O consulado de António Costa no PS e no Governo juntou resultados desastrados, ao maquiavelismo no trajeto e acabou numa crise política que foi notícia no mundo inteiro, custando caro à credibilidade de Portugal. 8 anos de condições externas razoavelmente favoráveis foram imperdoavelmente desperdiçados.

Se virmos as coisas com a frieza implacável com que o secretário-geral do PS e primeiro-ministro se comportou ao longo de todo este tempo, percebemos que António Costa ascendeu à liderança do partido tirando a cadeira a António José Seguro, que tinha acabado de vencer as eleições europeias, governou apesar de ter perdido as legislativas em 2015, negociando uma geringonça com a extrema-esquerda a que o PS tinha sido sempre fronteira e sai agora por razões judiciais e pela porta pequena, sacrificando numa declaração pública ao país o melhor amigo e o chefe de gabinete que livremente escolheu, deixando sobre os ombros de ambos as maiores suspeitas, no exato momento em que os advogados se desdobravam em justificações e o juiz que os inquiria ainda não tinha decidido medidas de coação. É obra.

António Costa tem de se presumir inocente e isso deve ser sublinhado. Mas se a judicialização da política não é aceitável, o mesmo se passa com a politização da Justiça. Infelizmente, foi exatamente o que aconteceu quando se permitiu utilizar o cargo e a residência oficial para a defesa pessoal numa investigação criminal. Aquilo a que se assistiu, dois dias depois da decisão do Presidente da República convocar eleições antecipadas e em cima das inquirições judiciais, não é aceitável.

Ao longo de toda a vida política, António Costa argumentou com o jargão "à Justiça o que é da Justiça e à política o que é da política", para se furtar a respostas sobre processos envolvendo companheiros de percurso no partido e no Governo. Mas na primeira oportunidade, violou lamentavelmente e relativamente a si, o critério que aplicou aos outros.

Simultaneamente, o primeiro-ministro desperdiçou a oportunidade de fazer aquilo que os portugueses realmente esperavam: demitir João Galamba, fazendo cessar o principal foco de censura que persiste no Governo, e garantindo que o espetáculo deplorável vivido há dias na Assembleia da República, degradando a credibilidade das instituições democráticas, não se repetiria.

O rasto que fica deste triste ciclo pode ser medido em 14 substituições de governantes em perto de 2 anos.

Também a este propósito, António Costa revela a sua natureza. Quando o Presidente da República considerou o ministro do Ambiente e das Infraestruturas responsável por "situações rocambolescas, muito bizarras, inadmissíveis ou deploráveis", optou por manter João Galamba no cargo, afrontando Marcelo Rebelo de Sousa. Quando teve de decidir o membro do Governo que encerraria a discussão do Orçamento do Estado, escolheu João Galamba, provocando premeditadamente o Presidente da República. E mantendo agora João Galamba no cargo, apesar de ser o rosto mais expressivo da crise política, pretende vingar-se do Presidente da República.

Aqui chegados, Marcelo Rebelo de Sousa deveria tomar todas as medidas necessárias para que os próximos meses de exercício da governação não pudessem ser instrumentalizados em função de motivações pessoais ou partidárias, de António Costa e do PS.

Para lá dos aspetos de comportamento, o rasto que fica deste triste ciclo pode ser medido em 14 substituições de governantes em perto de 2 anos, valores-recorde de dívida em valor absoluto, despesa pública e de carga fiscal, mesmo sobre pessoas com poucos rendimentos, o descalabro nos principais serviços públicos, particularmente na Saúde, Educação e Justiça, o desperdício de fundos comunitários e os fracassos em políticas essenciais, com exemplos na Habitação, Transportes e Agricultura.

É altura de virar a página e mudar de ciclo. O CDS-PP é uma direita que soma e saberá estar à altura dos desafios. É tempo de construir.

Presidente do CDS/PP

QOSHE - 8 anos desperdiçados - Nuno Melo
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8 anos desperdiçados

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14.11.2023

O consulado de António Costa no PS e no Governo juntou resultados desastrados, ao maquiavelismo no trajeto e acabou numa crise política que foi notícia no mundo inteiro, custando caro à credibilidade de Portugal. 8 anos de condições externas razoavelmente favoráveis foram imperdoavelmente desperdiçados.

Se virmos as coisas com a frieza implacável com que o secretário-geral do PS e primeiro-ministro se comportou ao longo de todo este tempo, percebemos que António Costa ascendeu à liderança do partido tirando a cadeira a António José Seguro, que tinha acabado de vencer as eleições europeias, governou apesar de ter perdido as legislativas em 2015, negociando uma geringonça com a extrema-esquerda a que o PS tinha sido sempre fronteira e sai agora por razões judiciais e pela porta pequena, sacrificando numa declaração pública ao país o melhor amigo e o chefe de gabinete que livremente escolheu, deixando sobre os ombros de ambos as maiores suspeitas, no exato momento em que os advogados se........

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