Nas últimas europeias, de 25 de maio de 2019, a abstenção (69,25%) atingiu o maior registo desde as primeiras eleições, de 1987, para o Parlamento Europeu. Apesar do resultado histórico negativo, se retirássemos os votos dos emigrantes teria havido uma inversão, com a descida ligeira da abstenção dos eleitores em Portugal. Para esta contagem pesou uma redução de 113 mil inscritos nos cadernos eleitorais nacionais face às europeias anteriores, de 25 de maio de 2014, e um aumento do número de portugueses inscritos no estrangeiro, por força do recenseamento automático, de cerca de 1,2 para 1,4 milhões. A perda de confiança ou a insatisfação política e o desconhecimento das políticas da União Europeia e das instituições foram as grandes causadoras deste cenário, segundo apontava um inquérito divulgado pelo Parlamento Europeu após o sufrágio.

O primeiro indicador de risco em relação às próximas eleições europeias de 9 de junho foi lançado na quarta-feira. A sete semanas da ida às urnas, 57% dos portugueses responderam que desconhecem ainda a data. A boa notícia é que, comparando com o Eurobarómetro de 2019, mais 19% dos portugueses se demonstraram interessados nas eleições europeias (51%). E isso abre a esperança a uma possível descida da abstenção, seguindo a tendência revelada nas últimas legislativas.

Ainda há esperança numa maior participação. Foi justamente por isso que a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, veio a Lisboa, para “encorajar os portugueses, especialmente os jovens, a votar”. Aproveitou ainda para exortar a que os portugueses “não cedam ao conforto do cinismo fácil nem se deixem influenciar pelas soluções ocas para questões complexas apresentadas pelos extremos políticos”. E, muito importante, no mês em que comemoramos os 50 anos do 25 de Abril, Metsola recordou que Portugal “compreendeu, mais cedo e talvez melhor do que a maioria, que nunca poderemos ser livres enquanto não formos todos livres, que nunca poderemos estar seguros enquanto não estivermos todos seguros”. Daí a importância de votar nas próximas eleições europeias.

É também assente nesta esperança de conseguir mobilizar os eleitores que a política nacional está a fervilhar. Há muita tensão à volta de um governo minoritário, em que tudo é suficiente para dar início a um caso.

De acordo com a sondagem da Aximage para o DN, TSF e JN, que pode ler nesta edição, o PS é, nesta altura, o favorito dos portugueses a vencer as europeias (31,3%), seguindo-se a AD (24,68%) e o Chega (18,4%). No caso da AD, a recente polémica em torno do “choque fiscal”, com o governo a ser acusado de “embuste”, pode ter feito perder eleitores. E é nisso que a oposição vai apostar, exercendo pressão sobre todas as medidas anunciadas e sobre declarações de Luís Montenegro e do restante Executivo. Neste top 3, André Ventura, que em 2019 não foi além de 1,6% com a coligação populista de direita Basta!, poderá voltar a ser, depois das legislativas, grande vencedor, ganhando com o voto dos jovens.

Em 2024 como em 2019, será que os portugueses vão votar na insatisfação política? Ou irão os partidos, como diz Metsola, ter interesse em desmontar “soluções ocas para questões complexas”? A desinformação terá de ser a grande derrotada das europeias, só que isso faz-se a montante, não a jusante. É agora.

QOSHE - Abstenção e desinformação: perigosas europeias - Bruno Contreiras Mateus
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Abstenção e desinformação: perigosas europeias

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21.04.2024

Nas últimas europeias, de 25 de maio de 2019, a abstenção (69,25%) atingiu o maior registo desde as primeiras eleições, de 1987, para o Parlamento Europeu. Apesar do resultado histórico negativo, se retirássemos os votos dos emigrantes teria havido uma inversão, com a descida ligeira da abstenção dos eleitores em Portugal. Para esta contagem pesou uma redução de 113 mil inscritos nos cadernos eleitorais nacionais face às europeias anteriores, de 25 de maio de 2014, e um aumento do número de portugueses inscritos no estrangeiro, por força do recenseamento automático, de cerca de 1,2 para 1,4 milhões. A perda de confiança ou a insatisfação política e o desconhecimento das políticas da União Europeia e das instituições foram as grandes causadoras deste cenário, segundo apontava um inquérito divulgado pelo Parlamento Europeu após o........

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