Numa época em que se fala constantemente de migrações, em que Portugal enfrenta uma enorme crise de natalidade, pouco se ouve falar da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa.

Um dos temas mais relevantes e mais preocupantes do problema das migrações está ligado com a partilha de hábitos culturais, ou melhor, a dificuldade da partilha de cultura entre os migrantes e as sociedades que os acolhem.

Portugal precisa de receber muitos milhares de migrantes para poder responder à procura de recursos humanos de que precisamos para a manutenção e melhoria da qualidade de vida no nosso país.

A necessidade de mão de obra nos sectores da agricultura, do turismo e mesmo da indústria vai levar-nos a receber todos esses migrantes, o que devemos fazer com responsabilidade, respeito e inclusão.

A tranquilidade dessa receptividade e inclusão está muito ligada à capacidade de integrar estes novos habitantes na cultura da nossa sociedade; e que é, ao mesmo tempo, a cultura que criou o ambiente que esses migrantes procuram.

Ora, Portugal tem uma vantagem maravilhosa do nosso passado, que foi estabelecida com enormes méritos e muitas injustiças, que é a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, composta por nove países que partilham de muitas semelhanças nas suas culturas e que é uma realidade de que todos estes países se orgulham.

A CPLP, uma comunidade de quase trezentos milhões de pessoas que pode ser um factor muito importante para a afirmação da portugalidade no Mundo, que poderia permitir o crescimento das empresas portuguesas e dos restantes países dessa comunidade, que permitiria obter os recursos humanos necessários ao desenvolvimento das nossas economias, e tem sido uma oportunidade desperdiçada pelo nosso país e pelos nossos governantes.

A cultura partilhada que nos permite beneficiar de uma integração mais fácil e mais tranquila é, ao mesmo tempo, uma aposta numa aproximação entre estes países que lhes permitirá uma maior capacidade de desenvolvimento e de crescimento económico, que poderá ser aproveitado por todos eles para promover um mercado mais forte que apoie as suas empresas, os seus investimentos, e que resultará numa maior qualidade de vida dentro de toda a comunidade.

Neste tempo de crise internacional de migrantes, Portugal deveria claramente desenhar uma estratégia de aposta na recepção daqueles que nos estão mais próximos, que conhecem bem a nossa cultura, que convivem connosco na nossa língua e que sofrem das nossas derrotas e festejam as nossas vitórias.

Que nos fazem sentir parte também das suas terras, das suas culturas, das suas gentes e que nos fazem orgulhar também dos seus êxitos e participar nas suas dores.

Mas, acima de tudo, dar a oportunidade àqueles com quem sempre mantivemos uma relação e que merecem o nosso carinho e o nosso apoio.

Com todos os erros e virtudes de uma história de que nos devemos lembrar e orgulhar criámos relações de parceria e de responsabilidade com aqueles que participaram nesse caminho de quase novecentos anos.

Com mais virtudes e tentando evitar mais erros devemos prosseguir nesta parceria com os povos com quem partilhamos uma maneira de viver.


bruno.bobone.dn@gmail.com

QOSHE - Comunidade de irmãos e de partilha - Bruno Bobone
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Comunidade de irmãos e de partilha

16 0
12.04.2024

Numa época em que se fala constantemente de migrações, em que Portugal enfrenta uma enorme crise de natalidade, pouco se ouve falar da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa.

Um dos temas mais relevantes e mais preocupantes do problema das migrações está ligado com a partilha de hábitos culturais, ou melhor, a dificuldade da partilha de cultura entre os migrantes e as sociedades que os acolhem.

Portugal precisa de receber muitos milhares de migrantes para poder responder à procura de recursos humanos de que precisamos para a manutenção e melhoria da qualidade de vida no nosso país.

A necessidade de mão de obra nos sectores da agricultura, do turismo e mesmo da indústria vai levar-nos a receber todos esses migrantes, o que devemos fazer com responsabilidade, respeito e........

© Diário de Notícias


Get it on Google Play