O contorcionismo chegou à política: veja-se o líder do partido que tem governado Portugal durante mais anos desde a instauração da democracia. Diz-nos diariamente que vai fazer tudo o que não fez nos últimos anos, desculpa-se por ter feito tudo o que fez -- mas nunca aprende. E, agora, o secretário-geral do Partido Socialista está cheio de vontade de nos presentear com um novo imposto sobre o património que deixamos aos nossos descendentes.

Isto preocupa-me, essencialmente, pelas seguintes razões.

Em primeiro lugar, neste país de pouco investimento em que as empresas estão descapitalizadas -- país de gente pobre -- preocupa-me a forma como isso vai afetar a nossa maneira de viver quando cada família não tiver meios suficientes para suportar o imposto que lhe permitia manter os referidos bens -- segurança da sua existência.

Na verdade, alguém que tenha adquirido, durante a sua vida de trabalho, uma casa de habitação e um pequeno terreno que assista à subsistência da sua família, dificilmente poderá, com os magros rendimentos médios da população portuguesa e com a sobrecarga de impostos que recai sobre esses seus rendimentos, pagar mais um imposto.

Pior ainda, num país de pequenas empresas, que são já hoje vulneráveis para assegurarem o crescimento económico de que tanto necessitamos, na sua enorme maioria familiares, a passagem entre gerações é essencial para a continuidade do emprego que criam e também para a capacidade de se manterem no mercado.

No momento em que se torna necessário, nestas empresas familiares, transmitir a responsabilidade da titularidade da propriedade de pais para filhos, existe sempre um enorme esforço financeiro que têm de enfrentar os herdeiros -- que têm normalmente de investir na compra de posições de irmãos, ou outros herdeiros, e na reestruturação da empresa para assegurar a sua competitividade.

Com a aplicação de um novo imposto sucessório ficarão diminuídos nos seus recursos para pagar ao Estado mais do que já hoje têm de pagar, aumentarão a probabilidade de perder o património empresarial que foi criado, mas arriscam ainda mais enfrentar um processo de falência por incapacidade financeira que os levará, a eles e aos seus empregados, a perder a sua ocupação e o seu rendimento.

Tudo isto em prol de uma ideologia despesista que insiste em marcar todas as decisões de uma esquerda que se esqueceu das pessoas e que apenas se serve a si mesma, como aconteceu nos casos da saúde e da educação, em que a população, a que tem capacidade para isso, passou a ter de se apoiar em seguros privados de saúde e em escolas privadas. Um desastre provocado pela ideologia.

Num país que tem como maior objetivo aumentar o rendimento da população, mas em que o Estado recolhe 70% do salário pago por uma empresa ao seu colaborador, inibir a manutenção de um rendimento e de património por uma opção ideológica é grave e maldoso da parte de quem o propõe.

bruno.bobone.dn@gmail.com

QOSHE - O imposto sucessório - Bruno Bobone
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O imposto sucessório

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02.02.2024

O contorcionismo chegou à política: veja-se o líder do partido que tem governado Portugal durante mais anos desde a instauração da democracia. Diz-nos diariamente que vai fazer tudo o que não fez nos últimos anos, desculpa-se por ter feito tudo o que fez -- mas nunca aprende. E, agora, o secretário-geral do Partido Socialista está cheio de vontade de nos presentear com um novo imposto sobre o património que deixamos aos nossos descendentes.

Isto preocupa-me, essencialmente, pelas seguintes razões.

Em primeiro lugar, neste país de pouco investimento em que as empresas estão descapitalizadas -- país de gente pobre -- preocupa-me a forma como isso vai afetar a nossa maneira de viver quando cada família não tiver meios suficientes para........

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