Quando olhamos para as últimas duas décadas, torna-se óbvio que os primeiros anos do séc. XXI não têm sido fáceis. Um século que começou numa manhã soalheira de setembro de 2001 na Baixa de Nova Iorque quando os aviões derrubaram as Torres Gémeas e, com elas, uma visão otimista do mundo que tinha nascido 10 anos antes na queda do Muro de Berlim e que, de lá para cá, conheceu a crise financeira, a pandemia, o regresso da guerra à Europa e a sua aceleração no Médio Oriente. Tudo isto envolto nos impactos que já conhecemos e os que ainda não conhecemos das alterações climáticas e da revolução digital.

Acresce que nestas crises e nas suas consequência, ao contrário do ditado popular que anuncia que partilhamos o mesmo barco, a verdade é que estamos na mesma tempestade, mas algumas pessoas estão num navio seguro e outras estão a tentar sobreviver nas ondas. Há quem consiga gerir melhor as dificuldades e há quem tenha passado os últimos 20 anos entre a angústia e a aflição, procurando ultrapassar as consequências da última crise e antecipar os impactos da próxima.

Estejamos no barco ou nas ondas, quem nasceu na viragem do século, viveu toda a sua vida no que o Dicionário Collins chamou a permacrisis ou a crise permanente. Não tenhamos ilusões: os nossos problemas coletivos são grandes, são sérios e colocam desafios importantes à democracia. Esse desafios precisam de respostas à altura.

Se olharmos para os resultados eleitorais um pouco por toda a Europa, vemos que os partidos moderados, representando o centro-direita e o centro-esquerda, continuam a merecer a escolha da larga maioria dos eleitores. E, no entanto, quando os eleitores decidem partilhar a representação parlamentar de forma a obrigar os partidos do centro a negociarem as propostas que pretendam implementar, estes têm ignorado a moderação que o eleitorado lhes pedem e correrem para os braços dos extremos que lhe estão mais próximos. Melhor seria se os partidos do centro político ouvissem o que lhes diz o eleitorado, reconhecessem que os tempos não são fáceis, que os desafios são muitos e que não estamos em alturas de experimentalismo ou radicalismos.

Não se defende, importa deixar claro, a necessidade de coligações formais entre o centro-direita e o centro esquerda - embora não se rejeite de forma absoluta a hipótese -, mas espera-se que o reconhecimento dos desafios que enfrentamos e que obrigam a soluções de longo alcance, leve a um diálogo estruturado, permanente e consequente que estabeleça as pontes entre os partidos moderados, representantes da maioria dos eleitores, e que permitam encontrar as respostas para as consequências das crises que já passaram, daquelas que atravessamos e das outras que sabemos que chegarão.

Se não formos capazes de estabelecer este diálogo eficaz e aberto entre os moderados, continuaremos a assistir ao crescimento dos partidos que, nesta tempestade, oferecem respostas simples ou simplistas como se tivessem uma varinha mágica que resolvesse todos os problemas.

Partidos que ou não sabem do que falam - o que é grave - ou sabem e estão a defraudar as pessoas que mais apoio precisam para vencer as ondas da tempestade - o que é gravíssimo! Compete aos moderados que merecem o maior apoio dos eleitores, dar as respostas, complexas e difíceis que são necessárias, protegendo e promovendo as nossas democracias.

QOSHE - Moderados de Todo o Mundo, Uni-vos! - Bernardo Ivo Cruz
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Moderados de Todo o Mundo, Uni-vos!

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16.04.2024

Quando olhamos para as últimas duas décadas, torna-se óbvio que os primeiros anos do séc. XXI não têm sido fáceis. Um século que começou numa manhã soalheira de setembro de 2001 na Baixa de Nova Iorque quando os aviões derrubaram as Torres Gémeas e, com elas, uma visão otimista do mundo que tinha nascido 10 anos antes na queda do Muro de Berlim e que, de lá para cá, conheceu a crise financeira, a pandemia, o regresso da guerra à Europa e a sua aceleração no Médio Oriente. Tudo isto envolto nos impactos que já conhecemos e os que ainda não conhecemos das alterações climáticas e da revolução digital.

Acresce que nestas crises e nas suas consequência, ao contrário do ditado popular que anuncia que partilhamos o mesmo barco, a verdade é que estamos na mesma tempestade, mas algumas pessoas estão num navio seguro e outras........

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