Theresa LePore, antiga supervisora eleitoral de Palm Beach, na Florida, criou o controverso boletim de voto usado em 2001, cujo mau design, segundo o que se leu após as eleições americanas, pode ter custado a presidência a Al Gore.

O boletim foi pensado para a população envelhecida daquela região, o que originou um boletim em ziguezague. Ora com este ziguezague informacional, a validação estava ao centro e as colunas laterais identificavam o candidato em que se pretendia votar. O que sucedeu foi que Al Gore aparecia na segunda posição, por debaixo de Bush, mas na verdade o segundo furo do boletim correspondia ao primeiro candidato da coluna da direita. Este erro foi percecionado após as eleições, porque numa das maiores comunidades judaicas da Florida, o maior número de votos foi para Pat Buchannan, que é um conservador que se opõe à imigração e à multiculturalidade.

Pois bem, o que é facto é que muito, mas muito provavelmente aquele papelito americano do início do milénio pode ter contribuído (e muito!) para a mudança que sentimos quando os Estados Unidos se viraram para George W. Bush.

Em 2024 a coisa não mudou muito. Continuamos a desprezar o poder do design, e mais em particular do design gráfico. Veja-se o que aconteceu nas nossas eleições legislativas do passado dia 10 de março. O boletim não elegeu um candidato inesperado, mas pode ter roubado 3 lugares a Luís Montenegro, um por Lisboa, outro por Coimbra e ainda outro por Viseu.

Todos nós nos perguntamos, como é que a Alternativa Democrática Nacional “roubou” estes três lugares à Aliança Democrática? Eu pergunto se não terá sido uma falácia do design gráfico que tirou estes assentos a Montenegro.

A inconsistência visual é visível, pois atiram-se partidos para o boletim em maiúsculas e outros em minúsculas, usa-se por exemplo uma sigla visual durante toda a campanha (AD) e depois esta é substituída por uma designação por extenso com uma alusão visual, não à sigla utilizada, mas sim à coligação de três partidos. Pergunto ainda porque temos os partidos “A” em cima, os “R” pelo meio e os “C” no fim do boletim. Qual o critério?

Votar! Escolher quem nos representa é uma coisa séria! Votar é uma experiência, que começa no primeiro dia de campanha, e termina no momento em que colocamos um “X” naquele símbolo que queremos que nos represente.

O design pode ajudar. O design pode fazer com que um candidato ganhe, ou perca!, como se viu no exemplo americano do início deste texto.

Devolvam o design aos designers, e acreditem que não é assim tão difícil fazer isto bem!

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O poder do (design num) boletim de voto!

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13.03.2024

Theresa LePore, antiga supervisora eleitoral de Palm Beach, na Florida, criou o controverso boletim de voto usado em 2001, cujo mau design, segundo o que se leu após as eleições americanas, pode ter custado a presidência a Al Gore.

O boletim foi pensado para a população envelhecida daquela região, o que originou um boletim em ziguezague. Ora com este ziguezague informacional, a validação estava ao centro e as colunas laterais identificavam o candidato em que se pretendia votar. O que sucedeu foi que Al Gore aparecia na segunda posição, por debaixo de Bush, mas na verdade o segundo furo do boletim correspondia ao primeiro candidato da coluna da direita.........

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