As exportações diretas da China para a Rússia aumentaram bastante após o início da guerra na Ucrânia (+64,2% desde 2021, dos quais +46,9% em 2023). As exportações da Turquia seguiram o mesmo rumo (mais até, em termos percentuais). O mesmo sucedeu com as exportações indiretas da China para a Rússia, através da Ásia Central, que também cresceram significativamente (provavelmente para poder negar exportações de bens questionáveis). Estas exportações facilitam a mudança da Rússia para uma economia de guerra, fornecendo-lhe bens civis que permitem à Rússia deixar de os produzir, afetando recursos à produção de armamento. Estes aumentos de exportações diretas da China e da Turquia compensam a queda nas importações russas diretas da Europa, decorrentes de sanções e controlos às exportações impostos pela UE.

Curiosamente, embora as exportações europeias diretas para a Rússia tenham diminuído, as exportações indiretas aumentaram. Comecemos pelos países bálticos, os mais estrénuos defensores de apoio incondicional à Ucrânia na guerra iniciada pela invasão da Federação Russa. As exportações da Letónia em 2022 mostram um aumento significativo em relação a países da ex-URSS - duplicaram com destino ao Cazaquistão, e triplicaram com destino ao Quirguistão. Esta tendência tem aumentado - em [nov] 2023 as exportações letãs de máquinas e equipamentos elétricos para o Quirguistão haviam aumentado 3100% (!) em relação ao período pré-guerra. Em 2022, as exportações da Lituânia para o Cazaquistão duplicaram em relação ao ano anterior, tendo as com destino ao Quirguistão aumentado 9x (!). No caso da Estónia, além da mesma tendência, acresce o facto de uma empresa do marido da primeira-ministra ter continuado a fazer negócios com empresas na Rússia.

Podia pensar-se que tal decorre de ainda existirem ligações entre empresas bálticas e russas provindas de outros tempos e de populações russófonas nos países do Báltico. Porém, também as empresas da Chéquia e da Polónia - ambas sem populações russófonas - aumentaram exponencialmente (c. 1900% desde o início da guerra) as suas vendas para o Quirguistão. Existem exceções (ex: a Finlândia). Mas na principal economia europeia - a Alemanha - o panorama não é diferente. Em 2022, as exportações alemãs para o Quirguistão sextuplicaram (as de automóveis e seus componentes aumentaram 5500% (!) em relação ao período pré-guerra), duplicaram para o Uzbequistão e aumentaram 76% para o Cazaquistão (o aumento é >€1000 milhões). Esta tendência de empresas alemãs exportarem para a Rússia via terceiros países (também Arménia, Geórgia, Azerbaijão e Turquia) manteve-se em 2023.

Em 2022, as exportações da Ásia Central para a Rússia aumentaram 30%. O Uzbequistão aumentou as exportações para a Rússia em >50%, o Cazaquistão em 25%, e o Quirguistão em 250%. Em 2023, esta tendência deve ter-se acentuado. E não se está a contabilizar as exportações “subterrâneas”.

As exportações diretas da UE para a Rússia caíram -€4000 milhões em março de 2022. Mas as exportações da UE para a Ásia Central aumentaram +€1000 milhões/mês desde então. Enquanto a UE não puser cobro a este novo caminho das pedras das empresas europeias para o mercado russo, ninguém acreditará no seu empenhamento político em relação à Ucrânia.




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Exportações para a Rússia pela porta do cavalo

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17.01.2024

As exportações diretas da China para a Rússia aumentaram bastante após o início da guerra na Ucrânia ( 64,2% desde 2021, dos quais 46,9% em 2023). As exportações da Turquia seguiram o mesmo rumo (mais até, em termos percentuais). O mesmo sucedeu com as exportações indiretas da China para a Rússia, através da Ásia Central, que também cresceram significativamente (provavelmente para poder negar exportações de bens questionáveis). Estas exportações facilitam a mudança da Rússia para uma economia de guerra, fornecendo-lhe bens civis que permitem à Rússia deixar de os produzir, afetando recursos à produção de armamento. Estes aumentos de exportações diretas da China e da Turquia compensam a queda nas importações russas diretas da Europa, decorrentes de sanções e controlos às exportações impostos pela UE.

Curiosamente, embora as exportações europeias........

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