De acordo com o INE da China, em 2023 o PIB chinês cresceu 5,2%, tendo superado a previsão do Governo de c. 5% (3% em 2022). No 4.º trimestre de 2023 a taxa de crescimento também foi de 5,2% a/a, superior aos 4,9% a/a do trimestre anterior.

Existem vários dados positivos: (i) diminuição do desemprego jovem [de 21%] para 14,9%; (ii) manutenção de uma baixa taxa de desemprego global (5,2%); (iii) vendas de consumo no retalho cresceram 7,2%; (iv) crescimento de 4,6% da produção industrial (boa recuperação no setor manufatureiro); (v) crescimento de 5,8% no setor de serviços (com ênfase no alojamento hoteleiro e em serviços de TI); (vi) investimento [público] em infraestrutura aumentou 5,9%; (vii) estabilidade nos preços ao consumidor (+0,2%).

Como dados negativos, temos: (i) manutenção de instabilidade no setor imobiliário, com preços em queda, diminuição - para 6,5% - na venda de novas casas (26,7% em 2022), desaceleração da construção, insolvência de grandes promotores imobiliários, e o setor ainda longe do termo do processo de reestruturação; (ii) despesa pública limitada pelo peso da dívida local; (iii) diminuição (-0,4%) do investimento privado (embora, se se excluísse o desenvolvimento imobiliário, o investimento privado teria crescido 9,2% [10,3% nas indústrias de alta tecnologia]); (iv) queda do IDE na China; (v) continuação da venda, por fundos estrangeiros, de ações em bolsas chinesas; (vi) redução do superavit da balança comercial; (vi) FBCF cresceu apenas 3% (5,1% em 2022), sustentado por despesas em infraestruturas e nas indústrias transformadoras; (vii) estagnação do valor das exportações e das importações da China (com boa recuperação no Q4).

O Governo diz que este crescimento de 5,2% do PIB foi alcançado sem estímulos massivos; mas estímulos houve, como a utilização no Q4 2023 de metade dos fundos levantados com obrigações emitidas pelo Governo Central no valor total de 1 bilião de yuans (129 mil milhões de euros) para financiar projetos de recuperação de desastres naturais. Em conformidade, dados citados pela Bloomberg e pelo NIFD mostram que, em 2023, o rácio dívida/PIB da China aumentou para 286,1% do PIB (+14%).

O crescimento do PIB avançado pelo INE chinês é questionado por entidades credíveis, como o Rhodium Group - que considera que o crescimento da economia chinesa não deve ter sido superior a 1,5% - e a Capital Economics - cujo China Activity Proxy sugere que Pequim tem sobreavaliado o seu PIB desde o início de 2022 -, tendo essas questões sido objeto de artigos de especialistas na Bloomberg e no Financial Times.

A pouca confiança nos números oficiais é provavelmente o que está subjacente ao estranho fenómeno de o anúncio de um crescimento do PIB de 5,2% não ter travado, antes ter acentuado, uma queda significativa no valor das ações nos mercados bolsistas da China, incluindo em Hong Kong.

A relevância global da economia chinesa é enorme. Não deve haver margem para dúvidas quanto aos seus principais indicadores económicos. O Governo chinês necessita de atuar com vista a evitar esta discrepância entre os números oficiais e a perceção dos investidores e analistas. A sabedoria tradicional chinesa (cfr. Os Analectos) ensina que “se o povo não tem confiança, o Governo não sobrevive.”


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PIB da China cresce 5,2%, ações caem nas bolsas de valores

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24.01.2024

De acordo com o INE da China, em 2023 o PIB chinês cresceu 5,2%, tendo superado a previsão do Governo de c. 5% (3% em 2022). No 4.º trimestre de 2023 a taxa de crescimento também foi de 5,2% a/a, superior aos 4,9% a/a do trimestre anterior.

Existem vários dados positivos: (i) diminuição do desemprego jovem [de 21%] para 14,9%; (ii) manutenção de uma baixa taxa de desemprego global (5,2%); (iii) vendas de consumo no retalho cresceram 7,2%; (iv) crescimento de 4,6% da produção industrial (boa recuperação no setor manufatureiro); (v) crescimento de 5,8% no setor de serviços (com ênfase no alojamento hoteleiro e em serviços de TI); (vi) investimento [público] em infraestrutura aumentou 5,9%; (vii) estabilidade nos preços ao consumidor ( 0,2%).

Como dados negativos, temos: (i) manutenção de instabilidade no setor imobiliário, com preços em queda, diminuição - para 6,5% - na........

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