O aparecimento da Iniciativa Liberal (IL) no leque dos novos partidos que surgiram no horizonte foi uma pedrada no charco.

Num país pobre, profundamente dependente do Estado, com um historial de resignação civil ao poder político instalado, com uma população maioritariamente idosa, a Iniciativa Liberal com as suas propostas procurou romper com o statu quo instalado e com os bloqueios ideológicos e sociais vividos na sociedade portuguesa.

Partido de jovens quadros, de uma enorme qualidade, a sua irreverência, a inovação e coragem das suas propostas e os desafios que colocou deram à IL uma aura de simpatia que a levou a conquistar eleitores jovens, empresários, protagonistas das universidades, estudiosos, destacados membros da cultura e da ciência portuguesa.

Deste modo, a IL construiu um edifício programático desempoeirado que conquistou gente ligada ao universo da esquerda e foi retirar a diferentes partidos políticos a base do que é hoje o seu suporte partidário.

É, portanto, manifesto, que um dia a IL terá um papel importante a desempenhar no futuro do nosso país.

Pena é que, na energia da sua linha programática, a IL esteja, com caracter sistemático, a recusar integrar uma eventual aliança pré-eleitoral com o PSD e o CDS, que, a concretizar-se, daria consistência a uma nova alternativa que abriria o leque de escolhas eleitorais colocadas à disposição dos portugueses.

Quem decidirá as próximas eleições é esse discreto partido dos indecisos, que, segundo diversas sondagens, vale cerca de 27 % dos potenciais votantes. Numa lógica de alternativa de direita, uma aliança do PSD, CDS e IL enriquecia o debate político e possibilitaria um acerto de posições destas forças políticas nas propostas a apresentar ao país. Teria, ainda, a vantagem de enfraquecer o "suspeito do costume ", o Chega.

Contudo a IL, num exercício de cegueira política, insiste em concorrer a eleições sozinha, testando, isoladamente, a mais-valia das suas propostas políticas. Mas será que elas são assim tão diferentes das assumidas pelas restantes forças com quem a IL poderá fazer uma aliança? No seu programa a IL defende propostas tão banais como uma baixa de impostos, um acesso total à saúde, médicos de família para todos os portugueses, uma reforma da Justiça e da máquina administrativa do Estado. Será que PSD e CDS não estão de acordo com estes objectivos? E a opção de uma coligação pré-eleitoral comprometia assim tanto a visibilidade das propostas dos liberais da IL?

A posição da IL faz-me lembrar aqueles adolescentes que, perante a evidência e a inevitabilidade da prática de um qualquer disparate próprio da sua idade, teimam em não ouvir os conselhos dos mais velhos e, malgré tout, insistem no disparate. E, para lá, caminham, alegremente, seja qual for a sensatez e a validade dos argumentos apresentados.

É pena! Perdem os portugueses e perde o país. Nem mesmo o argumento do método de Hondt que, na disputa eleitoral, dá uma vantagem de 9/10 deputados às forças que se apresentam coligadas consegue vencer a teimosia (adolescente?) dos dirigentes da IL.

Uma coligação pré-eleitoral entre as três forças seria uma ferramenta importante na conquista dos votos do partido dos indecisos.

Os liberais ao não entrarem num exercício de unidade com o PSD e O CDS poderão, futuramente, ficar responsáveis pela derrota eleitoral de um bloco de direita face à formação de uma nova "geringonça2.0" ou de um qualquer outro arranjo político que surja à esquerda. A posição da IL poderá, assim, ser um erro trágico que fará a direita perder uma parte significativa dos votos do tal partido dos indecisos. E se tal acontecer será um anátema que ficará, por muito tempo, colado à pele dos liberais.

Jornalista

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O partido dos indecisos e a trágica escolha da Iniciativa Liberal

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01.12.2023

O aparecimento da Iniciativa Liberal (IL) no leque dos novos partidos que surgiram no horizonte foi uma pedrada no charco.

Num país pobre, profundamente dependente do Estado, com um historial de resignação civil ao poder político instalado, com uma população maioritariamente idosa, a Iniciativa Liberal com as suas propostas procurou romper com o statu quo instalado e com os bloqueios ideológicos e sociais vividos na sociedade portuguesa.

Partido de jovens quadros, de uma enorme qualidade, a sua irreverência, a inovação e coragem das suas propostas e os desafios que colocou deram à IL uma aura de simpatia que a levou a conquistar eleitores jovens, empresários, protagonistas das universidades, estudiosos, destacados membros da cultura e da ciência portuguesa.

Deste modo, a IL construiu um edifício programático desempoeirado que conquistou gente ligada ao universo da esquerda e foi retirar a diferentes partidos políticos a........

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