Carla Zambelli, deputada mais bolsonarista do que Bolsonaro, contratou no ano passado os serviços de um hacker para invadir os computadores de Alexandre de Moraes, o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) perseguido pela Extrema-Direita por defender o sistema brasileiro de voto eletrónico, e encontrar algo que o incriminasse.

Pediu-lhe também para adulterar uma urna para mostrar vulnerabilidades do sistema de votação e, assim, permitir a Bolsonaro contestar as eleições em caso de derrota para Lula.

Como ela e o hacker foram, além de malsucedidos, apanhados pela polícia, a trama teve efeito bumerangue, agora, surgem a conta-gotas provas, por escrito e em áudio, contra a parlamentar. Numa gravação divulgada pelo portal G1 no dia 23 de outubro, por exemplo, Zambelli pede, impaciente, para o hacker descobrir a morada particular de Moraes.

Assustada com a repercussão da insistência suspeita em saber onde morava um juiz jurado de morte pelo bolsonarismo, a parlamentar saiu-se com esta: "Era para a minha mãe! A minha mãe tinha escrito uma carta para o Alexandre de Moraes e queria entregá-la. Eu disse para não mandarmos para o STF e ela disse que o certo era enviar para a casa dele".

Por que razão o bolsonarismo, mesmo derrotado há mais de um ano, segue na mira de todos os articulistas, deixando para segundo plano as eventuais asneiras produzidas pelo Governo Lula? Por causa destas aldrabices e de outras.

Vamos a outras.

Dois dias após os atos de vandalismo de 8 de janeiro em Brasília, o derrotado Bolsonaro ainda publicava vídeos nas redes sociais a contestar o resultado eleitoral com base em notícias falsas. Confrontado pela polícia com as acusações de "associação criminosa" e "tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito", o ex-presidente disse em interrogatório que fez aquela publicação "sob o efeito de remédios".

O último ministro da Justiça de Bolsonaro tornou-se, após a derrota, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Era a Anderson Torres, portanto, que competia garantir a segurança em Brasília no 8 de janeiro. Mas enquanto a Praça dos Três Poderes ardia aos olhos do mundo, o secretário, cúmplice do crime, estava a curtir a Disneyworld. No regresso, foi intimado a entregar o telemóvel à polícia. "Na correria para voltar ao Brasil, perdi-o nos EUA...", declarou.

Eduardo Bolsonaro, filho 03 de Bolsonaro, não perdeu tempo após a derrota: lançou a Bolsonaro Store e começou a vender canecas de cerveja com motivos bolsonaristas, por apenas 69,90 reais, tábua de madeira, por 109,90, calendários com uma fotografia do pai, em tronco nu, para se ver a cicatriz do atentado à faca, por 49,90 reais, cadernos, carteiras, chaveiros. Alvo de chacota até de bolsonaristas, jurou que o lucro serviria "para ajudar a cumprir atividades extraparlamentares", sem especificar quais.

As desculpas esfarrapadas do bolsonarismo - a mentira, assim como a estupidez, é um dos pilares do movimento - não nasceram, no entanto, após a derrota do ano passado. O deputado bolsonarista Chico Rodrigues, ao ser apanhado pela Polícia Federal em outubro de 2020 com 30 mil reais destinados ao combate à pandemia escondido nas cuecas, argumentou que tinha acabado de guardar o dinheiro ali para "pagar aos funcionários".

Jornalista, correspondente em São Paulo

QOSHE - Por estas e por outras - João Almeida Moreira
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Por estas e por outras

5 11
02.11.2023

Carla Zambelli, deputada mais bolsonarista do que Bolsonaro, contratou no ano passado os serviços de um hacker para invadir os computadores de Alexandre de Moraes, o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) perseguido pela Extrema-Direita por defender o sistema brasileiro de voto eletrónico, e encontrar algo que o incriminasse.

Pediu-lhe também para adulterar uma urna para mostrar vulnerabilidades do sistema de votação e, assim, permitir a Bolsonaro contestar as eleições em caso de derrota para Lula.

Como ela e o hacker foram, além de malsucedidos, apanhados pela polícia, a trama teve efeito bumerangue, agora, surgem a conta-gotas provas, por escrito e em áudio, contra a parlamentar. Numa gravação divulgada pelo portal G1 no dia 23 de outubro, por exemplo, Zambelli pede, impaciente, para o hacker descobrir a morada particular........

© Diário de Notícias


Get it on Google Play