De acordo com a AIE, no seu World Energy Outlook 2023, a procura de energia nos transportes aumentou 4% em 2022, representando o petróleo 90% deste crescimento (se bem que impulsionado principalmente pela aviação). A utilização de petróleo no transporte rodoviário é responsável por 45% da procura mundial de petróleo. Atualmente totaliza 41 milhões de barris/dia (mb/d), com os automóveis a representarem 21mb/d e os camiões 16mb/d.
Ainda de acordo com a AIE, as vendas de carros com motor de combustão interna usando combustíveis fósseis (ICEV) cresceram em média 3,4%/ano de 2010 a 2017, atingindo um pico de 85 milhões em 2017. As vendas de veículos elétricos (EV) aumentaram de 3 milhões em 2020 para >10 milhões em 2022 - 14% de todos os carros novos vendidos em 2022, contra 9% em 2021 e 15% em 2022) e os EUA (as vendas de EV cresceram >8% em 2022). Até 2030, as vendas totais de automóveis deverão aumentar >30%, atingindo 100 milhões. Cerca de 2/3 deste valor provém de mercados emergentes e de economias em desenvolvimento, em especial da China, da Índia e da Indonésia. Para a AIE, o aumento dos EV significa que as vendas de carros ICEV não deverá voltar ao pico de 2017. O Boston Consulting Group (e a BloombergNEF) não perfilha esta previsão e sublinha múltiplas incertezas (com influência nas projeções de vendas de EV): (i) aumento dos preços das baterias; (ii) aumento dos custos da eletricidade; (iii) mudanças nos incentivos governamentais; (iv) insuficientes garantias de fornecimento de matérias- -primas para as baterias; (v) insuficiente oferta de metais essenciais a preços estáveis. Podemos acrescentar ainda: (vi) o limitado número de EV produzidos; (vii) problemas com os sistemas de carregamento de alta capacidade; e (viii) o [ainda elevado] custo dos EV, sobretudo em países de baixos rendimentos.
A redução de combustíveis fósseis no transporte rodoviário está a ser, e deverá continuar a ser, bem mais lenta que o wishful thinking subjacente ao cenário net-zero em 2050.
Os "incentivos" para a mudança de ICEV para EV passam por aumentos dos impostos sobre os ICEV (como o IUC), por taxas verdes, em cima de [irrealistas] datas-limite de proibição de venda de ICEV novos. Estes "incentivos" penalizadores para ICEV, pressupõem que os avanços tecnológicos farão os EV ser competitivos. Ora, as baterias para EV continuam caras (e enormes, pesadas), a maioria dos EV não tem grande autonomia e os sistemas de carregamento de alta capacidade têm problemas. O preço [caro] dos EV e o baixo rendimento disponível da larga maioria das famílias (em especial nos países em desenvolvimento) farão abrandar o ritmo de compra de novos EV.
Do mesmo passo, o controlo da oferta de petróleo pela OPEP+ deverá manter altos os preços dos combustíveis. Se novas taxas verdes fizerem os preços dos combustíveis subir significativamente (ex: 3€/litro), haverá motins. Conceder apoios financeiros generosos às famílias e empresas para substituição de ICEV por EV só está ao alcance de poucos países (ex: Noruega).O mais provável é os Governos continuarem a definir políticas prudentes no pressuposto da continuidade a longo prazo de ICEV. Em suma, a redução de combustíveis fósseis no transporte rodoviário está a ser, e deverá continuar a ser, bem mais lenta que o wishful thinking subjacente ao cenário net-zero em 2050.
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