir uma narrativa política vencedora que coloque os interesses nacionais à frente do objetivo único da conquista do poder.

É isso que se pretende de um candidato a primeiro-ministro!


Jornalista

QOSHE - Açores. O regresso da social-democracia - António Capinha
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Açores. O regresso da social-democracia

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09.02.2024

Pedro Nuno Santos (PNS) ao afirmar a propósito da vitória da Aliança Democrática (AD) nos Açores de que não viabilizará um governo desta força está a cometer um erro grave que o poderá afastar ainda mais de uma eventual vitória nas eleições nacionais de 10 de março.

O atual líder do PS está a distanciar-se, dia após dia, da matriz original do Partido Socialista. Uma marca histórica que vem de trás, de que eram signatários Mário Soares, Salgado Zenha, Sottomayor Cardia ou António Guterres, um ideário que era um símbolo de moderação, sensatez, atenção cuidada ao interesse nacional, numa trajetória ideológica que estava em consonância com as social-democracias europeias, projeto político que, historicamente, conseguiu o desenvolvimento e a prosperidade de países democráticos europeus como a França, a Alemanha, a Espanha ou a Itália.
Mas, Pedro Nuno Santos, parece querer seguir a cartilha de António Costa. Fala mais de ideologia do que dos problemas dos portugueses. Envolve-se em querelas partidárias em vez de clarificar qual o seu........

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