O progresso das nossas sociedades modernas depende de um elevado número de metais críticos (obtidos através do processamento químico de minérios), essenciais na produção de uma miríade de bens utilizados nas energias renováveis e no equipamento médico, em semicondutores e em baterias elétricas, na Defesa e no aeroespacial, na produção de aço e alumínio, magnetes permanentes e eletrónica, lasers e fibra ótica. Os EUA e a UE fizeram listas oficiais dos minérios e metais críticos. A UE concluiu uma Lei Europeia das Matérias-Primas Críticas, na qual uma das prioridades assumidas [a atingir até 2030] consiste em assegurar 10% das necessidades anuais de extração na UE (e 40% para processamento e 15% para reciclagem).

Para efeitos da produção de tecnologias energéticas limpas, um relatório de 2020 do Banco Mundial projetava que, para satisfazer a procura crescente, haverá necessidade de um aumento de 500% na produção de grafite, cobalto e lítio até 2050. Em 2022, uma estimativa da S&P previa que 700 milhões de toneladas métricas de cobre serão necessárias nos próximos 22 anos para atingir as metas de desenvolvimento sustentável (equivalente ao extraído nos últimos 5000 anos). O The Economist calculava (de acordo o UK Energy Transitions Committee) que, para o mundo descarbonizar, precisará de 6,5 mil milhões de toneladas de metais até 2050; e não apenas lítio, cobalto e níquel (os metais das baterias elétricas), mas também alumínio, aço e cobre. Outras projeções mostram ainda que mais de 300 novas minas extraindo minerais críticos serão necessárias até 2030 para evitar uma rutura na oferta.

Porém, quando é necessário que as empresas mineradoras invistam mais (e rapidamente), assistimos a uma retração no investimento de muitas dessas empresas; a maior mineradora do mundo, a BHP, investiu em 2023 menos de metade do que investia há uma década. As razões são várias: (i) volatilidade dos mercados; (ii) diminuição séria do rácio das despesas de capital em relação às receitas; (iii) problemas nas cadeias de fornecimento; (iv) períodos cada vez mais longos desde a prospeção até à produção dos minérios; (v) crescente taxação das concessões destes minérios; (vi) aumento dos “custos de contexto”, nomeadamente a burocracia governamental. Razões pelas quais, segundo o World Economic Forum (num White Paper de dezembro de 2023), “de acordo com as projeções atuais, a oferta de matérias-primas deverá [em 2030] ser insuficiente face à crescente procura”.

Em suma, a transição para energias verdes e para um desenvolvimento sustentável exige metais críticos em enorme quantidade, o que implica aumentar significativamente a sua mineração. Impossibilitar essa exploração mineira na Europa (de forma regulada e associada a etapas do seu processamento a jusante na cadeia de valor para assegurar a viabilidade económica e criar valor acrescentado), para além de aumentar a dependência europeia, significa transferi-la para países em desenvolvimento, não raro associada a graves problemas ambientais, sociais ou de violação de Direitos Humanos. O ativismo ambientalista europeu, de radical oposição a explorações mineiras na Europa, é não apenas euro-egocêntrico, mas uma nova face do velho desprezo das elites europeias pelos “países com moscas”.


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Transição energética e desenvolvimento sustentável, só com elevada mineração

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20.03.2024

O progresso das nossas sociedades modernas depende de um elevado número de metais críticos (obtidos através do processamento químico de minérios), essenciais na produção de uma miríade de bens utilizados nas energias renováveis e no equipamento médico, em semicondutores e em baterias elétricas, na Defesa e no aeroespacial, na produção de aço e alumínio, magnetes permanentes e eletrónica, lasers e fibra ótica. Os EUA e a UE fizeram listas oficiais dos minérios e metais críticos. A UE concluiu uma Lei Europeia das Matérias-Primas Críticas, na qual uma das prioridades assumidas [a atingir até 2030] consiste em assegurar 10% das necessidades anuais de extração na UE (e 40% para processamento e 15% para reciclagem).

Para efeitos da produção de tecnologias energéticas limpas, um relatório........

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