Estou em Angola.

É maravilhoso ver as crianças e os jovens animados a caminho da escola, fardados todos de branco e com um sorriso na cara.

Ver os professores à sua espera, com a dignidade de quem lhes vai entregar o saber, para que possam viver as suas vidas com condições melhores daquilo que foram as que dispuseram os seus pais.

Ouvir na rádio a defesa da família tradicional e os comportamentos respeitadores dos valores da sociedade.

Ver pessoas que se confrontam com as maiores dificuldades, e que muito poucas comodidades têm nas suas vidas, a defender que têm fé e que Deus virá com a resposta para lhes dar aquilo que precisam.

Ver que as pessoas tentam manter a sua dignidade no meio de tantas e enormes provações, com a consciência de que a sua liderança tem de continuar a desenvolver um caminho de rigor na forma de governar, mas sempre cientes que só a institucionalidade permitirá a sobrevivência do país.

Tudo isto num país que precisa compreender que o seu povo é maravilhoso e que precisa de ser cuidado com o carinho e amor que merece.

Um país que tem um povo que está disponível a aceitar o desafio de quem os lidera para conseguir criar a estrutura de vida que lhes dê a confiança e a motivação de serem mais criativos e mais produtivos, para gerar o rendimento de que necessitam para voltar a ter um mínimo de qualidade de vida que não os deixe passar fome.

Um modo de viver em que não seja quase milagre ter uma refeição diária e que lhes permita uma base de confiança de que os seus filhos terão alguma perspetiva de uma vida melhor.

É neste país e nestas dificuldades que venho encontrar esta lição de cidadania, de entreajuda, de vontade de manter a dignidade e de respeitar as instituições.

E penso no meu país, em que todos comemos melhor, ainda que haja pobres e muita gente com muito grandes dificuldades, em que temos uma segurança social que pouco se importa com o cidadão comum. Em que temos uma saúde pública que foi maltratada, em que temos uma escola que não funciona nem quer funcionar.

E vejo um país que reclama, mas que não se entreajuda, que não acredita nas instituições, e apenas procura a contestação e não resposta para o problema.

Um país que parece acreditar que a destruição dos valores será a sua solução e que está sempre disponível para o caminho que menos trabalho lhe dê.

Um país em que as suas elites apostam na destruição dos valores tradicionais, da família, do respeito pelos mais velhos e do respeito pelo bem comum como solução para os problemas ​​​​​​​que, por incompetência, não conseguem resolver e que resultou numa crise de quase todas as instituições, desde a escola, os hospitais, a justiça, o governo...

Que falta me faz encontrar a confiança, a fraternidade, a amizade, o carinho e o respeito, na vivência de um povo de que tanto gosto e que tanto admiro, que foi capaz de criar sociedades em todo o Mundo onde se respeitam os valores que nos são tradicionais e a ​​​​​​​onde deixámos bem marcada a fé nos homens e a confiança nas instituições.

Não fizemos tudo bem feito, nem fomos sempre capazes de fazer o que devíamos, mas fomos capazes de deixar valores que hoje são reconhecidos por estes outros povos, que os usam na luta pelo seu desenvolvimento e que lhes serve de guia para o comportamento nas suas sociedades.

Precisamos voltar a ter orgulho naquilo que fomos, do que o nosso povo ainda é, e conseguir, através desses valores, voltar a criar uma sociedade de esperança, de respeito e de sucesso verdadeiro para os seus cidadãos.

bruno.bobone.dn@gmail.com

QOSHE - Orgulho e esperança - Bruno Bobone
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Orgulho e esperança

11 1
15.12.2023

Estou em Angola.

É maravilhoso ver as crianças e os jovens animados a caminho da escola, fardados todos de branco e com um sorriso na cara.

Ver os professores à sua espera, com a dignidade de quem lhes vai entregar o saber, para que possam viver as suas vidas com condições melhores daquilo que foram as que dispuseram os seus pais.

Ouvir na rádio a defesa da família tradicional e os comportamentos respeitadores dos valores da sociedade.

Ver pessoas que se confrontam com as maiores dificuldades, e que muito poucas comodidades têm nas suas vidas, a defender que têm fé e que Deus virá com a resposta para lhes dar aquilo que precisam.

Ver que as pessoas tentam manter a sua dignidade no meio de tantas e enormes provações, com a consciência de que a sua liderança tem de continuar a desenvolver um caminho de rigor na forma de governar, mas sempre cientes que só a institucionalidade........

© Diário de Notícias


Get it on Google Play