Um dia descobriremos a inesgotável fonte de optimismo do primeiro-ministro. Saberemos de onde jorra em catadupa aquele bálsamo que o nosso (ainda) primeiro-ministro usa nas suas intervenções e utilizou, de novo, na sua última mensagem de Natal.

Convenhamos que não sabemos se tanto optimismosurge dos conselhos de algum spin doctor , da permanente alienação em que António Costa vive, ou se, simplesmente, julgará que andamos todos distraídos e não vemos a realidade.

Sobre a mensagem de Natal do primeiro -ministro tudo se pode resumir na frase proferida pelo membro do Partido Comunista, Jaime Toga, que afirmou que as "palavras de António Costa não batem certo com a vida das pessoas".

E não batem mesmo!

António Costa poderá querer ser optimista por todas as razões e mais uma. Porque quer ir para a Europa e não lhe convém surgir derrotado! Porque que ajudar o seu partido e uma boa dose de optimismo dá jeito!Porque quer dar "um empurrão" a Pedro Nuno Santos para que este chegue ao poder e umas pitadas de optimismo vêm mesmo a calhar! Mas quanto àvida dos portugueses não conseguimos descortinar as razões de tanto optimismo e, já agora, usando terminologia presidencial, um optimismo um pouco irritante e cansativo.

Como, habitualmente, Costa agitou uma das únicas bandeiras que tem para acenar. O défice e as contas certas. Sim é verdade! Temos contas certas e um excedente orçamental de 3, 3% do PIB. Mas, logo de seguida, o primeiro - ministro diz que isso se deve ao crescimento económico. Ao crescimento económico? Mas como?! Todos sabemos, hoje, que o défice tem origem nas inúmeras cativações feitas nos orçamentos anuais e na falta de investimento público nas áreas sociais. Aos cortes na saúde que Costa fez questão, olimpicamente, de ignorar. Saúde que está numa situação tal que há dias numa reportagem televisiva constatava-se que, nalgumas unidades hospitalares, nos respectivos serviços de urgência, os utentes com pulseiras amarelas que deviam ser atendidos numa hora, tinham de esperar catorze horas. Onde estão, então, as razões de tanto optimismo?

Depois, optimismo, porquê? Pelo estado da habitação, sem que o governo, durante os oito anos de exercício, tenha aplicado políticas que evitassem o colapso do mercado de arrendamento.

Na sua mensagem de Natal, António Costa falou muito de confiança e estabilidade. Estabilidade? Um governo que teve todas as condições de reformar o país, com uma preciosa maioria absoluta conferida pelo povo português, com dinheiro a jorro do PRR, com todas as ferramentas para ter Portugal numa trajectória de desenvolvimento, vem agora falar de estabilidade. Estabilidade, depois, da maioria absoluta ter colapsado ao fim de dois anos comsucessivas demissões de membros do governo, "casos e casinhos" que Costa fazia, á época, questão de desvalorizar! Ora bolas! Estabilidade, agora?

Depois, há outras boas razões que para que o primeiro-ministro fosse mais cuidadoso na utilização de termos como confiança e unidade com os portugueses.

Que confiança, podem os portugueses ter num Executivo que não aplicou políticas consentâneas na Educação e na carreira dos professores,comprometendo o que é mais precioso num país, que é o futuro dos seus jovens e a escola como alavanca social. Escola onde há, ainda, milhares de alunos sem professor a uma disciplina. Confiança, então em quê?

E unidade entre o governo e os cidadãos porquê? Quais as razões? O primeiro-ministro insiste em afirmar que o país está mais rico. Como assim? Se não fosse suficiente percorrer Lisboa ou Porto e ver o aumento dos sem - abrigo, os números do índice de pobreza Gini falam por si, onde a taxa de pobreza em 2021 era de 16,4 % e em 2022 subiu para os 17%.

Há, pois, um país dos portugueses e há um país de António Costa. E, nesta última mensagem de Natal do primeiro-ministro, a bota voltou, uma vez mais, a não bater com a perdigota.

QOSHE - Mensagem de Natal de António Costa. Não bate a bota com a perdigota - António Capinha
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Mensagem de Natal de António Costa. Não bate a bota com a perdigota

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29.12.2023

Um dia descobriremos a inesgotável fonte de optimismo do primeiro-ministro. Saberemos de onde jorra em catadupa aquele bálsamo que o nosso (ainda) primeiro-ministro usa nas suas intervenções e utilizou, de novo, na sua última mensagem de Natal.

Convenhamos que não sabemos se tanto optimismosurge dos conselhos de algum spin doctor , da permanente alienação em que António Costa vive, ou se, simplesmente, julgará que andamos todos distraídos e não vemos a realidade.

Sobre a mensagem de Natal do primeiro -ministro tudo se pode resumir na frase proferida pelo membro do Partido Comunista, Jaime Toga, que afirmou que as "palavras de António Costa não batem certo com a vida das pessoas".

E não batem mesmo!

António Costa poderá querer ser optimista por todas as razões e mais uma. Porque quer ir para a Europa e não lhe convém surgir derrotado! Porque que ajudar o seu partido e uma boa dose de optimismo dá jeito!Porque quer dar "um empurrão" a Pedro Nuno........

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