1 - A triste notícia da morte do jornalista Pedro Cruz, antigo diretor-executivo da TSF, move-me hoje a recordá-lo pela firmeza das suas convicções, pelo espírito de missão jornalística inabalável e de abnegação, lutando connosco pelo futuro do Global Media Group no momento mais crítico para o jornalismo em democracia, que coincidiu com a luta pela própria vida. Até ao último dia, Pedro Cruz escreveu a sua habitual crónica para o DN - e isso emociona-me profundamente e merece respeito. Perdoem-me os leitores pelas considerações pessoais, mas não se fala da morte de alguém que tinha uma força tão incrível sem se cair numa introspeção. Recordo também, por último, um Pedro muito humano, bem-disposto e divertido, com um sorriso pronto e uma palavra amiga. Ficarei sempre com a imagem do último abraço que demos, que agora será eterno. Obrigado, Pedro, e um forte abraço à família enlutada (leia também o obituário).

2 - A escola pública tem uma característica que nunca se deveria perder, que é a capacidade de promover maior sucesso escolar dos alunos de meios socioeconómicos mais desfavorecidos quando estes se integram com outros que pertencem a meios mais favorecidos. E assim se combate também a segregação social, combatem-se ideologias xenófobas e racistas. O Estado não pode provocar desigualdades sociais, mas é a isso que leva o desinvestimento na educação, o descontentamento de professores, incompreendidos pelo seu papel na construção do futuro (e a falta de interesse dos universitários em seguir a via de ensino), e o descrédito dos pais, que já não sabem quantos furos no horário terão os filhos em aulas essenciais para a sua aprendizagem.

“A instabilidade da escola pública, principalmente no que se refere à falta de professores, tem um peso relevante nas opções das famílias. Acreditamos que este ano possa haver um aumento da procura, mas ainda é cedo para ter dados concretos”, explica ao DN, nesta edição, Rodrigo Queiroz de Melo, diretor-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo. “Há mais famílias a fazer um esforço para ter os filhos no privado e em muitos casos com a ajuda dos avós.” São cada vez mais as famílias de classe média baixa a pensar nesta opção.

A falta de professores em algumas disciplinas, as más condições físicas de muitas escolas, a sobrelotação nas grandes metrópoles e o sentimento de insegurança por falta de profissionais que acompanhem os alunos nos recreios são motivos que levam alguns pais a procurar uma alternativa para os filhos nos colégios. O ensino privado sempre existiu - e bem -, até porque numa sociedade democrática as famílias têm liberdade de fazer escolhas. Não sejamos é hipócritas, porque a escolha entre a escola pública e os colégios é uma prerrogativa dos mais privilegiados. É, por isso, mais uma razão para o Estado investir na qualidade do ensino que está à sua responsabilidade, dar condições de trabalho aos profissionais e dar confiança a todos os pais, independentemente das condições socioeconómicas, na escola pública.

Ao passo que o Estado desinveste no ensino, o dilema dos pais aumenta em relação às oportunidades de futuro que a escola pública permite alcançar. Este é, depois, o país que entrega para a emigração os jovens mais qualificados de sempre. O que dá que pensar: será este o país onde os políticos querem investir no futuro dos alunos?

QOSHE - Em memória de Pedro Cruz - Bruno Contreiras Mateus
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Em memória de Pedro Cruz

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22.04.2024

1 - A triste notícia da morte do jornalista Pedro Cruz, antigo diretor-executivo da TSF, move-me hoje a recordá-lo pela firmeza das suas convicções, pelo espírito de missão jornalística inabalável e de abnegação, lutando connosco pelo futuro do Global Media Group no momento mais crítico para o jornalismo em democracia, que coincidiu com a luta pela própria vida. Até ao último dia, Pedro Cruz escreveu a sua habitual crónica para o DN - e isso emociona-me profundamente e merece respeito. Perdoem-me os leitores pelas considerações pessoais, mas não se fala da morte de alguém que tinha uma força tão incrível sem se cair numa introspeção. Recordo também, por último, um Pedro muito humano, bem-disposto e divertido, com um sorriso pronto e uma palavra amiga. Ficarei sempre com a imagem do último abraço que demos, que agora será eterno. Obrigado,........

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