Após mais uma comemoração do 5 de Outubro, em que o edil da capital se olvidou do "Viva a República" no final do seu discurso, Carlos Moedas decidiu cavar ainda mais o fosso ideológico entre portugueses e ele próprio - enquanto como homem "moderado" e "sensato" que aparenta ser. Em vez de unir as pessoas em torno do que é mais forte, decidiu trazer como grande mote as comemorações do 25 de novembro.

Para o PS, força política que em 75 venceu as eleições democráticas, tendo levado a cabo o 25 de novembro e nunca tendo alterado a sua posição (a da defesa da democracia e da liberdade), este anúncio soou a algo requentado.

Uma clarificação importante: ao contrário do que a máquina de propaganda de Moedas fez crer, esta não foi a primeira vez que a Câmara de Lisboa comemorou o 25 de novembro. Para quem tem boa memória, em 2015, Fernando Medina descerrou uma placa de "Homenagem do povo de Lisboa aos militares e políticos que que em 25 de novembro de 1975 lutaram pela consolidação de um Portugal democrático, pluralista e livre".

Relembra-se ainda que a referida placa está localizada na Calçada da Ajuda, junto ao Regimento de Lanceiros n.º 2 do Exército português. Para além desse reconhecimento, fez ainda parte da comemoração uma exposição na via pública intitulada "Revolução e Democracia - do 25 de abril ao 25 de novembro".

Agora que está esclarecido o primeiro mal-entendido dos últimos dias, muito se tem falado da necessidade de moderação. Talvez valha a pena enquadrar e perceber as razões, uma vez que o tema é deveras relevante.

Tudo começou quando as forças minoritárias que sustentam o Executivo Municipal de Lisboa, na Assembleia Municipal, tentaram fazer passar um voto de comemoração do 25 de novembro. Como é sabido, trata-se de um momento de antagonismo na comunidade em que vivemos, contrariando o que se defende habitualmente como "moderação".

Aliás, já em 2015 Fernando Medina havia dito, como eu próprio este ano, que "está no momento de deixarmos de ver determinados tipos de eventos como propriedade deste ou daquele, ou pior, como uns contra os outros."

Portugal e os portugueses não precisam de quem proceda a ajustes de contas com a história. Esse modelo de ação apenas opõe portugueses contra portugueses. O nosso país não privilegia quem se apouque ou se tente valorizar desvalorizando os restantes.

A vida real dos portugueses não se deve resumir a uma ou duas narrativas da Disney, ou a um reconhecimento de incompetência ou incapacidade, que qualquer um dos destinatários dessas histórias percebe e já sabe há muito.

Este fim-de-semana ouviu-se muito ruído vindo da margem sul do Tejo, cujo eco pode relevar o exemplo preconizado por Frei Tomás: faz como ele diz e não faças como ele faz. Efetivamente, de Almada não se testemunhou qualquer moderação.

No que se refere a propostas alternativas, nada que já não se esperasse: supostamente, umas boas e outras novas, mas é pena que as novas não sejam boas e as boas não sejam novas.

Assim, o novembro de 2023 ficará manchado pelos falsos moderados que atacaram e rotularam de radicais o partido fundador da democracia.

Entretanto, e porque não poderia deixar de ser, fica o repto: tal como foi tão bem-vinda a presença de alguns no 25 de novembro, conseguirá Carlos Moedas descer a Avenida no 25 de abril? Lá o esperarei num dos dias maiores de Portugal, o dia da Liberdade.

Advogado, presidente da Assembleia da Freguesia de Marvila (PS)

QOSHE - Novembro 2023, versão 2.0 - Manuel Portugal Lage
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Novembro 2023, versão 2.0

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27.11.2023

Após mais uma comemoração do 5 de Outubro, em que o edil da capital se olvidou do "Viva a República" no final do seu discurso, Carlos Moedas decidiu cavar ainda mais o fosso ideológico entre portugueses e ele próprio - enquanto como homem "moderado" e "sensato" que aparenta ser. Em vez de unir as pessoas em torno do que é mais forte, decidiu trazer como grande mote as comemorações do 25 de novembro.

Para o PS, força política que em 75 venceu as eleições democráticas, tendo levado a cabo o 25 de novembro e nunca tendo alterado a sua posição (a da defesa da democracia e da liberdade), este anúncio soou a algo requentado.

Uma clarificação importante: ao contrário do que a máquina de propaganda de Moedas fez crer, esta não foi a primeira vez que a Câmara de Lisboa comemorou o 25 de novembro. Para quem tem boa memória, em 2015, Fernando Medina descerrou........

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