Há três nomes que serão incontornáveis nos próximos meses, senão mesmo anos, no PS. Pedro Nuno Santos (PNS), José Luís Carneiro (JLC) e, claro, António Costa (AC).

Ver-se-á a dimensão, o percurso e a importância de cada um deles com o passar dos tempos e a dinâmica política que se instalar no PS e também no país.

PNS ganhou o partido como seria de esperar. Numa lógica política consuetudinária os militantes socialistas escolheram PNS que há muito vinha preparando a sua candidatura, "fazendo o caminho das pedras", num exercício de uma longa conivência partidária com as federações distritais. Um rendilhado político construído durante anos, feito de ideologia, amizades políticas, segredos partidários, promessas, favores de ocasião. O habitual na lógica partidária. Mas será que os socialistas escolheram o melhor candidato para enfrentar os desafios que se colocam no futuro? Julgo que não! PNS pode ser um bom candidato na decisão interna do PS. Mas José Luís Carneiro estaria melhor posicionado para um combate com a oposição. Foi o melhor ministro do governo de António Costa com uma passagem imaculada pelo Executivo. A pasta da Administração Interna conferiu-lhe uma dimensão de Estado. É moderado, emana simpatia, é sensato, prudente, discreto. Era o que o PS precisava, um socialista democrático que devolveria ao partido a pureza da sua ideologia inicial. E mais importante ainda, JLC estava bem preparado, caso ganhasse as eleições legislativas, para obter ao nível de um futuro governo os consensos que a próxima conjuntura política poderá vir a precisar. Contudo, os socialistas escolheram PNS. No momento da votação os militantes do PS pensaram mais no partido e menos no país!

PNS é, assim, numa escala do triunvirato socialista, o protagonista número um a quem competirá, futuramente, a tarefa gigantesca de unir o PS e ganhar as eleições legislativas. Mas José Luís Carneiro conquistou um capital político que o coloca, desde já, na esfera de uma futura candidatura a secretário-geral, caso as coisas corram mal a PNS. Claro que, por agora, para os holofotes mediáticos, o PS vai dizer que está unido, que "tudo corre pelo melhor, no melhor dos mundos possível". Contudo é inquestionável no PS a existência de duas linhas programáticas, uma de pendor social-democrata, mais moderada, mais dialogante, representada por JLC, afinal o número dois na hierarquia do triunvirato, e outra, situada à esquerda, mais autoritária, mais próxima de um socialismo de pendor estatizante, herdeira do projecto político da geringonça.

PNS terá, a curto prazo, de negociar com JLC as listas de deputados, a constituição da comissão nacional, procurando construir no interior do PS um equilíbrio difícil que a não se concretizar porá em causa a tal unidade de que Pedro Nuno Santos tanto quer e fala. Seguramente, não passará pela cabeça de PNS, ter em relação a José Luís Carneiro a mesma inqualificável atitude que António Costa teve com António José Seguro, quando o atirou para um exílio forçado.

Finalmente, o terceiro protagonista do triunvirato, António Costa, que, quer se queira, quer não, vai " andar por aí". Depois de oito anos de exercício governamental ainda será primeiro-ministro em gestão até 28 de Março, coisa que o próprio faz questão de relembrar sempre que surge uma oportunidade mediática. Depois, há o seu futuro político, resolvida a questão judicial de que é indiciado! Uma candidatura à Presidência do Conselho Europeu ou do Parlamento Europeu? Ou à Presidência da República? Em qualquer dos casos, objectivos que não dispensam uma presença do, ainda, primeiro-ministro no panorama político nacional e na componente mediática.

Este é, pois, o estado do PS, com três protagonistas cuja actuação ditará, no futuro, o rumo programático do PS. Pois claro, um triunvirato! É a vida, como dizia António Guterres!

Jornalista

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Um triunvirato no PS?

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22.12.2023

Há três nomes que serão incontornáveis nos próximos meses, senão mesmo anos, no PS. Pedro Nuno Santos (PNS), José Luís Carneiro (JLC) e, claro, António Costa (AC).

Ver-se-á a dimensão, o percurso e a importância de cada um deles com o passar dos tempos e a dinâmica política que se instalar no PS e também no país.

PNS ganhou o partido como seria de esperar. Numa lógica política consuetudinária os militantes socialistas escolheram PNS que há muito vinha preparando a sua candidatura, "fazendo o caminho das pedras", num exercício de uma longa conivência partidária com as federações distritais. Um rendilhado político construído durante anos, feito de ideologia, amizades políticas, segredos partidários, promessas, favores de ocasião. O habitual na lógica partidária. Mas será que os socialistas escolheram o melhor candidato para enfrentar os desafios que se colocam no futuro? Julgo que não! PNS pode ser um bom candidato na decisão interna do PS. Mas........

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